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Abençoe o seu dinheiro
Investir segundo as crenças religiosas tem benefícios não monetários, dizem os académicos. Uma nova geração de fundos está a aproveitar essa oportunidade.
15 de Setembro de 2010 às 11:42
O bom desempenho do fundo Credit Suisse EF Christian Values - que em 2008 foi o fundo comercializado em Portugal que liderou a tabela de rendibilidades - não foi suficiente para a sociedade gestora suíça continuar a oferecê-lo aos investidores que procuravam um instrumento que seguisse os princípios cristãos. No início de 2009, o produto foi liquidado, "porque o baixo nível dos activos não permitia que o fundo fosse efectivamente gerido", de acordo com o aviso enviado aos investidores. O fecho do Credit Suisse EF Christian Values foi um duro golpe para os aforradores que queriam investir segundo a sua fé e um sinal às entidades gestoras que há cada vez menos investidores desse tipo.
O golpe foi violento mas não mortal. No seu último trabalho, Ayesha Khan e Tarun Khanna, investigadores da Harvard Business School, alertam para "a existência de benefícios não monetários (…) associados com o consumo de soluções [financeiras] religiosas". Os dois académicos mostram que há, de facto, interesse no investimento em produtos religiosos, embora seja muita vezes considerado um luxo. Através de sondagem, Khan e Khanna mostram que normalmente os produtos religiosos são adquiridos a par com soluções não religiosas.
À luz de novas revelações, como o estudo da dupla de Harvard, as sociedades gestoras voltaram-se para outra estrutura de produtos religiosos: os fundos cotados na bolsa, que podem ser adquiridos como se fossem acções. Desde que o Credit Suisse EF Christian Values fechou, a bolsa de Nova Iorque recebeu cinco fundos geridos pela FaithShares que compram e vendem acções conforme a fé cristã, católica, baptista, luterana e metodista. O gestor Garret Stevens explica que os portefólios são muitos semelhantes (e logo as rendibilidades), porque os princípios são muito próximos. Há, no entanto, diferenças: o fundo cristão é o único que não exclui as empresas de armamento, embora o fundo luterano apenas bloqueie o investimento em produtores de armas de destruição em massa. No final de Agosto, os cinco fundos valiam 7,8 milhões de euros.
Islão cresce mais
Antes da FaithShares nascer, já a sociedade gestora Javelin tinha lançado o JETS Dow Jones Islamic Market International Index Fund, que investe segundo as normas da lei islâmica provenientes do Corão e dos ensinamentos do profeta Maomé. As regras da Charia, como são conhecidas essas leis, são mais apertadas do que as dos fundos da FaithShares: jogos de azar, tabaco, carne de porco, bebidas alcoólicas inebriantes, armas, diversão, pornografia e actividades financeiras não estruturadas conforme a perspectiva islâmica não são aceites. A Javelin contratou um conselho consultivo, formado por estudiosos das leis islâmicas, para supervisionar as aquisições. No início de Agosto, os títulos da mineira BHP Billiton, das petrolíferas BP e Total e da farmacêutica Novartis preenchiam os lugares cimeiros da carteira o fundo.
Os muçulmanos portugueses não precisam de dizer aos seus intermediários financeiros para comprarem unidades do fundo cotado na bolsa de Nova Iorque. O Banco Best comercializa dois produtos da Allianz que também negoceiam acções segundo a Charia. O Allianz RCM Islamic Global Equity Opportunities tem um âmbito internacional, mas é concentrado nos mercados norte-americanos, como os títulos da NetApp e da Estée Lauder Companies. O Allianz RCM Islamic Global Emerging Markets Equity investe em sociedades de mercados emergentes, como a Samsung Electronics da Coreia do Sul e a Hon Hai da Formosa. Ambos renderam cerca de seis por cento no último ano. Os consultores contratados pela Allianz permitem que uma pequena parte das receitas das empresas que fazem parte dos fundos tenha origem em sectores menos próprios, mas, nesses casos, é preciso proceder a uma "purificação": transferem os rendimentos alcançados para instituições de caridade.
CABAZES DE FÉ
Embora ainda sejam recentes, o fundo que segue a crença baptista foi o que
mais valorizou desde o início do ano.
O golpe foi violento mas não mortal. No seu último trabalho, Ayesha Khan e Tarun Khanna, investigadores da Harvard Business School, alertam para "a existência de benefícios não monetários (…) associados com o consumo de soluções [financeiras] religiosas". Os dois académicos mostram que há, de facto, interesse no investimento em produtos religiosos, embora seja muita vezes considerado um luxo. Através de sondagem, Khan e Khanna mostram que normalmente os produtos religiosos são adquiridos a par com soluções não religiosas.
INVESTIR COMO AS FREIRAS O objectivo inicial da estratégia OBAM era proteger o património de um mosteiro francês. Rolf Stout, o gestor responsável pelo fundo BNP Paribas L1 OBAM Equity World, não é obrigado a seguir princípios cristão na selecção de acções. Todavia, há um imperativo histórico para o fazer. A estratégia OBAM (iniciais neerlandesas para "sociedade de administração e investimento mútuo") foi desenvolvida em 1936 quando freiras francesas, receando que o governo anticlerical empenhasse o património dos mosteiros, pediram a uma sociedade holandesa que o investisse. A estratégia foi um sucesso, o que levou a sociedade, que já na década de 1990 foi absorvida pelo Fortis e, posteriormente, pelo BNP Paribas, a abrir o capital do fundo a vários investidores, mantendo as regras de investimento. "Com uma rendibilidade média anual superior a 10 por cento desde Julho de 1954, um dos fundos mais antigos holandeses tem o prazer de olhar para o passado e ter confiança no futuro", indica o sítio na internet de promoção do produto, que nos Países Baixos ainda é conhecido por Fortis OBAM. Tal como acontecia ao longo da II Guerra Mundial, Rolf Stout, o quarto gestor ao leme do fundo, investe em acções internacionais. Os títulos do bancos ING Groep e Wells Fargo, da brasileira Vale e da suíça ABB eram as principais apostas no início do semestre. Nos últimos 12 meses, este produto, que é comercializado pelo Banco Best, desvalorizou 6,73 por cento, segundo a Morningstar. |
Islão cresce mais
Antes da FaithShares nascer, já a sociedade gestora Javelin tinha lançado o JETS Dow Jones Islamic Market International Index Fund, que investe segundo as normas da lei islâmica provenientes do Corão e dos ensinamentos do profeta Maomé. As regras da Charia, como são conhecidas essas leis, são mais apertadas do que as dos fundos da FaithShares: jogos de azar, tabaco, carne de porco, bebidas alcoólicas inebriantes, armas, diversão, pornografia e actividades financeiras não estruturadas conforme a perspectiva islâmica não são aceites. A Javelin contratou um conselho consultivo, formado por estudiosos das leis islâmicas, para supervisionar as aquisições. No início de Agosto, os títulos da mineira BHP Billiton, das petrolíferas BP e Total e da farmacêutica Novartis preenchiam os lugares cimeiros da carteira o fundo.
Os muçulmanos portugueses não precisam de dizer aos seus intermediários financeiros para comprarem unidades do fundo cotado na bolsa de Nova Iorque. O Banco Best comercializa dois produtos da Allianz que também negoceiam acções segundo a Charia. O Allianz RCM Islamic Global Equity Opportunities tem um âmbito internacional, mas é concentrado nos mercados norte-americanos, como os títulos da NetApp e da Estée Lauder Companies. O Allianz RCM Islamic Global Emerging Markets Equity investe em sociedades de mercados emergentes, como a Samsung Electronics da Coreia do Sul e a Hon Hai da Formosa. Ambos renderam cerca de seis por cento no último ano. Os consultores contratados pela Allianz permitem que uma pequena parte das receitas das empresas que fazem parte dos fundos tenha origem em sectores menos próprios, mas, nesses casos, é preciso proceder a uma "purificação": transferem os rendimentos alcançados para instituições de caridade.
CABAZES DE FÉ
Embora ainda sejam recentes, o fundo que segue a crença baptista foi o que
mais valorizou desde o início do ano.