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Os 10 possíveis cisnes negros de 2017

O Saxo Bank já identificou os 10 cenários mais improváveis para o próximo ano – que, a concretizarem-se, serão autênticos cisnes negros. Entre eles está um Bremain.

O referendo realizado a 23 de Junho de 2016 no Reino Unido, que levou os britânicos a votarem pela permanência do país na UE (Bremain) ou pela sua saída (Brexi), ditou o divórcio. O resultado foi inesperado, tendo sido considerado um dos 'cisnes negros' desse ano – o outro viria a surgir em Novembro, quando Donald Trump ganhou as eleições presidenciais nos EUA. Os mercados foram apanhados de surpresa com o Brexit, com as bolsas e a libra a afundarem a 24 de Junho.
Esta semana, os ventos britânicos voltaram a trazer alguma instabilidade aos mercados, depois de várias baixas no governo de Theresa May. A última delas, aprovada pela mesma, foi a de Boris Johnson, que largou a pasta dos Negócios Estrangeiros, tendo sido substituído por Jeremy Hunt. Antes desta mudança, David Davis, o ministro do Brexit, abdicou da posição, e saiu acompanhado de Steve Baker, o seu número dois.  Os ministros demitiram-se por não se reverem no plano para o Reino Unido que May está a delinear para quando o país sair da União Europeia e que aponta para um 'soft Brexit'.
Reuters
07 de Dezembro de 2016 às 18:21
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Até 1697, acreditava-se que só existiam cisnes brancos. Mas, nesse ano, foi avistado um cisne negro na Austrália, o que deitou por terra a teoria da exclusividade da espécie branca. Mais tarde, em 1758, o sueco Carl Linnaeus introduziu as descrições formais de todas as espécies animais e vegetais, e o cisne negro foi posteriormente descrito, em 1790, pelo naturalista inglês John Latham. Quase 100 anos depois do primeiro avistamento, "ganhou vida" e tornou-se real - nos livros.


Em 2007, libanês Nassim Taleb, professor na Universidade de Nova Iorque, escreveu um livro precisamente com o título 'The Black Swan', descrevendo o cisne negro como um acontecimento bastante raro e improvável, com um grande impacto no sistema social, político e financeiro em caso de concretização.

 

Este ano, por exemplo, já aconteceram dois cisnes negros. Contrariando a generalidade das expectativas e sondagens, o Reino Unido decidiu, em referendo a 23 de Junho, sair da União Europeia (o chamado Brexit); e o candidato republicano Donald Trump venceu as eleições norte-americanas no passado dia 8 de Novembro.

 

Os analistas do Saxo Bank, à semelhança dos últimos anos, já fizeram a sua lista das 10 maiores improbabilidades de 2017. São estes os seus cisnes negros:

 

  1.        PIB da China cresce 8% e índice de Xangai dispara para 5.000 pontos

A China entende que chegou ao fim do caminho nesta sua actual fase de crescimento da actividade industrial e das infra-estruturas, pelo que, através de um forte estímulo das políticas orçamentais e monetárias, abre os mercados de capitais para gerir com êxito uma transição para o crescimento impulsionado pelo consumo. Isso irá traduzir-se num crescimento de 8% em 2017, com o ressurgimento a dever-se sobretudo ao sector dos serviços. A euforia deste crescimento impulsionado pelo consumo privado levará o índice Shanghai Composite a duplicar face a 2016, superando os 5.000 pontos.

 

  1.        Fed segue os passos do Banco do Japão

À medida que as taxas de juro do dólar e dos EUA aumentam de forma cada vez mais dolorosa em 2017, a política orçamental "impulsionada pela testosterona do novo presidente norte-americano" levará a que os juros das Obrigações do Tesouro a 10 anos subam para 3%, provocando o pânico no mercado. À beira do desastre, a Reserva Federal (Fed) copia o controlo da curva de rendimentos que é feito pelo Banco do Japão (BoJ), fixando as ‘yields’ das OT a 10 anos em 1,5%, mas de um ângulo diferente, introduzindo um QE4 (quarta ronda de flexibilização quantitativa, com a compra de activos como estímulo à economia). Isto, por seu lado, travará rapidamente a liquidação nos mercados globais de acções e obrigações, o que conduzirá ao maior ganho dos mercados da dívida em sete anos.

 

  1.        Taxa de incumprimento das obrigações corporativas chega aos 25%

Com a taxa média de incumprimento a longo prazo das obrigações das empresas actualmente nos 3,77% – que aumentou durante as recessões nos EUA em 1990, 2000 e 2009 para 16%, 10% e 12%, respectivamente –, em 2017 esta subirá para 25%. Ao atingir os limites da intervenção dos bancos centrais, os governos de todo o mundo avançam para estímulos orçamentais, o que leva a um aumento das taxas de juro e acentua drasticamente a curva de rendimentos. Com taxas de incumprimento nos 25%, as empresas ineficientes deixam de ser viáveis, o que permite uma alocação mais eficiente do capital.

 

  1.        Não vai haver Brexit, que dará lugar ao Bremain

O aumento do populismo a nível mundial, observado de ambos os lados do Atlântico, fará com que a União Europeia tenha uma atitude mais cooperante face ao Reino Unido. À medida que avançam as negociações, a UE faz concessões-chave relativamente à imigração e aos direitos de passaporte das empresas de serviços financeiros sediadas no Reino Unido, e quando o artigo 50º for accionado e submetido ao Parlamento britânico será rejeitado em prol de um novo acordo. O Reino Unido mantém-se na órbita da UE, o Banco de Inglaterra sobe a taxa de juro para 0,5% e o euro cai para 0,73 pence.

 

  1.        Cobre cai para mínimos de sempre

O cobre é um dos claros ganhadores, entre as matérias-primas, desde as eleições norte-americanas [dada a expectativa de que o aumento da despesa em infra-estruturas, pela Administração Trump, impulsione o sector da construção e os materiais mais usados, como é o caso deste metal de base]. No entanto, em 2017 o mercado começará a dar-se conta de que o novo presidente terá dificuldades em levar a cabo os investimentos prometidos, pelo que o esperado aumento da procura de cobre não irá materializar-se. Perante o crescente descontentamento do país, Trump reforçará as medidas proteccionistas, introduzindo barreiras comerciais que constituirão um problema sobretudo para os mercados emergentes e Europa. O crescimento mundial começa a debilitar-se, ao passo que na China a procura de metais industriais diminui e o cobre regressa aos mínimos atingidos em 2009.

 

  1.        Bitcoin destaca-se em alta entre as criptomoedas

Com a Administração Trump, a despesa pública dos EUA aumentará o défice orçamental de 600.000 milhões para 1,2-1,8 mil milhões de dólares. Isso fará o crescimento e a inflação dos Estados Unidos dispararem, obrigando a Fed a acelerar a subida dos juros e a que o dólar atinja novos máximos. Este cenário criará um efeito dominó nos mercados emergentes, em particular na China, levando a que se procure alternativas ao sistema monetário dominado pelo dólar e pela sua excessiva dependência da política monetária norte-americana. Neste contexto, crescerá a popularidade das criptomoedas como alternativa, sendo a Bitcoin a que sairá mais beneficiada. À medida que os sistemas bancários e países como a Rússia e China forem agindo no sentido de aceitar a Bitcoin como uma alternativa parcial ao dólar, o valor desta moeda virtual triplicará, passando dos actuais 700 dólares para 2.100 dólares.

 

  1.        Reforma da saúde nos EUA gera pânico no sector

Os gastos em saúde nos Estados Unidos ascendem a cerca de 17% do PIB (quando a média mundial é de 10%) e há uma proporção cada vez maior da população norte-americana que não consegue pagar as suas facturas médicas. A recuperação inicial dos títulos ligados aos cuidados de saúde, após a vitória de Trump nas presidenciais de 8 de Novembro, irá desvanecer-se rapidamente em 2017, já que os investidores se darão conta de que a sua Administração não será fácil e que lançará reformas radicais no improdutivo e dispendioso sistema de saúde norte-americano.

 

  1.        Peso mexicano vai recuperar

O mercado sobrestimou fortemente a verdadeira intenção de Donald Trump, ou mesmo a sua capacidade para reprimir o comércio com o México, o que permitirá que o peso mexicano – bastante castigado com a eleição do republicano – ganhe terreno. Enquanto isso, o Canadá irá ser penalizado, à medida que as taxas de juro mais altas começarem a dar corpo a uma crise creditícia no mercado de concessão de empréstimos à habitação. O Banco do Canadá terá de avançar com uma flexibilização quantitativa, injectando capital no sistema financeiro.

 

  1.        Bancos italianos vão valorizar mais de 100%

Os bancos alemães estão mergulhados na espiral das taxas de juro negativas e das curvas de rendimento planas, não podendo aceder aos mercados de capitais. Um resgate bancário alemão, no contexto da União Europeia, significa inevitavelmente um resgate bancário da UE – o que ajudará os bancos italianos, a braços com crédito malparado e uma economia estancada. A nova garantia permitirá recapitalizar o sistema bancário e será criado um Banco Europeu de Malparado para limpar os balanços da Zona Euro e conseguir que o mecanismo do crédito bancário volte a funcionar. As acções da banca italiana dispararão mais de 100%.

 

  1.    UE estimula crescimento através de Eurobonds

Face ao crescente avanço dos partidos populistas na Europa, e com a vitória do partido de extrema-direita de Geert Wilders na Holanda, os partidos políticos tradicionais começam a distanciar-se das políticas de austeridade e a favorecer as políticas de estilo Keynesiano lançadas pelo presidente Roosevelt depois da crise de 1929. A UE irá promover um plano de estímulos faseado por seis anos, no valor de 630.000 milhões de euros, apoiado pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Mas, para evitarem a diluição resultante do aumento das importações, os líderes da União Europeia anunciarão a emissão de Eurobonds, inicialmente orientada para mil milhões de euros de investimento em infra-estruturas, reforçando a integração da região e impulsionando as entradas de capital no bloco europeu. 



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