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Fenómeno GameStop impulsionou "dark trading" que já equivale a quase 50%

O crescente número de investidores individuais no retalho levou a uma corrida a corretoras como a Robinhood, que não trabalham diretamente com as bolsas de valores, como a New York Stock Exchange. Em janeiro, a percentagem do "dark trading" quase tocou nos 50%.

Afinal quem foram os maus e os bons na história da GameStop?
Dado Ruvic/Reuters
15 de Fevereiro de 2021 às 12:43
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A recente euforia em torno de empresas como a GameStop ou a AMC, que originou uma subida relâmpago das suas ações, sublinhou uma tendência que se tem vindo a evidenciar desde o início da pandemia: o número de novos investidores individuais a retalho que não recorre diretamente às bolsas de valores.

De acordo com os dados da corretora Rosenblatt Securities, citada pelo Wall Street Journal, nos EUA foram executados quase tantos pedidos de compra e venda de ações, obrigações e derivados através das bolsas de valores, como através de corretoras que não trabalham diretamente com o "trading floor" em Wall Street, como a Robinhood.

Em janeiro deste ano, o número de transações feitas através destas corretoras, também conhecido como "dark trading" atingiu um recorde nos 47,2% do total, que compara com os 39,9% registados em termos homólogos, segundo os dados da Rosenblatt. Antes de 2020, nunca esta percentagem tinha atingido os 40%. Em termos diários, o peso do "dark trading" chegou mesmo a superar os 50%, como no dia 23 de dezembro do ano passado e por três diferentes sessões em janeiro deste ano. 

Estas corretoras de baixas comissões enviam as ordens dos seus clientes para outras empresas de "trading" online, também conhecidas como "market makers", como é o caso da Citadel Securities ou da Virtu Financial, que por sua vez, executam as ordens sem ter de passar pela bolsa de valores, como o New York Stock Exchange ou o Nasdaq Stock Market.

Como é que isto tudo funciona? Imaginemos que o fluxo de ordens é o trânsito de uma cidade e o destino é o mercado. O principal objetivo destas ordens é chegar pelo melhor caminho possível. Então, quando um cliente pede para executar uma ordem, a corretora deve encontrar o trajeto mais eficiente. Só que, neste percurso, pode existir um acordo que obriga a corretora a chamar uma terceira parte para encontrar esse melhor trajeto.

E é aqui que entram estas empresas de "trading", que servem de intermediário, compensando depois a corretora onde o pedido foi executado através de uma taxa, por lhe ter "encomendado" este pedido, o que acaba por beneficiá-la – por norma através de comissões cobradas ao cliente, incorporadas já no preço das ações.

Este acordo chama-se "Payment for Order Flow" e já deu várias dores de cabeça aos intermediários. Em 2017, por exemplo, a SEC - o regulador do mercado nos EUA - multou o Citadel em 22,6 milhões de dólares por "enganar" os pequenos investidores. Já em 2020, a Robinhood foi multada em 34 milhões por não reportar à SEC o seu "Payment for Order Flow".


Esta forma de negociação ganhou popularidade porque, por norma, oferece preços melhores aos clientes do que se eles negociassem diretamente com as bolsas de valores. Mas alguns analistas olham para este tipo de prática com alguma desconfiança, acusando de perda de transparência. Daí que a SEC obrigue todas as corretoras a divulgarem os seus "Payment for Order Flow".

Noutros países, como o Canadá, todas as transações têm de passar diretamente pela bolsa de valores. Na União Europeia existe uma regulação desde 2018, a Mifid II, que encoraja a que toda a negociação seja feita também pelos meios oficiais, por questões de transparência.
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