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Trader fantasma abala mercado de energia mais antigo do mundo

A transacção que derrubou o historial de sucesso do operador Einar Aas foi uma aposta de que o spread entre a electricidade nórdica e a alemã diminuiria. Correu mal.

Reuters
22 de Setembro de 2018 às 13:00
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Durante quase duas décadas, Einar Aas foi o trader mais bem-sucedido num dos maiores mercados de energia da Europa. Ele também era um fantasma.

 

Todos os outros traders o conheciam de nome, mas quase ninguém o conhecia pessoalmente. Einar Aas, actualmente com 47 anos, não participava em reuniões de traders, conferências ou encontros do sector. Passava a maior parte do tempo em casa, fazendo enormes apostas no sector de energia nórdico em Grimstad, uma pequena cidade do litoral a três horas a sul de Oslo. Lá, acumulou uma fortuna negociando por conta própria - em 2016 tornou-se o maior contribuinte individual da Noruega. Este ano, fez uma aposta grande demais.

 

No passado dia 13 de Setembro, o Nasdaq, cujo mercado financeiro do sector de energia nórdico é usado por mais de 160 traders do norte da Europa, anunciou que tinha expulsado Aas por este ter acumulado milhões de euros em prejuízos que não conseguiria compensar.

 

Aas é extremamente tímido. Comprou uma casa enorme à beira-mar em 2004 e depois gastou muitos milhões a comprar propriedades em seu redor para garantir que tinha privacidade. Aparentemente, nunca concedeu nenhuma entrevista. E as tentativas de entrar em contacto com ele depois do escândalo não foram bem sucedidas.

 

A Bloomberg reconstruiu a história da sua ascensão e queda a partir de conversas com outros traders, que pediram anonimato por estarem a falar sobre um concorrente, e com base em reportagens da imprensa norueguesa.

 

Aas é o terceiro de quatro irmãos que cresceram numa quinta nos arredores de Grimstad. A sua facilidade com os números ficou clara desde pequeno: tinha notas altas e foi descrito no álbum da escola como o "bookmaker da turma". Ex-colegas de turma e da escola disseram que ele gostava de jogar póquer e de apostar em cavalos.

 

Aas começou a trabalhar como gestor de risco na Interkraft Trading, mas depressa começou a trabalhar por conta própria. O seu antigo chefe, Lars Eckhardt, disse que Aas chegava ao escritório antes de todos e que entendia a relação entre risco e retorno. Em pouco tempo, tornou-se o seu melhor trader. Aas saiu em 2001 para montar a sua própria empresa, a Kraftinvest. A partir de 2005, passou a negociar em seu próprio nome.

 

Período de sucesso

 

No início da década passada, os mercados de energia, da electricidade ao petróleo e ao carvão, tiveram um período de sucesso que durou anos - até que a crise financeira estrangulou as linhas de crédito para as negociações e os preços afundaram. E, embora Aas tenha sofrido perdas, como a maioria dos traders, desde 2002 registou um lucro tributável total de 3,5 mil milhões de coroas norueguesas (366,8 milhões de euros).

 

Um trader que o admira disse que, apesar da perda enorme, não dá para esquecer que durante 15 anos ele provavelmente fez apostas maiores e melhores do que qualquer outra pessoa em todo o mercado.

 

A transacção que derrubou o historial de sucesso de Aas foi uma aposta de que o spread entre a electricidade nórdica e a alemã diminuiria. Quando o mercado abriu na segunda-feira, 17 de Setembro, as licenças de emissão de carbono, a commodity de melhor desempenho este ano, estavam em alta. Isso ajudou a empurrar o mercado alemão para cima, mas, ao mesmo tempo, as previsões meteorológicas de mais chuvas provocaram a maior queda – desde Janeiro de 2017 – do contrato nórdico do próximo ano. Aas viu-se em apuros.

 

Numa declaração ao jornal Dagens Naeringsliv na quinta-feira, Aas disse que tinha tomado uma posição que era demasiado grande em relação à liquidez do mercado. Depois de "mudanças de preço extraordinárias" nos contratos nórdicos e alemães, foi forçado a pagar à bolsa os seus últimos fundos líquidos disponíveis. Isso não foi suficiente e, às 8h20 de 11 de Setembro, Aas foi declarado insolvente e foi-lhe nomeado um gestor de insolvência, no âmbito de um plano de recuperação.

 

O seu portefólio foi liquidado na noite de quarta-feira, 12 de Setembro. Foi comprado por um dos maiores traders do mercado, segundo uma pessoa a par do leilão que pediu para não ser identificada porque a informação é confidencial. Quatro empresas foram convidadas para participar no leilão.

 

 

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