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Ser rico no século XXI

Continuar (ou passar) a ser "rico" vai tornar-se cada vez mais difícil para nós, europeus, durante este século. Uma demografia débil, o peso gigantesco das nossas dívidas e a concorrência feroz das novas economias serão as três razões essenciais das...

16 de Março de 2010 às 09:30
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Continuar (ou passar) a ser "rico" vai tornar-se cada vez mais difícil para nós, europeus, durante este século. Uma demografia débil, o peso gigantesco das nossas dívidas e a concorrência feroz das novas economias serão as três razões essenciais das nossas dificuldades futuras.

Infelizmente, este processo é impagável e a nossa geração vai ter que aprender a viver com este novo paradigma. Felizmente, existem maneiras de continuar a "ser rico", embora impliquem alguns esforços. E, para aprender a "ser rico", nada melhor do que olhar para alguns exemplos, tais como os dois vencedores deste início de século: os chineses e Warren Buffett.

O homem mais rico do mundo não é coleccionador de castelos, carros ou obras de arte. Continua a viver na casa que comprou no Nebraska em 1957 por 31.500 dólares. Para os seus investimentos, procura empresas bem geridas, em sectores que conhece, e tem um profundo desdém por aquelas que deitam dinheiro pelas janelas e vivem acima das suas possibilidades.

Os chineses e Warren Buffett têm em comum o facto de saberem tirar partido do capitalismo: investir, e não consumir, é a melhor maneira de enriquecer.
Apenas 20 pessoas trabalham na Berkshire Hathaway, empresa de gestão de Warren Buffett que gere participações de várias dezenas de biliões de dólares numa centena de empresas. O próprio Warren Buffett só recebe 100 mil dólares de salário anual enquanto presidente e deixa os carros de luxo para outros, conduzindo um modesto Lincoln Town Car, com a matrícula "Thrifty", ou seja, "Poupado". Assim, quanto menos se gasta em despesas desnecessárias, mais se tem para investir.

Os chineses também têm muito para nos ensinar sobre a melhor maneira de enriquecer. Em dez anos, a riqueza média produzida por um cidadão chinês triplicou, tornando a China no primeiro país exportador do mundo e na segunda maior economia a nível global. A "ultrapassagem" dos Estados Unidos está prevista dentro de cinco anos. Também é um dos povos que mais poupa, o que significa que a riqueza acumulada pela economia pode ser investida para se tornar produtiva. Os chineses tornaram-se alunos exemplares do capitalismo, investindo em massa na bolsa de Xangai, transformando as suas poupanças em fontes de enriquecimento. As próprias empresas chinesas estão a tornar-se ferozes predadores, comprando participações nos seus concorrentes europeus e americanos em dificuldade, nomeadamente no sector automóvel. Volvo, Hummer, Rover são alguns exemplos recentes.

Os chineses e Buffett têm em comum o facto de saberem tirar partido do capitalismo: investir, e não consumir, é a melhor maneira de enriquecer. Óptimo. Mas saber investir também é essencial. Adaptar os nossos investimentos ao século XXI é indispensável para conseguir "manter" o nosso nível de riqueza face às transformações da economia mundial.

Isto significa:
Investir em acções. Infelizmente, não há petisco para quem não arrisca e Warren Buffett não se tornou o homem mais rico do mundo com depósitos a prazo, nem mesmo super-depósitos. Deixar a poupança no banco é a melhor maneira de empobrecer. As taxas oferecidas apenas conseguem superar ligeiramente a inflação, mas não acompanham o valor dos activos. A riqueza não se mede pela capacidade em pagar um almoço ou um computador, mas, sim, por bens produtivos: acções de uma empresa, metros quadrados de escritórios em Londres ou Pequim. Segundo esta visão, estamos a cada dia que passa mais pobres, sem nos dar conta. Investir em acções é a única maneira de pôr o nosso dinheiro "a render".

Investir nas economias do futuro, ou seja, nas economias não endividadas (China, Brasil, Índia, África do Sul). Este investimento pode ser directo, comprando acções ou fundos de acções de empresas locais, ou indirecto, investido em multinacionais expostas em grande parte a esses mercados. O "risco de moeda" pode ser neutralizado, nomeadamente no caso do dólar, ou aproveitado, quando se trata de moedas tendencialmente sub-avaliadas, como o yuan chinês.

Investir nos sectores do futuro, isto é, não só nos sectores que vão beneficiar das mutações industriais deste século como também nas actividades dinamizadas pela emergência de uma classe média em países emergentes totalizando três mil milhões de habitantes: energias renováveis, infra-estruturas, saúde, produtos alimentares, equipamentos de casa e bens de consumo.

Assim, com estes parâmetros de investimento, um português terá que enfrentar um dilema esquizofrénico: será difícil tomar decisões de investimento "racionais" e defender, ao mesmo tempo, a economia portuguesa, tão grande é o desfasamento do nosso PSI-20 em relação a estes preceitos. O próprio Warren Buffett, que investia essencialmente em empresas americanas, comprou recentemente uma participação de 10% numa fábrica chinesa de baterias para caros eléctricos.

No dia em que o PSI-20 for composto por empresas fortemente exportadoras para países "emergentes", em sectores do consumo, da saúde ou das infra-estruturas, e com directores que aceitem andar de Ford Focus e ganhar 70 mil euros por ano, poderá voltar a tornar-se competitivo, e atrair os investimentos do oráculo de Omaha e os meus.

A comparação entre a evolução das acções da Berkshire Hathaway, o crescimento das economias chinesa e portuguesa e o índice Euro Stoxx 50 revelam que a estratégia e a disciplina de Warren Buffett são ferramentas que permitem ao bilionário bater os mercados.


* Administrador da Optimize




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