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Evy Hambro: Produtos agrícolas e metais preciosos podem ser bom investimento em 2012

Cada matéria-prima tem diferentes factores de sustentação, mas estamos a observar, de uma forma geral, uma tendência de aumento da procura e de focalização nas "commodities" como activo financeiro central de uma forma que não vimos nos últimos 20 anos, diz em entrevista ao Negócios o gestor Evy Hambro, da BlackRock.

06 de Janeiro de 2012 às 16:11
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Evy Hambro, gestor da Gold & General Fund e da BlackRock World Mining Trust, considera que as pessoas irão olhar mais para os metais preciosos como protecção contra a inflação ou contra a incerteza no sistema financeiro.

Por outro lado, para o responsável desta sociedade gestora de fundos, o grande impulsionador dos preços das matérias-primas agrícolas poderá ser uma mudança no regime alimentar.

Em entrevista por e-mail ao negócios, Hambro refere ainda que "estamos a assistir a uma tendência de crescente consumo de matérias-primas que estamos convictos que durará durante mais algumas décadas".

Quais são as suas estimativas para os preços das matérias-primas em 2012?

Se analisar a procura nos mercados de matérias-primas, o principal impulsionador é a China. A China é a maior consumidora de inúmeras “commodities”, pelo que um abrandamento por parte desse país afectaria indubitavelmente o lado da procura da equação. Sem um choque compensatório do lado da oferta, seria então de esperar que uma desaceleração da procura fosse negativa para a maioria das matérias-primas.

Além disso, no que diz especificamente respeito aos mercados agrícolas, o ano passado trouxe algumas condições meteorológicas adversas extremas. Se estas condições melhorarem substancialmente nos próximos 12 a 18 meses, levando a maiores colheitas e a melhores mercados de culturas agrícolas, poderemos esperar que isso exerça uma pressão baixista sobre os preços das “commodities” agrícolas.

Em termos de risco altista para as cotações, podemos citar as contínuas tensões geopolíticas em África e no Médio Oriente, o que poderá levar a perturbações na oferta dos mercados energéticos. Temos também observado a manutenção de condições meteorológicas adversas. Se prosseguirem, será de esperar que isso faça subir os preços das matérias-primas agrícolas. Por último, o risco de nacionalização de instalações de produção de “commodities”, seja na América Latina ou em África, poderá conduzir a uma restrição da oferta, o que também é um factor de subida para os preços.

Quais serão os produtos com melhor e pior desempenho?

As oportunidades abundam em todo o espectro de “commodities”, mas as condições da oferta e da procura diferem consoante cada matéria-prima em particular.

No que respeita às matérias-primas agrícolas, o impulsionador poderá ser uma mudança no regime alimentar. Há implicações para a procura de alimentos quando as pessoas passam de dietas ricas em hidratos de carbono e pobres em proteínas e de uma agricultura de subsistência para regimes alimentares com mais carne, à medida que a riqueza aumenta e as populações entram na categoria da classe média.

Enquanto isso, as pessoas irão olhar mais para os metais preciosos como protecção contra a inflação ou contra a incerteza no sistema financeiro; e por último, os metais industriais tendem a ser impulsionados pelo desenvolvimento de infra-estruturas e da construção de casas. Por isso, cada matéria-prima tem diferentes “drivers”, mas estamos a observar, de uma forma geral, uma tendência de aumento da procura e de focalização nas “commodities” como activo financeiro central de uma forma que não vimos nos últimos 20 anos.

É também importante recordar que as matérias-primas são heterogéneas. Algumas “commodities” são bastante cíclicas, ao passo que outras o são menos e podem ser mais defensivas. Assim, durante uma recessão, a agricultura e os metais preciosos, pelo facto de serem mais defensivas, poderão ter um melhor desempenho. As pessoas continuam a ter de comer e poderão refugiar-se em valores-refúgio, como o ouro. Consequentemente, os retornos nestes tipos de activos tendem a ser melhores.

Adicionalmente, o papel de um choque da oferta não deve ser subestimado. As matérias-primas agrícolas, além de possuírem propriedades defensivas, ganharam com o facto de a oferta ter diminuído devido a condições meteorológicas adversas.

E que perspectivas tem para o petróleo?

Os problemas macroeconómicos globais continuam a dominar o mercado accionista. No actual ambiente, o risco do lado da procura para o preço do crude aumentou, mas os fundamentais oferecem algum incentivo: a opção forçada do Japão no sentido de criar uma maior capacidade energética derivada do petróleo trouxe mais barris à procura mundial de crude.

Além disso, a OPEP demonstrou no passado que tem apetite e capacidade para actuar em apoio aos preços se eles baixarem significativamente.

Por outro lado, o crescimento da oferta no longo prazo está a ser posto em causa.

E o ouro? Será que este metal precioso vai brilhar pelo 12º ano consecutivo?

Consideramos que há inúmeros factores que sustentam a ideia de que o outro manterá o seu estatuto de valor-refúgio durante mais algum tempo.

Em primeiro lugar, a ameaça de inflação poderá suportar a atractividade do ouro como activo de cobertura contra esse risco. A inflação é muitas vezes esquecida como razão para a compra de ouro, especialmente porque as pressões inflacionistas têm sido benignas no mundo desenvolvido desde a década de 1990. Os preços estão agora em relativa tendência de subida a nível mundial, impulsionados pelas facturas alimentar e energética, enquanto as tentativas para revigorar as economias através de programas de flexibilização quantitativa são inflacionistas por natureza.

As actuais e futuras iniciativas dos governos no sentido de revitalizarem o crescimento, essencialmente através de um processo parecido com a emissão de mais moeda e, assim, aumentando o risco de inflação, podem ser positivas para o ouro. É também importante recordar que numa altura em que as taxas de juro se mantêm em níveis historicamente baixos no Reino Unido e nos EUA, as taxas de retorno reais sobre os depósitos em numerário são negativas, e assim tem sido há já algum tempo.

Por outro lado, a procura de ouro físico continua forte, especialmente nos mercados emergentes. A procura por parte da joalharia chinesa, no terceiro trimestre de 2011, aumentou 13% face ao período homólogo de 2010, para 131 toneladas (no valor de 7,3 mil milhões de dólares), enquanto a procura de barras e de moedas em ouro aumentou 24% para 60,2 toneladas.

Isto deveu-se em parte ao colapso dos mercados imobiliários asiáticos, que deixaram muitos dos investidores daquela região à procura de uma reserva de valor e também de uma cobertura contra a inflação (que em Outubro era de 5,5% na China e de 9,7% na Índia). A procura de ouro a nível mundial subiu 6% no terceiro trimestre, para 1.054 toneladas no valor de 57,7 mil milhões de dólares, um recorde histórico em termos de valor.

As compras de metal amarelo por parte dos bancos centrais também foram significativas em 2011, com a Turquia, Tailândia e Bolívia a integrarem as fileiras de outros países em desenvolvimento que tentam aumentar as suas reservas nacionais de ouro. As vendas de ouro de Hong à China tinham aumentado 600% até Setembro, face ao mesmo período de 2010. Em termos globais, os bancos centrais adquiriram um total de 148,4 toneladas de ouro no terceiro trimestre do ano passado.

Ao mesmo tempo, a produção mineira tem tido dificuldades em aumentar nalgumas regiões, com a oferta mundial a aumentar apenas 2% no terceiro trimestre, para 1.034 toneladas (o que não cobriu a procura), havendo poucos sinais de qualquer crescimento significativo da oferta no imediato.

Então continua a valer a pena investir em “commodities”?

Para os investidores que estão a passar por uma desaceleração económica nos seus países, poderá não parecer que comprar matérias-primas seja a coisa natural ou certa a fazer. Podemos, contudo, argumentar que esta é na verdade uma enorme oportunidade para obter exposição ao que consideramos ser uma tendência estrutural de longo prazo e alguns óbvios condicionalismos da oferta.

A alteração na procura, motivada pela urbanização, não é um fenómeno de curto prazo. No entanto, é muito claro que vão existir períodos de crescimento mais forte e períodos de crescimento mais débil.

A crise financeira de 2008, quando as “commodities” recuaram fortemente, constituiu uma excelente oportunidade para comprar, tendo em vista esta tendência de mais longo prazo. Agora, uma vez mais, estamos a ver a debilidade nos EUA e na Europa a provocarem uma certa pausa no movimento altista dos preços das matérias-primas. Por isso, consideramos que estamos perante uma óptima oportunidade para ganhar exposição a esta classe de activos e para beneficiar daquilo que consideramos ser um ciclo multi-décadas.

Na nossa opinião, os investidores que não têm qualquer exposição às matérias-primas têm de começar a pensar nestes produtos como uma parte central das suas carteiras mais diversificadas. Claro que a alocação exacta dependerá do apetite pelo risco por parte do indivíduo, pois as “commodities” estão voláteis e não se deve ignorar esse facto.

No seu entender, qual será a direcção das matérias-primas no mais longo prazo?

A tendência das “commodities” que estamos a vivenciar neste momento começou realmente há seis ou sete anos. Foi motivada por uma mudança estrutural na procura, predominantemente derivada da urbanização e da industrialização de países dos mercados emergentes altamente populados – sobretudo as economias dos BRIC, com especial ênfase na China.

Aquilo a que assistimos nos últimos 200 anos é que as mudanças estruturais na procura são de longo prazo e que a tendência altista nos mercados altistas das matérias-primas tende a ser profunda e de longa duração. O actual ciclo que está a sustentar a procura de “commodities” é diferenciado pela profunda quantidade de pessoas que se estão a industrializar e a urbanizar.

A população chinesa ronda 1,3 mil milhões de pessoas e a população indiana é de cerca de mil milhões, pelo que temos mais de um terço da população global a transitar para um estilo de vida mais urbano e industrializado – e isso significa que o consumo de matérias-primas está a aumentar.

Temos milhares de milhões de pessoas a transitar para um estilo de vida em que compram carros, electrodomésticos, acrescentam carne à sua alimentação e investem em metais preciosos de uma forma que nunca antes se observou. Assim, estamos a assistir a uma tendência de crescente consumo de matérias-primas que estamos convictos que durará durante mais algumas décadas – uma tendência que achamos que pressionará consideravelmente a cadeia da oferta global de “commodities”.

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