Notícia
Dinheiro voa para obrigações de mercados emergentes
Os fundos de obrigações das nações em desenvolvimento podem ser alvo do seu próprio sucesso. O capital pode abandonar os mercados emergentes tão depressa como chegou
21 de Setembro de 2010 às 09:00
James Bullard, o presidente do Reserva Federal de St. Louis, uma das unidades do banco central dos Estados Unidos da América, trocou as voltas aos investidores que gostam da segurança das obrigações. No início de Agosto, Bullard escreveu que "os EUA estão hoje mais próximos de um desenvolvimento ao estilo japonês do que alguma vez estiveram na sua histórica recente". Os investidores não ficaram satisfeitos ao saber que a estagnação económica prolongada da economia do Japão desde o início da década de 1990 podia ser replicada na economia norte-americana nas próximas décadas. Em situações de deflação e taxas de juro próximas de zero, como James Bullard insinuou que podia acontecer nos EUA, os investidores buscam a segurança das obrigações governamentais.
"Consequentemente, os preços (que se movem na direcção oposta das taxas de juro) das obrigações do tesouro estão actualmente a níveis elevados relativamente ao padrão histórico", lê-se num relatório recente da equipa de obrigações da sociedade gestora Franklin Templeton.
Quando as obrigações norte-americanas começam a dar sinais de encarecimento e os títulos na Europa estão menos estáveis, já que muitos países necessitam de corrigir défices excessivos, muitos investidores voltam-se para os mercados de dívida dos mercados emergentes. O resultado são milhões de euros e dólares a voarem dos estados desenvolvidos para as nações em desenvolvimento. Michael Hasenstab, um dos responsáveis pelo relatório da Franklin Templeton que alerta para os preços elevados das obrigações do tesouro norte-americano, é o que está mais ocupado na equipa da Franklin Templeton. Ele gere o Templeton Emerging Markets Bond, um fundo de obrigações de mercados emergentes que rendeu 26,71 por cento aos investidores portugueses no último ano e que, por isso, tem atraído muitos mais aforradores. Coreia do Sul, Egipto, Indonésia e Brasil são os principais destinos dos investimentos do fundo.
O Templeton Emerging Markets Bond é apenas um entre milhares de fundos de obrigações de mercados emergentes que estão a receber fluxos frequentes de capital. Na semana que terminou no dia 1 de Setembro, os fundos de obrigações receberam 2,99 mil milhões de euros, enquanto os fundos de acções perderam 5,37 mil milhões de euros, de acordo com os dados da EPFR Global, que segue os movimentos de dinheiro na indústria de fundos de investimento.
Obrigações em moeda local populares em Portugal
Em terras lusas, as obrigações de mercados emergentes também estão entre os principais alvos de aquisição. O Pictet Emerging Local Currency Debt, um fundo que investe em títulos de dívida emitida nas divisas das nações emergentes, tem sido um dos mais subscritos pelos clientes do Banco Best e do Banco Big. Estas instituições financeiras tinham, no final do segundo trimestre, 29,5 por cento e 8,0 por cento de quota de mercado na comercialização de fundos estrangeiros.
Simon Lue-Fong, o responsável pelo Pictet Emerging Local Currency Debt e pelo Pictet Global Emerging Debt, receia que as obrigações de mercados emergentes sejam vítimas do seu próprio sucesso. O gestor acredita que um dos principais riscos é a saída do dinheiro tão rapidamente como entrou nesses instrumentos de dívida. "Continuamos atentos a uma potencial mudança no sentido de uma tendência de fluxo de saída, o que poderá colocar uma pressão adicional sobre os mercados", avisou os investidores ainda no final de Junho passado.
Richard House, que lidera a gestão do Threadneedle Emerging Market Bond, também receia que as obrigações de mercados emergentes fiquem demasiado caras. "Depois das subidas recentes, as taxas de juro implícitas desta classe de activos caíram para mínimos de sempre e as valorizações começam a ficar algo esticadas", escreveu no comentário mensal do fundo. Por isso, o gestor decidiu encaixar algumas mais-valias - como em títulos venezuelanos, argentinos e indonésios - e reduzir o perfil de risco do fundo. Assim, Rússia, México, Brasil e Turquia tornaram-se nos principais emitentes no cabaz deste produto que investe maioritariamente em dívida pública.
Embora os fundos de obrigações de mercados emergentes estejam atraentes, o risco tende a ser superior ao dos fundos de obrigações tradicionais. Há inclusivamente casos de fundos de acções (como o Franklin Mutual Global Discovery, o Fidelity Global Health Care ou o BPI Reestruturações) que são menos voláteis que muitos fundos de obrigações de mercados emergentes. Se procura investir em dívida de países em desenvolvimento mas não quer arriscar muito, pode optar pelos fundos de obrigações da Europa de Leste: o risco é menor e o potencial de rendibilidade continua elevado. O Vontobel Eastern European Bond, um dos melhores da classe, segundo a Morningstar, rendeu cerca de 12 por cento no último ano. Contudo, se quiser realmente pouco risco, escolha um fundo como o Schroder Emerging Europe Debt Absolute Return que, com o perfil de risco médio baixo, rendeu 3,36 por cento nos últimos 12 meses, depois de descontar os impostos sobre as mais-valias.
Banguecoque inundada de dinheiro
É uma das poucas bolsas do mundo a assistir a uma volumosa entrada de capital que está a conduzir as acções para máximos
O dinheiro não tem ido apenas para as obrigações dos mercados emergentes. Alguns recantos accionistas têm assistido a um forte volume a entrar nas suas fronteiras. É o caso da Tailândia: a praça accionista recebeu mais de 430 milhões de euros nos últimos 12 meses, embora a maior parte tenha circulado apenas nas últimas semanas. Os economistas explicam que há duas razões para a entrada do capital: por um lado, há uma expectativa que a bolsa de Banguecoque continue a toada de subida (ganhou 50 por cento no último ano); por outro, a Tailândia goza de uma situação económica sólida ao nível público e privado. Recorde-se que o "rating" de dívida do reino asiático é melhor do que o português.
Além de um efeito directo na subida da divisa local, o baht, que está no máximo desde a crise asiática de 1997, a entrada de dinheiro está a elevar as cotações dos produtos que investem no país maioritariamente budista. "O risco de queda é muito limitado e as oportunidades de investimento no mercado accionista são bastante boas até ao final do ano", disse Usara Wilaipich, economista do Standard Chartered Bank, ao "Bangkok Post". O fundo Fidelity Thailand, que rendeu quase 60 por cento líquidos de impostos aos investidores portugueses que o mantiveram durante o último ano, está a aproveitar todas as oportunidades. Nem mesmo as manifestações antigovernamentais que assolam o país de 66 milhões de habitantes, que geram usualmente vítimas mortais, afastam os investidores da bolsa. Em Maio, a bolsa de valores de Banguecoque foi danificada num incêndio decorrente de tumultos. "Segundo a maioria dos indicadores, a Tailândia continua a ser um dos mercados mais baratos na região, por isso a única razão para os investidores se manterem afastados da Tailândia deve ser as preocupações relacionadas com a instabilidade política", disse o ministro das Finanças, Korn Chatikavanij, numa apresentação a investidores em Singapura no final de Agosto.
Embora o índice tailandês SET sofra com as crises globais, o efeito é menos pronunciado do que nas economias mais desenvolvidas. A prová-lo estão as rendibilidades de longo prazo da bolsa e dos fundos que investem nela exclusivamente. O fundo Amundi Thailand acumula um ganho líquido de impostos de quase 16 por cento por ano na última década, o segundo melhor registo entre cerca de 5800 produtos comercializados em Portugal, mostra a base de dados da Morningstar. À sua frente ficou apenas o BlackRock World Gold.
"Consequentemente, os preços (que se movem na direcção oposta das taxas de juro) das obrigações do tesouro estão actualmente a níveis elevados relativamente ao padrão histórico", lê-se num relatório recente da equipa de obrigações da sociedade gestora Franklin Templeton.
O Templeton Emerging Markets Bond é apenas um entre milhares de fundos de obrigações de mercados emergentes que estão a receber fluxos frequentes de capital. Na semana que terminou no dia 1 de Setembro, os fundos de obrigações receberam 2,99 mil milhões de euros, enquanto os fundos de acções perderam 5,37 mil milhões de euros, de acordo com os dados da EPFR Global, que segue os movimentos de dinheiro na indústria de fundos de investimento.
Obrigações em moeda local populares em Portugal
Em terras lusas, as obrigações de mercados emergentes também estão entre os principais alvos de aquisição. O Pictet Emerging Local Currency Debt, um fundo que investe em títulos de dívida emitida nas divisas das nações emergentes, tem sido um dos mais subscritos pelos clientes do Banco Best e do Banco Big. Estas instituições financeiras tinham, no final do segundo trimestre, 29,5 por cento e 8,0 por cento de quota de mercado na comercialização de fundos estrangeiros.
Simon Lue-Fong, o responsável pelo Pictet Emerging Local Currency Debt e pelo Pictet Global Emerging Debt, receia que as obrigações de mercados emergentes sejam vítimas do seu próprio sucesso. O gestor acredita que um dos principais riscos é a saída do dinheiro tão rapidamente como entrou nesses instrumentos de dívida. "Continuamos atentos a uma potencial mudança no sentido de uma tendência de fluxo de saída, o que poderá colocar uma pressão adicional sobre os mercados", avisou os investidores ainda no final de Junho passado.
Richard House, que lidera a gestão do Threadneedle Emerging Market Bond, também receia que as obrigações de mercados emergentes fiquem demasiado caras. "Depois das subidas recentes, as taxas de juro implícitas desta classe de activos caíram para mínimos de sempre e as valorizações começam a ficar algo esticadas", escreveu no comentário mensal do fundo. Por isso, o gestor decidiu encaixar algumas mais-valias - como em títulos venezuelanos, argentinos e indonésios - e reduzir o perfil de risco do fundo. Assim, Rússia, México, Brasil e Turquia tornaram-se nos principais emitentes no cabaz deste produto que investe maioritariamente em dívida pública.
Embora os fundos de obrigações de mercados emergentes estejam atraentes, o risco tende a ser superior ao dos fundos de obrigações tradicionais. Há inclusivamente casos de fundos de acções (como o Franklin Mutual Global Discovery, o Fidelity Global Health Care ou o BPI Reestruturações) que são menos voláteis que muitos fundos de obrigações de mercados emergentes. Se procura investir em dívida de países em desenvolvimento mas não quer arriscar muito, pode optar pelos fundos de obrigações da Europa de Leste: o risco é menor e o potencial de rendibilidade continua elevado. O Vontobel Eastern European Bond, um dos melhores da classe, segundo a Morningstar, rendeu cerca de 12 por cento no último ano. Contudo, se quiser realmente pouco risco, escolha um fundo como o Schroder Emerging Europe Debt Absolute Return que, com o perfil de risco médio baixo, rendeu 3,36 por cento nos últimos 12 meses, depois de descontar os impostos sobre as mais-valias.
Banguecoque inundada de dinheiro
É uma das poucas bolsas do mundo a assistir a uma volumosa entrada de capital que está a conduzir as acções para máximos
O dinheiro não tem ido apenas para as obrigações dos mercados emergentes. Alguns recantos accionistas têm assistido a um forte volume a entrar nas suas fronteiras. É o caso da Tailândia: a praça accionista recebeu mais de 430 milhões de euros nos últimos 12 meses, embora a maior parte tenha circulado apenas nas últimas semanas. Os economistas explicam que há duas razões para a entrada do capital: por um lado, há uma expectativa que a bolsa de Banguecoque continue a toada de subida (ganhou 50 por cento no último ano); por outro, a Tailândia goza de uma situação económica sólida ao nível público e privado. Recorde-se que o "rating" de dívida do reino asiático é melhor do que o português.
Além de um efeito directo na subida da divisa local, o baht, que está no máximo desde a crise asiática de 1997, a entrada de dinheiro está a elevar as cotações dos produtos que investem no país maioritariamente budista. "O risco de queda é muito limitado e as oportunidades de investimento no mercado accionista são bastante boas até ao final do ano", disse Usara Wilaipich, economista do Standard Chartered Bank, ao "Bangkok Post". O fundo Fidelity Thailand, que rendeu quase 60 por cento líquidos de impostos aos investidores portugueses que o mantiveram durante o último ano, está a aproveitar todas as oportunidades. Nem mesmo as manifestações antigovernamentais que assolam o país de 66 milhões de habitantes, que geram usualmente vítimas mortais, afastam os investidores da bolsa. Em Maio, a bolsa de valores de Banguecoque foi danificada num incêndio decorrente de tumultos. "Segundo a maioria dos indicadores, a Tailândia continua a ser um dos mercados mais baratos na região, por isso a única razão para os investidores se manterem afastados da Tailândia deve ser as preocupações relacionadas com a instabilidade política", disse o ministro das Finanças, Korn Chatikavanij, numa apresentação a investidores em Singapura no final de Agosto.
Embora o índice tailandês SET sofra com as crises globais, o efeito é menos pronunciado do que nas economias mais desenvolvidas. A prová-lo estão as rendibilidades de longo prazo da bolsa e dos fundos que investem nela exclusivamente. O fundo Amundi Thailand acumula um ganho líquido de impostos de quase 16 por cento por ano na última década, o segundo melhor registo entre cerca de 5800 produtos comercializados em Portugal, mostra a base de dados da Morningstar. À sua frente ficou apenas o BlackRock World Gold.