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Energia com margem para subir mais até ao fim do ano

Recessão pode agravar amarguras dos metais em bolsa. Já as “commodities” agrícolas vão depender mais do lado de que “soprar o vento”.

04 de Julho de 2022 às 07:00
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No primeiro semestre deste ano, as matérias-primas fizeram uma viagem agitada, num percurso bastante acidentado, com socalcos que deixaram marcas visíveis nos preços. As perturbações na oferta, os choques inflacionistas – com a consequente subida dos juros diretores por parte de muitos bancos centrais, o que suscita agora crescentes receios de uma recessão – e a invasão da Ucrânia pela Rússia estiveram entre os fatores que mais influenciaram o andar da carruagem das “commodities” nos mercados.

Olhando para o cômputo de janeiro a junho, numa perspetiva de investimento, a energia e os produtos agrícolas tiveram saldo positivo. De entre as principais “commodities” da energia - do petróleo ao gás natural, passando pela gasolina, carvão e etanol -, todas elas tiveram valorizações.

Na categoria dos metais, tanto os industriais como os preciosos apresentaram um saldo agregado vermelho. Nos metais de base, a subida do zinco e do níquel não foi suficiente para compensar as quedas do cobre, alumínio, estanho e chumbo. Nos preciosos, apenas o ouro ganhou terreno (menos de 1%), com a prata, platina, paládio e ródio a não resistirem aos reveses que tiveram pela frente. Ainda assim, muitos recuos são pouco significativos e os preços continuam altos.





E o segundo semestre?

Muitas casas de investimento apontam para que os ainda elevados preços de muitas matérias-primas sejam travados por recessões na segunda metade do ano. Mas há quem não tenha uma visão tão “bearish” do lado do investimento.

O Goldman Sachs, que está entre os observadores de commodities mais “bullish”, considera que os preços ainda não atingiram os valores até onde podem ir. “Concordamos que quando a economia está numa recessão durante algum tempo, a procura por matérias-primas diminui e, por isso, os preços caem. Mas ainda não estamos nessa situação. O crescimento económico está a desacelerar e a procura do cliente final está a abrandar, mas não a cair”, refere uma nota de “research” do Goldman.

Os tumultos na Europa e o endurecimento da política monetária da Reserva Federal norte-americana fizeram com que a China se tornasse menos decisiva do que o habitual nos mercados de commodities, sublinha a Bloomberg. No entanto, a China é a maior importadora mundial de energia, metais e produtos agrícolas, pelo que continuará a ser um fator-chave nos próximos meses.

Se a economia chinesa crescer ao ritmo pretendido pelo Presidente Xi Jinping, a procura aumentará. No entanto, se grande parte do resto do mundo estiver em recessão, dificilmente a China crescerá a um ritmo excecional. “Mesmo que a China recupere na segunda metade do ano, sozinha não conseguirá fazer os preços regressarem a novos máximos”, comentou à Bloomberg a principal estratega da Boci Global Commodities, Amelia Xiao Fu.

Como se prevê, então, o comportamento das várias categorias de matérias-primas?

Energia de vento em popa

No reino da energia, as cotações do petróleo recuaram um pouco nas últimas semanas, depois de terem estado muito perto de atingir novos máximos históricos. No entanto, a gasolina e o gasóleo não têm acompanhado as correções periódicas.

A falta de capacidade das refinarias – que são a maior fonte de abastecimento da indústria – e a ausência de capacidade adicional de produção por parte de grandes exportadores contribuem para este cenário. Se houver um corte do consumo, devido a uma recessão, o cenário pode mudar, mas até lá as refinarias não conseguem acompanhar a procura.

Entretanto, há sempre o fator OPEP. Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os seus aliados (grupo OPEP+) definiram uma abertura adicional das torneiras na ordem dos 648 mil barris por dia em julho e agosto, chegando assim ao fim os cortes implementados em junho de 2020, no pico da pandemia. O acordo que vigora entre estes 23 países termina no final do ano e na reunião de 3 de agosto espera-se que haja uma discussão da estratégia a seguir, sublinha Giovanni Staunovo, estratego de “commodities” do UBS, numa análise a que o Negócios teve acesso.

O analista do banco suíço crê que os preços do crude deverão continuar a subir, dado que a oferta deverá ficar aquém do crescimento da procura que se espera para os próximos meses. Para o UBS, o Brent – “benchmark” para a Europa – deverá estar a transacionar nos 125 dólares no final do ano.

Ainda em matéria de estimativas, o Citigroup é mais conservador e aponta para que o Brent negoceie nos 99 dólares no terceiro trimestre e 85 dólares no quarto. É uma queda face aos preços atuais, mas estas são já as projeções revistas em alta no início de junho devido ao atraso na entrada de crude iraniano no mercado. Já o Goldman considera que os preços precisam de subir mais para que se normalizem os inventários “insustentavelmente baixos”. Por isso, ver o crude abaixo dos 100 dólares não parece provável este ano.

Quanto ao gás natural, que no acumulado do semestre subiu 304% no mercado holandês – referência para a Europa – é possível que a situação se mantenha. O boicote de Moscovo à entrega de gás a países europeus bastante dependentes desta matéria-prima russa levou a que os preços escalassem.

Metais: os reveses da atividade económica

Os seis metais industriais (também chamados de metais de base e metais não ferrosos) negociados no Mercado de Metais de Londres (LME) registaram, agregadamente, o pior trimestre desde a crise financeira de 2008, uma vez que os receios de recessão estão a travar muito consumo.

O cobre, que é considerado o barómetro da economia, entrou mesmo em “mercado urso” (quando cai pelo menos 20% face ao último máximo) em junho – quando quatro meses antes estava em recordes. Será que um aprofundar da contração económica vai deixar os metais industriais à míngua no segundo semestre?



Agrícolas com potencial para novos alívios

Os preços das matérias-primas agrícolas – e, consequentemente, de muitos bens alimentares – dispararam este ano, se bem que os custos já tenham aliviado face aos seus recordes de março. As toneladas de cereais presas na Ucrânia, devido à invasão do país pela Rússia, não têm ajudado a melhorar o cenário, pelo que muito vai depender de como correrem as colheitas noutros grandes países produtores.

Se as condições climáticas ajudarem, a produção poderá aumentar em países como a Austrália, Brasil e Argentina, já que a subida dos preços cativou os agricultores no sentido de alargarem a área das culturas de cereais e oleaginosas. Assim, a perspetiva generalizada dos observadores aponta para um alívio dos preços no segundo semestre deste ano. Serão melhores dias para quem consome e piores para quem investe.

 

 

Os preços do Brent deverão continuar a subir, à conta do aperto da oferta. O UBS estima que negoceiem na casa dos 125 dólares por barril no final deste ano. Giovanni Staunovo, EstrategA de matérias-primas do UBS

 

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