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Petróleo: 2016, o ano da OPEP

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo é tida como a grande "figura" de 2016, na sequência do acordo dos seus membros para um corte de produção de 1,2 milhões de barris por dia a partir de Janeiro do próximo ano.

Ramzi Boudina/Reuters
30 de Dezembro de 2016 às 19:00
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2016 completou o pódio de um ciclo de três anos de forte volatilidade nos preços do petróleo, já que a maioria dos analistas estima que 2017 seja um ano muito mais calmo - à conta da redução da oferta por parte de grandes produtores.

Apesar da volatilidade, as recentes valorizações levaram o petróleo a esquecer os maus dias dos primeiros meses de 2016, terminando assim com o primeiro saldo anual positivo em quatro anos e com a maior subida anual desde 2009. 

 

O Brent do Mar do Norte, que serve de referência às importações europeias e é negociado no mercado londrino, passou de um mínimo do ano nos 27,10 dólares a 20 de Janeiro para 56,62 dólares actualmente, tendo acumulado um ganho de 51,87% nos 12 meses.

 

Já o West Texas Intermediate, "benchmark" dos EUA que é negociado no mercado nova-iorquino, passou de um mínimo de 26,05 dólares a 11 de Fevereiro para 53,53 dólares nesta última sessão do ano – com uma valorização agregada de 44,70%.

 

Pressionado constantemente pelo aumento dos inventários de crude, num contexto de excesso da oferta a nível mundial, o chamado "ouro negro" viveu sessões de fortes quedas, sobretudo na primeira metade do ano.

 

A contrabalançar este mau desempenho da matéria-prima estiveram os riscos geopolíticos, uma vez que a produção está concentrada num pequeno número de países, muitos deles instáveis, como sublinha a Bloomberg. Com efeito, os tumultos internos e conflitos observados na Nigéria, Líbia e Venezuela perturbaram as suas exportações de crude este ano, o que ajudou a amparar o golpe do aumento das reservas noutras regiões e do crescimento contínuo da oferta.

 

Mas o que veio alterar todo o panorama – e numa altura em que o regresso do Irão ao mercado exportador estava a intensificar os receios de uma inundação da oferta – foi a decisão da OPEP no sentido de reduzir a sua produção.

 

No dia 28 de Setembro, em Argel, os membros do cartel comprometeram-se a cortar a oferta, o que fez com que a matéria-prima valorizasse de imediato. Mas o optimismo deu lugar à prudência e os investidores queriam mais provas, uma vez que essa redução não estava quantificada.

 

E então, a 30 de Novembro, em nova reunião da OPEP – desta vez em Viena – ficou decidido que a produção de crude seria cortada em 1,2 milhões de barris por dia a partir de Janeiro de 2017. A efectivação do compromisso assumido a 28 de Setembro deixou os mercados eufóricos, com a matéria-prima a disparar mais de 8% em Londres e Nova Iorque, para níveis que não se viam desde Fevereiro.

 

Logo no fim-se-semana seguinte, 11 produtores de fora do cartel assumiram o mesmo objectivo – estando a redução destes prevista em 600.000 barris diários (com a Rússia a assumir metade dessa meta). Assim, partir do próximo mês será retirado um total diário de 1,8 milhões de barris do mercado. 

O mote estava dado e o mercado tem estado optimista desde então, acreditando que estas quotas agora definidas não vão ser contornadas - uma convicção importante, dado que a OPEP tem por costume superar constantemente os tectos de produção estabelecidos. 

Produção, preços e quota de mercado

Uma vez que o cartel é responsável por cerca de 40% do petróleo produzido a nível mundial, quanto mais "ouro negro" faz jorrar no mercado, maior é a pressão baixista sobre os preços. Atendendo a que estes países dependem grandemente das exportações de crude, vão produzindo mais para obterem maiores receitas. É um ciclo vicioso. No entanto, há o outro lado da moeda: quanto mais crude entra no mercado, mais o preço desce, o que penaliza fortemente estas economias - Venezuela e Angola são disso um forte exemplo.

Mas por que razão é que a OPEP esteve tantos anos sem reduzir a oferta para fazer subir os preços? A resposta é simples: ganhar mais quota de mercado. A OPEP tem estado apostada em que sejam os EUA e outros produtores a responsabilizarem-se pela redução da oferta excedentária.

Uma das razões que vinham a ser apontadas pela Arábia Saudita para não se cortar o plafond de produção do cartel residia precisamente no ímpeto produtor dos norte-americanos. Segundo os sauditas, se os preços continuarem baixos, não compensará produzir petróleo a partir de xisto betuminoso, visto que são operações com um processamento muito dispendioso. Ora, tal como acontece com o petróleo do pré-sal brasileiro, que é prospeccionado a grandes profundidades, se as cotações do crude não estiverem num determinado patamar, não compensa estar a apostar numa extracção que sai muito dispendiosa.

No entanto, os planos sauditas têm saído gorados. É que os Estados Unidos decidiram permitir que se possa vender crude ultra-ligeiro ao estrangeiro sem ser necessária a aprovação do Governo, o que deu um incentivo à produção, impulsionando a capacidade exportadora do país – além de que a valorização dos preços este ano trouxe de volta muitos projectos que estavam parados.

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