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"Dação em pagamento não é a panaceia para todos os problemas"

A directiva é um passo importante, mas não o último no âmbito da reforma do crédito hipotecário na União Europeia. Antolín Sánchez Presedo, eurodeputado do PSOE, explicou ao Negócios que, nos próximos meses, apresentará outras medidas no âmbito do dossiê "empréstimos responsáveis".

29 de Fevereiro de 2012 às 12:00
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Relativamente ao mercado hipotecário em Portugal, como será implementada esta directiva?

A directiva vai produzir um impacto positivo no funcionamento dos mercados hipotecários no sentido em que vai facilitar que as instituições financeiras sigam processos fiáveis e consistentes para alcançar acordos. Mas, é evidente que os mercados em que se verificaram excessos imobiliários necessitarão de um período de tempo para os resolver. Contudo, Portugal está numa situação muito similar à média da União Europeia e estou convencido de que esta directiva será positiva para a evolução também do seu mercado imobiliário.


Uma das propostas que apresentou foi a regulamentação da dação em pagamento, como sendo suficiente para saldar a totalidade do empréstimo. É um tema que está a ser muito discutido em alguns países. Como deve ser feita?

A única proposta para que seja incluída a dação em pagamento na directiva foi minha. Proponho que os Estados-membros regulem a dação em pagamento, como forma de saldar o empréstimo, e que ela seja autorizada quando as partes assim o acordem. O sistema hipotecário europeu deverá caracterizar-se pela flexibilidade e uma das figuras importantes pode ser a dação em pagamento. Mas, temos de assegurar que os contratos sejam cumpridos e devemos dar à problemática o tratamento mais adequado às suas necessidades. Muitas famílias o que querem é conservar a sua casa e, às vezes, tratam-se de situações transitórias e que precisam mais de uma reprogramação do empréstimo e de elementos de flexibilidade.


Esta é, aliás, uma das medidas que constam do código de boas práticas apresentado, na semana passada, pelo Governo espanhol...

O código de boas práticas poderá incluir a dação em pagamento para os sectores mais vulneráveis e penso que essa proposta poderá encaixar-se dentro da linha do que estamos a fazer na União Europeia. Mas, no caso espanhol, o que será estabelecido é que as entidades financeiras que acedam à dação em pagamento poderão incluir as perdas como gastos, no âmbito fiscal. Com isso não estou de acordo, porque significa transferir o risco das entidades financeiras para o conjunto dos cidadãos. São os cidadãos que pagam a factura.


Mas, então, como se podem incentivar os bancos a aceitar a dação em pagamento?

A dação em pagamento não é a panaceia para todos os problemas. Não devem ser adoptadas medidas generalistas. Em alguns casos, as soluções podem ser ajudas sociais, alugueres, pode declarar-se directamente a nulidade do contrato, etc. Há uma grande gama de respostas. A dação em pagamento pode ser uma solução em determinados casos, sem ter benefícios fiscais. Não se deve pensar que é a solução mais adequada para resolver os problemas porque, em muitas ocasiões, a alternativa para as entidades financeiras é o fracasso total na execução do contrato.


Recentemente, a imprensa espanhola revelou também que os bancos do país estariam a ponderar substituir a Euribor no cálculo das prestações no crédito à habitação. Como é que a directiva aborda esta temática?

Em relação aos contratos de taxa variável estamos interessados que se estabeleça um índice e que esse índice seja objectivo, público e que não gere elementos de instabilidade. Tem de ser um índice fiável, não pode ser um elemento aleatório, tem de haver transparência, publicidade e objectividade, pois deve constar da informação pré contratual para que a todo o momento se possa ter conhecimento da sua evolução.

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