Notícia
PSI 20 nos 1500 pontos? Não
Se, em períodos de crise bolsista, os financeiros, pessoas com um feitio geralmente pausado e racional, tendem a perder algum auto-controlo, hoje podemos considerar que já entraram em pânico completo, esquecendo qualquer...
Se, em períodos de crise bolsista, os financeiros, pessoas com um feitio geralmente pausado e racional, tendem a perder algum auto-controlo, hoje podemos considerar que já entraram em pânico completo, esquecendo qualquer racionalidade na fuga às perdas. Infelizmente, as consequência desta loucura colectiva são desastrosas para as empresas, as economias e os cidadãos, destruindo muito mais valor do que as perdas directamente causadas pela crise do crédito imobiliário americano: foram destruídos 50 biliões de dólares de valor de activos (acções, obrigações, imobiliário) pelo mundo, equivalente a cerca de um ano de produção mundial.
Com a chegada de Barack Obama à Casa Branca e a acumulação de planos anti-crise, muitos esperavam uma acalmia dos mercados neste início de ano. Podemos dificilmente considerar a situação actual como "estabilizada", com o PSI 20 a perder cerca de 5% desde 1 de Janeiro, e os índices das principais cotações de Wall Street e da Zona Euro mais de 15%. Pior ainda, alguns analistas chegaram a escrever artigos apontando para índices a caírem tanto como durante a crise de 1929, ou seja, 90% do seu valor em relação ao pico.
É a altura de racionalizar estes "catastrofismos", respondendo a duas perguntas "shakespeareanas": onde estamos, onde vamos? Será que estamos numa situação comparável à de 1929? Será que é mesmo possível as bolsas continuarem a baixar e perderem 90% em relação aos máximos?
Onde estamos
A situação actual dos mercados é muito diferente da vivida nos Estados Unidos há 80 anos, por três enormíssimas razões. A crise de 1929 foi possível pelo rebentamento simultâneo de dois desequilíbrios: uma bolha bolsista (duplicação do valor das acções em 24 meses) e uma forte sobre-capacidade industrial, e uma reacção de política económica totalmente contraproducente. Nenhum destes desequilíbrios está em causa na crise que atravessamos hoje e os Governos tomaram, e continuam a tomar, todas as medidas necessárias para desbloquear a situação. Não caíram, até agora, num ilusório proteccionismo.
Onde vamos
Mesmo considerando que a crise actual é muito diferente, nas suas raízes e nos seus impactos, da crise de 1929, há quem considere que ela poderá ser tão grave, nomeadamente a nível bolsista. Embora não concorde com essa análise, é interessante perceber o que iria acontecer às nossas poupanças investidas em bolsa se "tudo se passar como em 1929".
Em primeiro lugar, é importante perceber que, mesmo durante a crise de 1929, ninguém chegou a perder 90% do seu investimento no índice Dow Jones:
1 A "performance" de um investimento tem de ser corrigida da inflação (ou deflação). Entre 1929 e 1933, os preços nos Estados Unidos baixaram 25%.
2 O pagamento de rendimentos (dividendos no caso das acções) tem de ser incorporado. As empresas que compõem o índice Dow Jones não deixaram de pagar dividendos durante os anos de crise. Pelo contrário, o valor dos dividendos em relação à cotação das acções subiu fortemente durante esse período, pelo efeito mecânico da baixa das cotações.
3 Medir a "performance" entre o ponto mais elevado e o ponto mais baixo dá, por definição, uma noção dos extremos atingidos, que felizmente corresponde a poucas situações realmente "vividas".
Juntando estes três efeitos, um investidor "médio" terá perdido não 90% do seu investimento, mas "apenas" 61,5%. Ainda é muito. Mas já mais próximo do que estamos a viver.
A razão essencial do meu optimismo estã no facto de considerar que, felizmente, o pior da crise já passou. Nos últimos 16 meses, os índices europeus e americanos perderam cerca de 50%, repetindo a "performance" realizada pelo Dow Jones nos 16 meses após a célebre "quinta-feira negra" de Outubro de 1929. Já que estamos no "mesmo ponto", o que é que aconteceu a um investidor que tivesse entrado no mercado nessa altura? Teria obtido do seu investimento uma rendibilidade anual média de 4,5% ao longo dos 5 anos seguintes. Nada mau quando comparado com a rendibilidade esperada dos depósitos a prazo e bilhetes do tesouro.
Conclusão
Estou optimista em relação aos mercados bolsistas numa perspectiva de investimento de médio-longo prazo. Mesmo considerando as hipóteses mais negras, não considero que haja espaço para mais "correcções" nos mercados de acções.
Más surpresas eventuais poderão vir da inflação, daqui a alguns anos, reduzindo o valor dos investimentos em taxa fixa de longo prazo, nomeadamente das obrigações emitidas pelos governos para financiar os planos anti-crise. Para quem acreditar na resistência das empresas, nas suas capacidades de adaptação e transformação para atravessar a tempestade, o mais provável é que ocorram boas surpresas.
Administrador-delegado da Optimize
Com a chegada de Barack Obama à Casa Branca e a acumulação de planos anti-crise, muitos esperavam uma acalmia dos mercados neste início de ano. Podemos dificilmente considerar a situação actual como "estabilizada", com o PSI 20 a perder cerca de 5% desde 1 de Janeiro, e os índices das principais cotações de Wall Street e da Zona Euro mais de 15%. Pior ainda, alguns analistas chegaram a escrever artigos apontando para índices a caírem tanto como durante a crise de 1929, ou seja, 90% do seu valor em relação ao pico.
Onde estamos
A situação actual dos mercados é muito diferente da vivida nos Estados Unidos há 80 anos, por três enormíssimas razões. A crise de 1929 foi possível pelo rebentamento simultâneo de dois desequilíbrios: uma bolha bolsista (duplicação do valor das acções em 24 meses) e uma forte sobre-capacidade industrial, e uma reacção de política económica totalmente contraproducente. Nenhum destes desequilíbrios está em causa na crise que atravessamos hoje e os Governos tomaram, e continuam a tomar, todas as medidas necessárias para desbloquear a situação. Não caíram, até agora, num ilusório proteccionismo.
Onde vamos
Mesmo considerando que a crise actual é muito diferente, nas suas raízes e nos seus impactos, da crise de 1929, há quem considere que ela poderá ser tão grave, nomeadamente a nível bolsista. Embora não concorde com essa análise, é interessante perceber o que iria acontecer às nossas poupanças investidas em bolsa se "tudo se passar como em 1929".
Em primeiro lugar, é importante perceber que, mesmo durante a crise de 1929, ninguém chegou a perder 90% do seu investimento no índice Dow Jones:
1 A "performance" de um investimento tem de ser corrigida da inflação (ou deflação). Entre 1929 e 1933, os preços nos Estados Unidos baixaram 25%.
2 O pagamento de rendimentos (dividendos no caso das acções) tem de ser incorporado. As empresas que compõem o índice Dow Jones não deixaram de pagar dividendos durante os anos de crise. Pelo contrário, o valor dos dividendos em relação à cotação das acções subiu fortemente durante esse período, pelo efeito mecânico da baixa das cotações.
3 Medir a "performance" entre o ponto mais elevado e o ponto mais baixo dá, por definição, uma noção dos extremos atingidos, que felizmente corresponde a poucas situações realmente "vividas".
Juntando estes três efeitos, um investidor "médio" terá perdido não 90% do seu investimento, mas "apenas" 61,5%. Ainda é muito. Mas já mais próximo do que estamos a viver.
A razão essencial do meu optimismo estã no facto de considerar que, felizmente, o pior da crise já passou. Nos últimos 16 meses, os índices europeus e americanos perderam cerca de 50%, repetindo a "performance" realizada pelo Dow Jones nos 16 meses após a célebre "quinta-feira negra" de Outubro de 1929. Já que estamos no "mesmo ponto", o que é que aconteceu a um investidor que tivesse entrado no mercado nessa altura? Teria obtido do seu investimento uma rendibilidade anual média de 4,5% ao longo dos 5 anos seguintes. Nada mau quando comparado com a rendibilidade esperada dos depósitos a prazo e bilhetes do tesouro.
Conclusão
Estou optimista em relação aos mercados bolsistas numa perspectiva de investimento de médio-longo prazo. Mesmo considerando as hipóteses mais negras, não considero que haja espaço para mais "correcções" nos mercados de acções.
Más surpresas eventuais poderão vir da inflação, daqui a alguns anos, reduzindo o valor dos investimentos em taxa fixa de longo prazo, nomeadamente das obrigações emitidas pelos governos para financiar os planos anti-crise. Para quem acreditar na resistência das empresas, nas suas capacidades de adaptação e transformação para atravessar a tempestade, o mais provável é que ocorram boas surpresas.
Administrador-delegado da Optimize