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Por que estão os países emergentes a abalar as bolsas mundiais
O Société Générale diz que investir neste momento nos mercados emergentes, aproveitando a forte queda das cotações nas últimas semanas, é como tentar "apanhar uma faca em queda". Bolsas e divisas devem continuar a afundar. Europa tenta resistir ao abalo
Receios com o crescimento económico e com o sector bancário na China e a instabilidade na Turquia e na Ucrânia estão a agravar o êxodo dos investidores globais. Em simultâneo, a decisão da Argentina de deixar desvalorizar o peso alimentou os receios de uma crise cambial na região, que estão também a abalar as bolsas europeias.
As bolsas e as divisas dos países emergentes são uma região pouco favorecida pelos investidores globais há quase um ano, desde que a Reserva Federal dos EUA sinalizou a redução dos estímulos monetários. Desde Maio "tem havido fluxos significativos de saída de vários activos ligados aos mercados emergentes, mas o fluxo negativo poderá continuar, tendo em conta as entradas elevadas nos últimos anos", escreve o Société Générale em nota de reacção às fortes quedas nas bolsas emergentes estes dias.
O MSCI Emerging Markets derrapou segunda-feira pela terceira sessão consecutiva e perde mais
Crises nas bolsas emergentes, de vez em quando, fazem parte da vida.
Holger Schmieding
Economista-chefe do Berenberg
de 5% este ano. Se até ao momento as acções chinesas vinham resistindo às quedas dos últimos meses, os receios em torno da segunda maior economia do mundo agravaram-se com a queda inesperada num índice avançado que mede a actividade industrial no país. O dado, divulgado quinta-feira, coincidiu com uma ameaça de colapso de um fundo ligado ao maior banco do país, o ICBC.
Os economistas e investidores debatem, agora, se as tensões vão continuar a agravar-se nos países em desenvolvimento, ameaçando o optimismo em relação aos mercados desenvolvidos, ou se as bolsas emergentes vão recuperar. "Crises nos mercados emergentes, de vez em quando, fazem parte da vida", diz Holger Schmieding. O economista-chefe do Berenberk Bank está confiante de que, quando se amenizarem as tensões políticas e civis na Turquia e na Ucrânia, a situação deve normalizar-se.
Contudo, "os países com défices de conta corrente elevados, tensões políticas ou um modelo de crescimento dependente da subida dos preços das matérias-primas estão vulneráveis", diz Schmieding. Além disso, muitos destes países têm eleições em 2014, alerta o Goldman Sachs. Países como o Brasil, a Índia e a África do Sul, "além de tentarem executar uma refundação económica difícil, terão de fazê-lo enquanto gerem transições políticas potencialmente complicadas", diz o Goldman.
Enquanto a consultora Capital Economics acredita que a forte pressão negativa que se abateu sobre os mercados emergentes "começa a parecer exagerada", estrategos como os do Société Générale dizem não ver "um fundo à vista para os mercados emergentes". "As acções estão cada vez mais baratas, mas nem por isso consideramos que este é um bom ponto de entrada", diz o banco francês, adiantando que "a nossa estratégia é esperar e só mais adiante no ano procurar valor nas acções dos países emergentes".
Com excepção da Grécia, penalizada pelas ligações próximas à Turquia, as bolsas europeias moderaram um pouco as quedas no final da sessão de segunda-feira. A crise nos emergentes conseguiu anular muito do apetite pelo risco que marcou a primeira metade do mês de Janeiro, mas a tendência positiva mantém-se, diz o SocGen.
Economia e banca na China preocupam
Um índice avançado sobre a actividade industrial na China foi inesperadamente fraco e reforçou os receios sobre o crescimento da segunda maior economia do Mundo. Ao mesmo tempo, um fundo ligado ao ICBC entrou em algumas dificuldades.
Argentina reduz intervenção no mercado e peso afunda
O governo argentino, em conjunto com o banco central local, decidiu parar de intervir no mercado para sustentar o valor oficial do peso argentino face ao dólar. A moeda afundou.
Instabilidade civil na Turquia e na Ucrânia cresce
As divisas dos países emergentes foram também castigadas pelo escalar das tensões civis e políticas que se arrastam na Turquia e que se acentuaram em Kiev nos últimos dias.
Fed deve continuar a reduzir estímulos
Os economistas prevêem que a Fed irá cortar em mais 10 mil milhões de dólares o ritmo mensal a que tem comprado activos financeiros no mercado. A redução dos estímulos pelo banco central norte-americano está há quase um ano a desvendar as fragilidades de países como o Brasil e a Índia.