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Vale a pena amortizar ou investir?

Na análise às vantagens de amortizar parte do crédito à habitação não basta olhar para a redução da prestação. As comissões cobradas pelos bancos e a redução dos benefícios fiscais tornam a opção de investimento em depósitos mais atractiva, sobretudo numa altura em que os juros estão em alta.

12 de Setembro de 2008 às 07:00
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Na gestão do orçamento, há uma dúvida que se coloca a muitas famílias: amortizar o crédito à habitação ou investir as poupanças conseguidas ao longo do ano? O Negócios fez os cálculos, comparando o impacto das amortizações com os retornos conseguidos através de investimentos. A conclusão, olhando para os dados passados, aponta para que o melhor é mesmo investir, um cenário que sai reforçado na actual conjuntura. É que a subida das taxas de juro está a tornar cada vez mais atractivos os produtos de baixo risco, que são a melhor alternativa à amortização do crédito. Há ainda os fundos e as acções, que historicamente apresentam retornos mais elevados.

Os retornos gerados com as amortizações até superam a rendibilidade gerada pela aplicação em produtos como os depósitos e os certificados de aforro. Mas não pode apenas pensar nos valores que consegue poupar, ou auferir, com o destino que se dá às poupanças. Há outras questões a ponderar e são mesmo estas que fazem a diferença na hora de tomar a melhor decisão. No caso das amortizações, terá sempre de ter em conta que os bancos cobram comissões sempre que amortizar o empréstimo, e ao fazer pagamentos antecipados do crédito perde benefícios fiscais.

O Negócios optou por calcular a evolução, nos últimos cinco anos, de um empréstimo de 100 mil euros, indexado à Euribor a seis meses, com um “spread” de 0,7% e um prazo de 30 anos. Para calcular o montante do dinheiro disponível para a amortização, usámos os conselhos das associações de consumidores: poupar 10% dos rendimentos. Foi considerado um casal com um salário mensal de 3.000 euros, o que ao fim de um ano representa uma poupança de 4.200 euros. No caso prático realizado, foi simulada a amortização de 21 mil euros no crédito à habitação nos últimos cinco anos e a aplicação do mesmo montante em investimentos.

Na entrega de dinheiro ao banco para reduzir o capital em dívida, o retorno médio anual, no final deste período, foi de 3,91%. A opção pela amortização reduz os juros a pagar ao banco, o que implica a descida imediata da prestação. E se todos os anos fizer amortizações, o contrato terminará antes do trigésimo ano, já que com o pagamento antecipado, o capital em dívida vai sendo reduzido. Contudo, se tiver um empréstimo indexado a uma taxa variável, como o caso da Euribor, terá de pagar ao banco uma comissão de 0,5% face à amortização que fizer. E se o contrato estiver associado a uma taxa fixa, o valor cobrado chega aos 2%. Além desta comissão, é preciso calcular o impacto das amortizações de empréstimos na declaração de IRS. Quanto menos pagar, menor será o beneficio que consegue nos impostos.

Regra geral, o retorno que se consegue de uma amortização assemelha-se ao retorno de um depósito, ou de um certificado de aforro. Ainda que sejam superiores, as taxas não se distanciam muito, pelo que a opção por reduzir o crédito terá que ser bem ponderada. Até porque, se usar o dinheiro na amortização do empréstimo, não o poderá utilizar para fazer face a encargos pontuais que surjam.

Para aplicações nos depósitos, o Negócios considerou a evolução da taxa de juro média aplicada pelos bancos nos últimos cinco anos. A lógica foi semelhante: todos os anos foram depositados 4.200 euros e aplicados os juros praticados na altura. A média de juros pagos entre 2003 e este ano é de 2,6%. Ainda assim, a remuneração média dos depósitos tem vindo a aumentar, devido às subidas das taxas de juro, o que torna estes produtos de baixo risco mais atractivos. E há bancos que disponibilizam depósitos com remunerações mais elevadas. No caso dos certificados de aforro a rendibilidade passada ronda os 2,6%.

Se tiver disponibilidade financeira, o melhor é diversificar o destino das poupanças. Ter dinheiro disponível para despesas de última hora e pagar menos de juros no empréstimo é a solução ideal.

Optar por aplicar a poupança em depósitos a prazo pode ser mais atractivo


A tabela em baixo mostra os resultados das três estratégias de aplicar as poupanças anuais de 4.200 euros nos últimos cinco anos. Amortizar o crédito atenuou o impacto da forte subida dos juros, mas esta tendência torna a aplicação em produtos de baixo risco cada vez mais aliciante.

Primeiro ano
Ao fim do primeiro ano de investimento, o retorno nos depósitos foi de 79,80 euros, com uma taxa de juro de 1,9%. Próxima da remuneração dos certificados de aforro. Já a prestação do crédito à habitação diminui cerca de 10 euros.

Quinto ano
No final dos cinco anos, o total do investimento capitalizado nos depósitos supera os 22 mil euros, assim como nos certificados de aforro. A poupança conseguida nas prestações do crédito à habitação não é visível no imediato. O que é justificado pela subida de juros a que se assistiu desde 2005. No final de 2003, as taxas Euribor, que são os indexantes mais usados no crédito em Portugal encontravam-se em torno dos 2%. No início de 2008 aproximavam-se dos 5%.

Investimento

Os investimentos em produtos de baixo risco têm remunerado, em média, abaixo dos 3%. Mas o retorno é agora superior e as expectativas apontam para que a tendência se mantenha, devido ao aumento dos juros. Nos produtos de elevado risco as rendibilidades recentes são negativas, mas, historicamente tem desempenhos mais atractivos.

Baixo risco

Depósitos Investimento seguro cada vez mais atractivo

Um depósito é um investimento seguro. Desde logo sabe qual é a remuneração é não há risco de perder dinheiro. Nos últimos cinco anos as remunerações dos depósitos têm vindo a aumentar, devido às subidas das taxas de juro e ao aumento da concorrência. A remuneração média de um depósito estava nos 2,38%, em Janeiro de 2003, tendo recuado para níveis abaixo dos 2% em 2004 e 2005. Os últimos dados revelam que a taxa de juro média deste produto subiu para níveis acima dos 4% este ano, o que torna os investimentos em depósitos mais atractivos. Contudo, estes valores revelam as taxas médias. Hoje em dia há remunerações mais elevadas. No último ano, os bancos lançaram produtos mais aliciantes. Primeiro porque reflectem taxas de juro mais elevadas nos mercados e depois porque a concorrência aumentou neste segmento, nomeadamente com os bancos “online”. A média de juros praticada nos depósitos, entre 2003 e o início deste ano, foi de 2,6%. Uma família que tenha aplicado 4.200 euros em 2003 e que todos os anos coloque o mesmo montante, auferiu mais perto de dois mil euros em juros acumulados. Este valor tende a aumentar nos próximos tempos, pois os juros têm subido consecutivamente.

Certificados de Aforro Remunerações abaixo dos 4%

Os certificados de aforro têm estado sob os holofotes. O Governo mudou as “regras do jogo” e isso fez com que muitos investidores resgatassem os montantes que tinham aplicados. Ainda assim, esta continua a ser uma solução para quem tem aversão ao risco. As remunerações estão próximas dos 4%, para a nova séria (C). As séries anteriores, que já não estão disponíveis, tinham retornos mais baixos, mas os prémios de permanência eram mais elevados. O Negócios fez os cálculos com base na Série B, que existia em 2003. E a remuneração média de uma aplicação nos certificados de aforros nos últimos cinco anos foi de 2,58%, excluindo os prémios de permanência. Com base numa aplicação anual de 4.200 euros, o retorno dos 21.000 euros investidos nos cinco anos, supera os 1.800 euros. As taxas de remuneração base dos certificados também têm aumentado. Se as notícias de subidas das taxas Euribor são penosas para as famílias que têm crédito à habitação, já que as prestações dos empréstimos aumentam, para quem tem poupanças aplicadas nesta dívida emitida pelo Estado as subidas são positivas, já que as taxas de remuneração aumentam.

Alto risco

Acções Últimos anos foram prósperos...

Os investimentos em bolsa são mais arriscados e na maioria das vezes os retornos positivos só se conseguem passados alguns anos. Os últimos anos têm sido positivos nos mercados bolsistas, mas esta tendência parece ter chegado ao fim. Por agora. O Negócios usou a variação do PSI-20 nos últimos cinco anos para calcular a evolução dos investimentos e comparar com as aplicações em depósitos e certificados. Esta solução revelou-se mais aliciante, mas nos últimos cinco anos não houve um único ano de quedas no índice e as subidas foram todas acima dos 12%. O retorno médio de um investimento neste índice foi superior a 17% no total dos cinco anos. Mas estes mercados são instáveis e de alto risco. Se nos últimos cinco anos o comportamento bolsista foi positivo, este ano a evolução é adversa. O PSI-20 está a perder 36% em 2008, anulando a subida conseguida nos últimos dois anos. É por isso que, apesar da história mostrar que as acções são dos investimentos mais rentáveis, os especialistas aconselham a que a aposta nestes activos apenas represente uma pequena parte das poupanças aplicadas. A diversificação dos investimentos é outro dos conselhos mais comuns no investimento em acções.

Fundos Impróprios para investidores adversos ao risco

Aplicar dinheiro em fundos é uma opção de elevado risco. As casas de investimento oferecem várias soluções para aplicar o seu dinheiro em fundos. Tal como as acções, estes produtos são de elevado risco. Como exemplo, o Negócios usou o melhor fundo disponível nos últimos cinco anos no mercado nacional. O fundo CCAM Latin American Equities teve uma rentabilidade de 33,1% neste período. Entre os mais de três mil fundos comercializados em Portugal este é o mais rentável e com a classificação máxima da agência Morningstar. O fundo em causa, de elevado risco, é constituído por activos da América Latina, um mercado que beneficiou de subidas acentuadas. Neste caso, a casa de investimento não cobra comissões de resgate nem de subscrição. O único valor cobrado refere-se à comissão de gestão e que se situa nos 2,4%, um valor dentro do que é aplicado pelas casas de investimento. Este tipo de investimentos é impróprio para pessoas que não gostam de correr riscos, uma vez que nunca garantem o capital. Mas é o mais aconselhável para os investidores mais propensos a aplicações mais arriscadas e que prefiram uma gestão profissional do seu dinheiro.
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