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Os abacates são o novo carvão para os hedge funds que perseguem investimentos sustentáveis
À medida que os clientes começam a recompensar e punir gestores de ativos pelas suas credenciais ecológicas, cada vez mais hedge funds avançam com medidas concretas: desde plantar abacateiros até vender ativos de carvão.
Tem sido uma mudança de paradigma muito rápida: há pouco mais de um ano, menos de quatro em cada 10 hedge funds consideravam que fatores ambientais, sociais e de gestão (ESG, na sigla inglesa) estavam a ganhar importância.
Mas rivais que incorporaram questões ESG registam agora entradas recorde, ao mesmo tempo que investidores influentes ameaçam demitir gestores que não reduzam os seus riscos climáticos. Com isso, os hedge funds enfrentam a perspetiva de perderem os seus clientes numa indústria que está a ver o dinheiro a escapar, perante as promessas verdes de empresas como a TCI Fund Management e a Algebris Investments.
"Quer o vejamos como uma jogada de marketing ou como um esforço genuíno para mitigar o seu impacto ambiental, o resultado é inquestionavelmente positivo", disse Adam Jones, sócio da consultora de investimentos Albert E. Sharp. É "algo que o nosso processo de investimento procura identificar num gestor de fundos".
Colocar hedge funds e clima na mesma frase normalmente gera sarcasmo num setor conhecido pelas suas motivações de lucro sem compromissos. Mas com 3 biliões de dólares em ativos, e capacidade de fazer apostas contra ações e exigir mudanças nas carteiras de investimentos, esses fundos têm um grande poder para impor reformas aos poluidores ou apoiar empresas verdes.
O líder atual do grupo é Chris Hohn. Quando o presidente do TCI realizou o seu encontro anual com investidores em meados do ano passado no hotel Mandarin Oriental, em Nova Iorque, foi apresentada uma pista da futura estratégia da temida empresa ativista no próprio menu do evento: um banquete de iguarias vegan e nem uma fatia de carne à vista.
Talvez na mensagem mais clara do setor para as direções e administrações, Hohn está a pressionar as empresas do seu portefólio a reduzirem emissões ou sofrerem as consequências. Com 30 mil milhões de dólares em ativos sob gestão, o responsável também pediu a demissão de gestores que não pressionem as empresas a reduzirem a sua pegada de carbono. Hohn chegou a doar 200 mil libras ao movimento climático radical Extinction Rebellion.
Embora muitos concorrentes de Hohn ainda não tenham adotado uma postura tão dura, alguns já vão na mesma direção. A londrina Algebris, de Davide Serra, com 12,5 mil milhões de dólares em ativos, está a plantar 25 mil pés de eucalipto, manga, laranja e abacate em vilarejos da Tanzânia para compensar a sua pegada de carbono, juntando-se a programas do Fórum Económico Mundial e influenciadores do YouTube.
"Investir é a nossa missão e o ESG é a nossa alma", escreveu Serra aos clientes enquanto anunciava os planos para combater as alterações climáticas no mês passado.
A Lyxor Asset Management, com sede em Paris, que gere quase 170 mil milhões de euros em investimentos e oferece estratégias de hedge funds, está a sair de empresas muito expostas ao carvão. Até agora, a empresa vendeu ativos de cerca de 350 milhões de euros.
A AQR Capital Management, de Cliff Asness, gere 10 mil milhões de dólares em carteiras de baixo carbono, enquanto mais de 80% dos seus 186 mil milhões de dólares em ativos usam sinais de trading relacionados ao ESG.
A Man Group tem uma política de usar energia renovável nos seus edifícios sempre que possível, sendo que cerca de 75% dos seus funcionários trabalham nesses escritórios. A Winton, firma de investimento quantitativo do bilionário David Harding, está a ajudar a apoiar empresas em estágio inicial que desenvolvem tecnologias renováveis de ponta, como fusão nuclear e energia solar.
Alguns dos maiores hedge funds do mundo, como o Millennium Management, Renaissance Technologies e Marshall Wace, não quiseram comentar quando questionados sobre as suas iniciativas ESG. O maior de todos, a Bridgewater Associates, não respondeu aos pedidos de comentário.