O recente lançamento do iPad, da Apple, volta a colocar em cima da mesa o debate sobre os "tablets" híbridos, que conjugam leitores de livros digitais com outras funcionalidades reservadas aos computadores. Mesmo que o Kindle, da Amazon, continue a ser a estrela de quem já está a substituir o formato em papel pelo modelo digital, com vantagens ao nível de armazenamento de edições, sem ocupar grande espaço nas prateleiras, e de preço dos livros, o novo equipamento da Apple quer disputar esse espaço. Com uma aplicação dedicada à leitura, o iBook dá acesso à loja iBookstore através da ligação Wi-Fi ou 3G, onde está garantido espaço para cinco editoras colocarem os seus títulos.

Mesmo com outros modelos de leitores de livros digitais já nas lojas, entre os quais se contam o Sony Reader e o Bookeen Cybook, o acesso fácil e rápido à compra de livros a preços baixos é um factor que mostrou ser determinante no sucesso do Kindle. Os equipamentos já vêm pré-configurados com os dados de compra dos utilizadores na livraria "on-line" e basta clicar no botão de "compra" para descarregar, em menos de um minuto, um novo livro, que fica a metade do preço da edição em papel. Para leitores intensivos, justifica-se o retorno do investimento no leitor em poucos meses.

A Amazon teve, porém, um revés na sua estratégia de reduzir o preço dos livros digitais e foi obrigada a ceder às exigências dos editores, que não querem ver os livros com preços abaixo de 15 euros. Mas, quem opta por "crackar" o equipamento pode ter acesso, também, a uma vasta livraria de títulos gratuitos, embora de legalidade duvidosa.

Mais do que livros
Até para quem não dispensa o "cheiro" dos livros e o seu manuseamento, este é um "negócio" atraente. E também se estende aos jornais e revistas, com valores até mais interessantes. Da longa lista de publicações internacionais - maioritariamente norte-americanas - já faz também parte o jornal "Público", com uma subscrição no valor de 99 cêntimos de dólar por uma edição ou quase 14 dólares por mês, sensivelmente 10 euros.

Do ecrã com tecnologia "e-ink", que permite a leitura em situações de elevada luminosidade, como na praia ou na esplanada, o Kindle tem também vantagens que se estendem à possibilidade de usar a funcionalidade de "texto-to-speech", para ouvir os livros, e o cruzamento com o dicionário New Oxford American Dictionary, que se pode tornar muito útil quando ler livros em inglês e precisar da definição de uma palavra mais complicada: é só colocar o cursor sobre o vocábulo e tem imediatamente a sua definição.

A Amazon já estendeu o alcance do Kindle através de aplicações para PC, telemóveis iPhone e Blackberry, mas estes, embora dêem acesso aos livros, não têm o "poder" da tinta digital do ecrã do verdadeiro Kindle e Kindle DX.

Que papel para o iPad?
Falta agora saber se o novo "gadget" da Apple vai ter capacidade para ombrear com o Kindle. O ecrã tem a mesma dimensão, de 9,7 polegadas, mas a diferença está no uso do LED e o "e-Ink". No caso da Apple, a tecnologia LED traz mais cor nas imagens, que podem beneficiar os livros sempre que existem ilustrações, mas que tem mais impacto no cansaço da vista.

Embora não se limite ao leitor de livros digitais, há algumas falhas significativas que são apontadas ao iPad, entre as quais a falta de suporte ao formato Flash, da Adobe, que está presente em mais de 70% dos vídeos na Internet e mais de 80% dos jogos. Sem uma câmara digital e sem teclado integrado - embora exista um acessório adicional - o iPad pode bem ficar a flutuar num limbo, não se decidindo concretamente por "um dos lados" e não oferecendo um factor de diferenciação em relação aos múltiplos "gadgets" que já povoam a vida de grande parte dos utilizadores.





Cinco leitores com muito espaço nas prateleiras

1. Kindle

Já não é o modelo original, mas uma segunda versão do leitor de livros digitais da Amazon que foi conquistando espaço no mercado norte-americano e que no final do ano passado a maior livraria online estendeu ao mercado mundial, tirando partido da conectividade 3G para assegurar uma ligação rápida e fácil à loja de compra de novos títulos.
Embora seja um modelo que serve para pouco mais do que ler livros, e esteja limitado ao ecrã monocromático, onde a navegação se faz com recurso aos botões laterais, já conta com uma grande legião de utilizadores. Uma das principais falhas que lhe é apontada está na bateria. Quando se deixa descarregar totalmente e não se usa durante alguns dias há dificuldade em "retomar" a actividade.

Website www.amazon.com/kindle
Tamanho do ecrã 6 polegadas
Espaço de armazenamento 1500 livros
Bateria duração de 1 semana
Preço 259 dólares (cerca de 190 euros a que e devem somar as taxas)

2. Kindle DX

Maior no ecrã e no espaço para guardar livros, a versão mais recente do Kindle chegou ao mercado internacional pouco mais de três meses depois da versão original, uma "traição" que os fãs do Kindle que acorreram a comprar o primeiro modelo dificilmente vão esquecer.
Para além do tamanho, não há muitas diferenças entre os dois modelos, já que a mesma fórmula de comercialização de livros, revistas e jornais foi aplicada, assim como o ecrã de "e-ink", que facilita a leitura, mesmo com condições de elevada luminosidade.

Website www.amazon.com/kindledx
Tamanho do ecrã 9,7 polegadas
Espaço de armazenamento 3.500 livros
Bateria Duração de 1 semana
Preço 489 dólares (cerca de 358 euros a que se devem somar as taxas)

3. iPad

Ainda é só uma promessa, embora as características já sejam todas mais do que conhecidas. O ecrã sensível ao toque, com tecnologia LED, e o formato fazem-no parecido com um iPhone ou iPod Touch de tamanho gigante, adequado para ver fotografias e vídeos e navegar na Internet, ou escrever "e-mails", para quem se habituar ao teclado no ecrã.
Não se limitando a ser um leitor de livros digitais, este "tablet" híbrido concorre, também, com este segmento e, para isso, dispõe de uma aplicação específica e acordos com editores.

Website www.apple.com/ipad
Tamanho do ecrã 9,7 polegadas
Espaço de armazenamento 12, 32 ou 64 GBytes
Bateria Duração até 10 horas
Preço 499 dólares (cerca de 360 euros)

4. Sony PRS-600 Reader Touch edition

A Sony já tem "tradição" nos leitores de livros digitais e este modelo já é da geração de toque, o que facilita a selecção de menus e a mudança de páginas para quem já está habituado a usar os dedos sobre o ecrã. A dimensão do ecrã e a tecnologia utilizada são semelhantes ao Kindle, mas falta ainda à Sony a estratégia certa para a comercialização de livros.
Quem quiser pode tomar notas sobre os livros, usando os dedos ou uma caneta especial, e todas podem ser exportadas para o computador. Pode ser encontrado à venda em várias lojas da especialidade na Internet.

Website www.sony.com
Tamanho do ecrã 6 polegadas
Espaço de armazenamento 350 livros
Bateria Até duas semanas
Preço Cerca de 320 euros

5. Bookeen Cybook Gen3

Não tem o "encanto" do Kindle, mas algumas das características são semelhantes: um ecrã de seis polegadas, monocromático e tecnologia de ecrã "e-ink". Suporta vários formatos de documentos, desde o TXT ao HTMl, passando por PDF e formatos dedicados de livros digitas, o Mobipocket, para além de servir de leitor de música em formato MP3 e de audiobooks.
O principal defeito é o mesmo dos equipamentos da Sony: a falta de ligação directa, rápida e prática, a uma livraria digital para a compra de novos títulos. Pode ser comprado "on-line" em várias lojas da especialidade ou directamente na loja do fabricante.

Website www.bookeen.com
Tamanho do ecrã 6 polegadas
Espaço de armazenamento 64 MB
Bateria Com uma carga pode ver 8 mil páginas, o que pode durar várias semanas
Preço Cerca de 280 euros