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Fundos de Wall Street estão a perder milhões com "ataque" concertado de investidores amadores  

A estratégia é simples. Os investidores apostaram forte nas ações onde os fundos têm relevantes posições curtas (aposta na queda), provocando a subida em flecha das cotações das ações.

28 de Janeiro de 2021 às 09:46
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Como poucas vezes (ou mesmo nunca) aconteceu, os investidores amadores estão a levar a melhor sobre os gigantes de Wall Street, com vários reputados hedge funds norte-americanos a sofrerem perdas enormes devido à ação concertada de centenas (ou mesmo milhares) de investidores amadores.

 

Esta "batalha" tem marcado os último dias em Wall Street e na sessão de quarta-feira ganhou maiores proporções e também um impacto assinalável.

 

Duas "lendas" dos fundos de Wall Street, Steve Cohen e Dan Sundheim estão entre as "vítimas" deste "ataque" concertado pelos investidores amadores, que através de fóruns na Internet concertaram a estratégia que está a provocar perdas avultadas a estes investidores profissionais e a gerar preocupações em toda a indústria de Wall Street.

 

A estratégia é simples de explicar. Estes investidores apostaram forte nas ações onde estes fundos têm relevantes posições curtas (aposta na queda), provocando a subida em flecha das cotações das ações. Este movimento obrigou os fundos a fechar posições para limitar as perdas. Para isso foram obrigados a comprar as ações com que antes estavam a apostar na queda, o que exacerbou ainda mais a sua subida.

 

A retalhista de jogos GameStop é o melhor exemplo e foi com esta empresa que tudo começou, devido elevado peso de posições curtas que historicamente apresenta devido às dúvidas se vai ser capaz de sobreviver aos efeitos da pandemia.

As ações desta empresa já dispararam mais de 1700% só este mês de janeiro e já tem uma capitalização bolsista acima de 20 mil milhões de dólares. Atualmente o número de ações em posições curtas é superior às disponíveis para negociação, pelo que há investidores a apostar na queda de ações que nem existem. O rácio está atualmente em 138% e já chegou a ser bem superior, mostrando bem como a companhia estava a ser "atacada" pelos "shorts", sobretudo dos hedge funds.

Mas não é caso único. Outras empresas em dificuldades na sua atividade devido à pandemia, como a AMC Entertainment (cinemas) e a Bed Bath & Beyond, também tinham uma elevada percentagem do capital alvo de vendas a descoberto e registaram valorizações astronómicas nos últimos dias.

 


Se os investidores amadores estão claramente a levar a melhor, detendo em carteira ações que dispararam, os hedge funds estão sofrer. O Point72 Asset, de Steve Cohen, já desvalorizou entre 10% e 15% em janeiro. E há registos piores. O D1 Capital Partners, de Sundheim, perde 20%, depois de em 2020, no ano da pandemia, ter valorizado 60%. O Melvin Capital já desvalorizou 30% este ano e foi obrigado a receber uma injeção de capital de parceiros. Teve mesmo de negar que tinha ido à falêcia, que já estava a circular nas redes sociais.

 

Além da desvalorização nas suas carteiras, os hedge funds estão também a sofrer resgates dos clientes que, assustados com o desempenho, preferem retirar já o dinheiro destes fundos.

 

Um movimento que obriga estes fundos a vender outras ações em carteira para obter liquidez para fazer face aos resgates, o que está a preocupar a indústria financeira de Wall Street. Vários traders até atribuem a descida forte de ontem dos índices de Wall Street a este movimento, que apesar de estar a fazer disparar algumas ações, acaba por ter um impacto negativo no sentimento do mercado.

 

A estratégia dos investidores amadores parece clara. Apostar forte nas cotadas onde os hedge funds têm maiores posições curtas. E estão a conseguir agir com uma força tal que para já os investidores profissionais não estão a conseguir combater. A Bloomberg descreve mesmo que "atiraram a toalha ao chão".

 

A Bloomberg fala de rumores de perdas muito fortes em vários hedge funds, que já tiveram de pedir ajuda. Um ETF do Goldman Sachs, para medir o desempenho de desempenho de hedge funds de ações, afundou 4,3% na sessão de quarta-feira.

 

Tendência alastra a mais países

 

Entretanto, este fenómeno, que vários denominam de "insurreição" dos pequenos investidores, está a alastrar além de Wall Street. São várias as cotadas europeias (e de outros países) com fortes posições curtas que estão também a disparar em bolsa.

 

É o caso da gestora de centros comerciais Unibail-Rodamco-Westfield, que disparou 20% e também da Klepierre (imobiliário) e da Pearson (media). Em Tóquio a Pigeon subiu 7% e o fenómeno também chegou à Austrália, mas de uma forma diferente. Uma empresa cotada na bolsa deste país, com um ticker semelhante ao da Gamestop (GME) disparou 60% esta quinta-feira.

 

Anthony Scaramucci, fundador da Skybridge Capital, já apelidou este fenómeno de "revolução francesa das finanças".

 

Resta saber quais vão ser os efeitos e até quando os investidores amadores vão continuar a vencer os profissionais. Uma "batalha" já ganharam, mas o resultado da "guerra" está ainda por apurar.

 

Esta noite sofreram uma pequena derrota, que não terá grande impacto na sua estratégia, mas ainda assim provocou uma queda de 8,5% nas ações da GameStop. O Reddit cancelou por algumas horas a entrada de novos membros no fórum WallStreetBets (que já conta com 350 mil utilizadores e nem é o mais popular sobre o tema) e o Discord baniu o grupo devido ao discurso de ódio.

 

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