Notícia
Investir no futuro
Estamos a assistir, praticamente em directo, aos primeiros sinais de decadência económica dos países ocidentais. Em 1998, as economias emergentes representavam cerca de 15% da produção de riqueza mundial. Estão a chegar ao limiar dos 50%. Durante a...
Estamos a assistir, praticamente em directo, aos primeiros sinais de decadência económica dos países ocidentais. Em 1998, as economias emergentes representavam cerca de 15% da produção de riqueza mundial. Estão a chegar ao limiar dos 50%. Durante a última década, o crescimento das economias ocidentais foi, em grande parte, virtual e ampliado por um consumo privado financiado a crédito, enquanto a China e os outros grandes países emergentes acumulavam excedentes em valores exuberantes.
As economias ocidentais estão, infelizmente, condenadas a "ver passar o comboio" do crescimento económico durante as próximas décadas: por razões demográficas, com uma população em rápido envelhecimento, por razões macroeconómicas, pelo peso das dívidas públicas que vão contrariar a nossa capacidade de investimento produtivo, e porque, simplesmente, estamos perante mercados saturados quando comparados com a China ou o Brasil. O crescimento económico dos países ocidentais não será forçosamente nulo, mas sim claramente inferior ao dos países emergentes. Robert Fogel, Prémio Nobel de economia em 1993, prevê, assim, que a riqueza produzida por um chinês em 2040 seja duas vezes superior à de um europeu.
Em termos de mercados, não existem grandes dúvidas sobre o potencial dos países emergentes, beneficiários de cerca de 70% a 80% do crescimento económico dos últimos anos, e das próximas décadas. Mas poucos são os investidores que aplicam mais do que 10% ou 20% da sua carteira nesses mercados. O diferencial entre estes valores fala por si. Um investidor de longo prazo tem de apostar nestes mercados em força.
Não é necessário (embora aconselhável) ir comprar acções da China Telecom, da Petrobras ou da Tata para apostar no crescimento da China, do Brasil ou da Índia. A estratégia de investimento a longo prazo do célebre Warren Buffet está cada vez mais na actualidade de uma economia global: apostar em empresas com uma vantagem competitiva forte, que conseguem dominar uma indústria através de uma marca forte (Coca-Cola, Nokia) ou de uma superioridade técnica dificilmente copiável (Intel, Microsoft, Toyota). Os "leaders" da economia mundial, têm a capacidade financeira e o "know-how" necessários para acompanhar o crescimento desse mercado de três mil milhões de consumidores, seis vezes mais do que a Europa dos 27. E têm, ainda, a vantagem de conseguirem margens muito superiores aos outros actores.
Temos, também, de adaptar a nossa escolha de sectores aos desafios do século XXI: para além das energias renováveis, os sectores ligados às energias fósseis (prospecção, extracção e distribuição), às matérias-primas e aos produtos alimentares terão de acompanhar a "ocidentalização" dos hábitos de consumo de centenas de milhões de famílias. Entre 1991 e 2002, o consumo de carne dos chineses foi multiplicado por quatro. Para além desses produtos de base, muitos sectores serão afectados por esse movimento de fundo: agro-alimentar, saúde, produção energética, tratamento de água, infraestruturas de transportes, são bons exemplos de apostas acertadas.
Mercados com potencial, empresas globais, sectores de futuro. Uma análise com base nestes três critérios deve permitir-nos constituir a carteira do século XXI. Infelizmente, são poucas as empresas do PSI20 a encaixar em qualquer um deles. Estamos, mais uma vez, condenados a emigrar, mas desta vez podemos continuar a aproveitar o sol e a comida portuguesa.
*Administrador-executivo da Optimize