Notícia
Empresário: "não faz sentido" Angola permanecer na OPEP quando perde 6,6 milhões de dólares por dia
Um empresário do setor petrolífero disse hoje que "não faz sentido" Angola continuar na OPEP, onde "está a queimar" diariamente 6,6 milhões de dólares devido a cortes impostos pela organização, considerando que o país está numa "automutilação económica".
11 de Dezembro de 2020 às 17:47
"Não faz sentido porque é prejudicial, corta-nos as nossas receitas fiscais. Se Angola está a cortar 6,6 milhões de dólares [5,4 milhões de euros]/dia, é certo que este dinheiro todo não entra nos cofres em função dos compromissos que o país tem com as multinacionais, então não tem necessidade de estar na OPEP", afirmou Pedro Domingos Godinho.
O empresário angolano, com quatro décadas de experiência no setor petrolífero, referiu, em declarações à Lusa, que o peso que Angola tem na produção mundial de petróleo, com uma participação de 0,9%, e a nível da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) com 4,6%, é irrelevante.
"Está a sacrificar o seu povo para beneficiar outras economias, quer isto dizer que se Angola estivesse fora da organização não teria que cortar e beneficiaria sempre dos cortes, porque esse cartel não vai deixar de existir se Angola sair", frisou.
Angola foi eleita, em 30 de novembro, para a presidência rotativa da conferência de ministros da OPEP em 2021, em substituição da Argélia.
Em relação à presença de Angola na liderança da organização, Pedro Domingos Godinho considerou estar-se diante de "uma grande armadilha" por existir um "risco muito elevado" de Angola vir a confrontar-se com o aumento de cortes na produção.
"Começámos a abordar essa questão, em março de 2018, e sempre questionámos a participação de Angola na OPEP por quatro razões fundamentais, nomeadamente porque o petróleo é a coluna vertebral da economia de Angola", declarou.
"E dentro dessa perspetiva, o aumento das receitas de qualquer produto passa necessariamente pelo seu volume de produção, portanto tratando-se da 'commodity' que garante 95% das exportações, 60% a 70% do PIB [Produto Interno Bruto] e 45% das receitas fiscais, naturalmente para utilizarmos isso temos que exatamente aumentar as nossas receitas e aumentar a produção", sustentou.
Com o declínio natural da produção por falta de investimentos nos últimos 10 anos, recordou o empresário, Angola, com a baixa do preço do petróleo no mercado internacional "é penalizada triplamente".
"Nomeadamente porque o preço do petróleo baixa, porque a variável 'produção' também baixa, porque não conseguimos aumentar devido ao declínio natural dos campos, e temos o terceiro fator que são os cortes da OPEP", notou.
Angola, que aderiu à OPEP em 2007, é o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana e tem neste produto a maior fonte de receitas para o país.
Pedro Domingos Godinho recordou que muitos fatores, como a guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China, em 2019, a reunião de emergência da OPEP, em finais de 2019, para definição dos cortes na produção, e a "inundação" de petróleo no mercado pela Arábia Saudita concorreram para a "queda vertiginosa" do produto.
"Prognosticar uma crise seria uma coisa bastante natural e foi nesse sentido que fomos alertando a nossa liderança no sentido de estarem atentos, infelizmente isso não aconteceu, não fomos ouvidos e o que aconteceu é que em 2020 o preço caiu vertiginosamente", apontou.
"Como nessa altura da quota de Angola de referência era 1,5 milhões de barris/dia, então ficou acordado [a nível da OPEP] que todos os países deviam cortar 23% da sua produção, que para Angola seriam 351 mil de barris", disse.
O empresário sublinhou que a economia angolana já vem debilitada desde 2014, quando a "desgraça começou", por isso já se previa "uma possibilidade de cortes na produção e a possibilidade de imposição da OPEP de cortes na produção a qualquer momento".
"Daí que fomos alertando, em 2018, a nossa liderança para prestar atenção sobre a possibilidade de suspender ou retirar-se da OPEP, mas infelizmente não fomos ouvidos", lamentou.
Face à exigência do corte de 351 mil barris, "felizmente para Angola os níveis já estavam em 1,3 e 1,4 milhões de barris/dia e o que foi concluído é que Angola deveria produzir, mas cortar a produção de 1,4 milhões para 1,1 milhões de barris", explicou.
Segundo Domingos Godinho, Angola "teve de cortar 220 mil barris/dia, que multiplicado por 30 dólares são 6,6 milhões de dólares" e, a partir sobretudo de abril, a "desgraça começou a ser acentuada, de tal forma que o preço continua baixo".
"Em fevereiro passado alertámos que Angola tinha de se preparar para conviver com o preço entre 35 e 40 dólares [29 e 33 euros], muitos questionaram, não acreditaram e em março começámos a viver a desgraça", reiterou.
O também presidente da Câmara de Comércio Americana em Angola (Amcham-Angola) referiu que, com os cortes impostos pela OPEP, Angola "está a queimar", de forma global, 6,6 milhões de dólares/dia, lembrando que desse montante ainda são subtraídos os custos da partilha da produção com as multinacionais, entre outros encargos.
"Angola já está nessa fase, agora ao assumir a presidência [da OPEP] vai ser uma grande armadilha, pese embora a sociedade não se aperceba e sintam-se felizes e regozijados com o facto de Angola estar na presidência", insistiu.
"Portanto, se em 2020 Angola ainda teve aquela prorrogativa de ir violando o acordo, na cadeira de presidente não poderá violar", avisou.
A queda "vertiginosa" do petróleo em 2020 concorreu para o corte de 351 mil barris/dia, mas ainda pode piorar: "Num cenário hipotético, se a Arábia Saudita decidir manter os cortes de 23% da produção de Angola, quando só estamos a produzir 1,4 milhões de barris, isto quer dizer que Angola terá de cortar cerca de 400 mil barris".
"Para uma economia já completamente debilitada e definhada onde já vimos todos os dias ou constantemente jovens a saírem à rua porque a percentagem do desemprego está em cima, isso são prenúncios de convulsões sociais por causa das dificuldades económicas do país", alertou.
Pedro Domingos Godinho admitiu "não entender" que em plena crise, "com muitos cidadãos a morrerem de fome", o país tire da economia 6,6 milhões de dólares todos os dias.
"Portanto, em conclusão, Angola está num processo de automutilação económica", vincou o empresário, questionando: "Quais as vantagens de Angola estar na OPEP?".
O empresário angolano, com quatro décadas de experiência no setor petrolífero, referiu, em declarações à Lusa, que o peso que Angola tem na produção mundial de petróleo, com uma participação de 0,9%, e a nível da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) com 4,6%, é irrelevante.
Angola foi eleita, em 30 de novembro, para a presidência rotativa da conferência de ministros da OPEP em 2021, em substituição da Argélia.
Em relação à presença de Angola na liderança da organização, Pedro Domingos Godinho considerou estar-se diante de "uma grande armadilha" por existir um "risco muito elevado" de Angola vir a confrontar-se com o aumento de cortes na produção.
"Começámos a abordar essa questão, em março de 2018, e sempre questionámos a participação de Angola na OPEP por quatro razões fundamentais, nomeadamente porque o petróleo é a coluna vertebral da economia de Angola", declarou.
"E dentro dessa perspetiva, o aumento das receitas de qualquer produto passa necessariamente pelo seu volume de produção, portanto tratando-se da 'commodity' que garante 95% das exportações, 60% a 70% do PIB [Produto Interno Bruto] e 45% das receitas fiscais, naturalmente para utilizarmos isso temos que exatamente aumentar as nossas receitas e aumentar a produção", sustentou.
Com o declínio natural da produção por falta de investimentos nos últimos 10 anos, recordou o empresário, Angola, com a baixa do preço do petróleo no mercado internacional "é penalizada triplamente".
"Nomeadamente porque o preço do petróleo baixa, porque a variável 'produção' também baixa, porque não conseguimos aumentar devido ao declínio natural dos campos, e temos o terceiro fator que são os cortes da OPEP", notou.
Angola, que aderiu à OPEP em 2007, é o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana e tem neste produto a maior fonte de receitas para o país.
Pedro Domingos Godinho recordou que muitos fatores, como a guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China, em 2019, a reunião de emergência da OPEP, em finais de 2019, para definição dos cortes na produção, e a "inundação" de petróleo no mercado pela Arábia Saudita concorreram para a "queda vertiginosa" do produto.
"Prognosticar uma crise seria uma coisa bastante natural e foi nesse sentido que fomos alertando a nossa liderança no sentido de estarem atentos, infelizmente isso não aconteceu, não fomos ouvidos e o que aconteceu é que em 2020 o preço caiu vertiginosamente", apontou.
"Como nessa altura da quota de Angola de referência era 1,5 milhões de barris/dia, então ficou acordado [a nível da OPEP] que todos os países deviam cortar 23% da sua produção, que para Angola seriam 351 mil de barris", disse.
O empresário sublinhou que a economia angolana já vem debilitada desde 2014, quando a "desgraça começou", por isso já se previa "uma possibilidade de cortes na produção e a possibilidade de imposição da OPEP de cortes na produção a qualquer momento".
"Daí que fomos alertando, em 2018, a nossa liderança para prestar atenção sobre a possibilidade de suspender ou retirar-se da OPEP, mas infelizmente não fomos ouvidos", lamentou.
Face à exigência do corte de 351 mil barris, "felizmente para Angola os níveis já estavam em 1,3 e 1,4 milhões de barris/dia e o que foi concluído é que Angola deveria produzir, mas cortar a produção de 1,4 milhões para 1,1 milhões de barris", explicou.
Segundo Domingos Godinho, Angola "teve de cortar 220 mil barris/dia, que multiplicado por 30 dólares são 6,6 milhões de dólares" e, a partir sobretudo de abril, a "desgraça começou a ser acentuada, de tal forma que o preço continua baixo".
"Em fevereiro passado alertámos que Angola tinha de se preparar para conviver com o preço entre 35 e 40 dólares [29 e 33 euros], muitos questionaram, não acreditaram e em março começámos a viver a desgraça", reiterou.
O também presidente da Câmara de Comércio Americana em Angola (Amcham-Angola) referiu que, com os cortes impostos pela OPEP, Angola "está a queimar", de forma global, 6,6 milhões de dólares/dia, lembrando que desse montante ainda são subtraídos os custos da partilha da produção com as multinacionais, entre outros encargos.
"Angola já está nessa fase, agora ao assumir a presidência [da OPEP] vai ser uma grande armadilha, pese embora a sociedade não se aperceba e sintam-se felizes e regozijados com o facto de Angola estar na presidência", insistiu.
"Portanto, se em 2020 Angola ainda teve aquela prorrogativa de ir violando o acordo, na cadeira de presidente não poderá violar", avisou.
A queda "vertiginosa" do petróleo em 2020 concorreu para o corte de 351 mil barris/dia, mas ainda pode piorar: "Num cenário hipotético, se a Arábia Saudita decidir manter os cortes de 23% da produção de Angola, quando só estamos a produzir 1,4 milhões de barris, isto quer dizer que Angola terá de cortar cerca de 400 mil barris".
"Para uma economia já completamente debilitada e definhada onde já vimos todos os dias ou constantemente jovens a saírem à rua porque a percentagem do desemprego está em cima, isso são prenúncios de convulsões sociais por causa das dificuldades económicas do país", alertou.
Pedro Domingos Godinho admitiu "não entender" que em plena crise, "com muitos cidadãos a morrerem de fome", o país tire da economia 6,6 milhões de dólares todos os dias.
"Portanto, em conclusão, Angola está num processo de automutilação económica", vincou o empresário, questionando: "Quais as vantagens de Angola estar na OPEP?".