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Os 10 possíveis cisnes negros de 2017
O Saxo Bank já identificou os 10 cenários mais improváveis para o próximo ano – que, a concretizarem-se, serão autênticos cisnes negros. Entre eles está um Bremain.
Até 1697, acreditava-se que só existiam cisnes brancos. Mas, nesse ano, foi avistado um cisne negro na Austrália, o que deitou por terra a teoria da exclusividade da espécie branca. Mais tarde, em 1758, o sueco Carl Linnaeus introduziu as descrições formais de todas as espécies animais e vegetais, e o cisne negro foi posteriormente descrito, em 1790, pelo naturalista inglês John Latham. Quase 100 anos depois do primeiro avistamento, "ganhou vida" e tornou-se real - nos livros.
Em 2007, libanês Nassim Taleb, professor na Universidade de Nova Iorque, escreveu um livro precisamente com o título 'The Black Swan', descrevendo o cisne negro como um acontecimento bastante raro e improvável, com um grande impacto no sistema social, político e financeiro em caso de concretização.
Este ano, por exemplo, já aconteceram dois cisnes negros. Contrariando a generalidade das expectativas e sondagens, o Reino Unido decidiu, em referendo a 23 de Junho, sair da União Europeia (o chamado Brexit); e o candidato republicano Donald Trump venceu as eleições norte-americanas no passado dia 8 de Novembro.
Os analistas do Saxo Bank, à semelhança dos últimos anos, já fizeram a sua lista das 10 maiores improbabilidades de 2017. São estes os seus cisnes negros:
- PIB da China cresce 8% e índice de Xangai dispara para 5.000 pontos
A China entende que chegou ao fim do caminho nesta sua actual fase de crescimento da actividade industrial e das infra-estruturas, pelo que, através de um forte estímulo das políticas orçamentais e monetárias, abre os mercados de capitais para gerir com êxito uma transição para o crescimento impulsionado pelo consumo. Isso irá traduzir-se num crescimento de 8% em 2017, com o ressurgimento a dever-se sobretudo ao sector dos serviços. A euforia deste crescimento impulsionado pelo consumo privado levará o índice Shanghai Composite a duplicar face a 2016, superando os 5.000 pontos.
- Fed segue os passos do Banco do Japão
À medida que as taxas de juro do dólar e dos EUA aumentam de forma cada vez mais dolorosa em 2017, a política orçamental "impulsionada pela testosterona do novo presidente norte-americano" levará a que os juros das Obrigações do Tesouro a 10 anos subam para 3%, provocando o pânico no mercado. À beira do desastre, a Reserva Federal (Fed) copia o controlo da curva de rendimentos que é feito pelo Banco do Japão (BoJ), fixando as ‘yields’ das OT a 10 anos em 1,5%, mas de um ângulo diferente, introduzindo um QE4 (quarta ronda de flexibilização quantitativa, com a compra de activos como estímulo à economia). Isto, por seu lado, travará rapidamente a liquidação nos mercados globais de acções e obrigações, o que conduzirá ao maior ganho dos mercados da dívida em sete anos.
- Taxa de incumprimento das obrigações corporativas chega aos 25%
Com a taxa média de incumprimento a longo prazo das obrigações das empresas actualmente nos 3,77% – que aumentou durante as recessões nos EUA em 1990, 2000 e 2009 para 16%, 10% e 12%, respectivamente –, em 2017 esta subirá para 25%. Ao atingir os limites da intervenção dos bancos centrais, os governos de todo o mundo avançam para estímulos orçamentais, o que leva a um aumento das taxas de juro e acentua drasticamente a curva de rendimentos. Com taxas de incumprimento nos 25%, as empresas ineficientes deixam de ser viáveis, o que permite uma alocação mais eficiente do capital.
- Não vai haver Brexit, que dará lugar ao Bremain
O aumento do populismo a nível mundial, observado de ambos os lados do Atlântico, fará com que a União Europeia tenha uma atitude mais cooperante face ao Reino Unido. À medida que avançam as negociações, a UE faz concessões-chave relativamente à imigração e aos direitos de passaporte das empresas de serviços financeiros sediadas no Reino Unido, e quando o artigo 50º for accionado e submetido ao Parlamento britânico será rejeitado em prol de um novo acordo. O Reino Unido mantém-se na órbita da UE, o Banco de Inglaterra sobe a taxa de juro para 0,5% e o euro cai para 0,73 pence.
- Cobre cai para mínimos de sempre
O cobre é um dos claros ganhadores, entre as matérias-primas, desde as eleições norte-americanas [dada a expectativa de que o aumento da despesa em infra-estruturas, pela Administração Trump, impulsione o sector da construção e os materiais mais usados, como é o caso deste metal de base]. No entanto, em 2017 o mercado começará a dar-se conta de que o novo presidente terá dificuldades em levar a cabo os investimentos prometidos, pelo que o esperado aumento da procura de cobre não irá materializar-se. Perante o crescente descontentamento do país, Trump reforçará as medidas proteccionistas, introduzindo barreiras comerciais que constituirão um problema sobretudo para os mercados emergentes e Europa. O crescimento mundial começa a debilitar-se, ao passo que na China a procura de metais industriais diminui e o cobre regressa aos mínimos atingidos em 2009.
- Bitcoin destaca-se em alta entre as criptomoedas
Com a Administração Trump, a despesa pública dos EUA aumentará o défice orçamental de 600.000 milhões para 1,2-1,8 mil milhões de dólares. Isso fará o crescimento e a inflação dos Estados Unidos dispararem, obrigando a Fed a acelerar a subida dos juros e a que o dólar atinja novos máximos. Este cenário criará um efeito dominó nos mercados emergentes, em particular na China, levando a que se procure alternativas ao sistema monetário dominado pelo dólar e pela sua excessiva dependência da política monetária norte-americana. Neste contexto, crescerá a popularidade das criptomoedas como alternativa, sendo a Bitcoin a que sairá mais beneficiada. À medida que os sistemas bancários e países como a Rússia e China forem agindo no sentido de aceitar a Bitcoin como uma alternativa parcial ao dólar, o valor desta moeda virtual triplicará, passando dos actuais 700 dólares para 2.100 dólares.
- Reforma da saúde nos EUA gera pânico no sector
Os gastos em saúde nos Estados Unidos ascendem a cerca de 17% do PIB (quando a média mundial é de 10%) e há uma proporção cada vez maior da população norte-americana que não consegue pagar as suas facturas médicas. A recuperação inicial dos títulos ligados aos cuidados de saúde, após a vitória de Trump nas presidenciais de 8 de Novembro, irá desvanecer-se rapidamente em 2017, já que os investidores se darão conta de que a sua Administração não será fácil e que lançará reformas radicais no improdutivo e dispendioso sistema de saúde norte-americano.
- Peso mexicano vai recuperar
O mercado sobrestimou fortemente a verdadeira intenção de Donald Trump, ou mesmo a sua capacidade para reprimir o comércio com o México, o que permitirá que o peso mexicano – bastante castigado com a eleição do republicano – ganhe terreno. Enquanto isso, o Canadá irá ser penalizado, à medida que as taxas de juro mais altas começarem a dar corpo a uma crise creditícia no mercado de concessão de empréstimos à habitação. O Banco do Canadá terá de avançar com uma flexibilização quantitativa, injectando capital no sistema financeiro.
- Bancos italianos vão valorizar mais de 100%
Os bancos alemães estão mergulhados na espiral das taxas de juro negativas e das curvas de rendimento planas, não podendo aceder aos mercados de capitais. Um resgate bancário alemão, no contexto da União Europeia, significa inevitavelmente um resgate bancário da UE – o que ajudará os bancos italianos, a braços com crédito malparado e uma economia estancada. A nova garantia permitirá recapitalizar o sistema bancário e será criado um Banco Europeu de Malparado para limpar os balanços da Zona Euro e conseguir que o mecanismo do crédito bancário volte a funcionar. As acções da banca italiana dispararão mais de 100%.
- UE estimula crescimento através de Eurobonds
Face ao crescente avanço dos partidos populistas na Europa, e com a vitória do partido de extrema-direita de Geert Wilders na Holanda, os partidos políticos tradicionais começam a distanciar-se das políticas de austeridade e a favorecer as políticas de estilo Keynesiano lançadas pelo presidente Roosevelt depois da crise de 1929. A UE irá promover um plano de estímulos faseado por seis anos, no valor de 630.000 milhões de euros, apoiado pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Mas, para evitarem a diluição resultante do aumento das importações, os líderes da União Europeia anunciarão a emissão de Eurobonds, inicialmente orientada para mil milhões de euros de investimento em infra-estruturas, reforçando a integração da região e impulsionando as entradas de capital no bloco europeu.