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Aposta em produtos sem glúten já chegou às bolsas

Actualmente, há tão pouco dinheiro no negócio de compra e venda de trigo, milho e soja que alguns operadores estão a recorrer a mercados obscuros, de tomates cultivados no deserto e grão-de-bico, para conseguir lucros.

15 de Abril de 2017 às 13:00
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As margens para negociação das grandes colheitas de grãos caíram abruptamente porque os produtores cultivaram mais do que o mundo precisa durante quatro anos. Isso levou empresas como a alemã BayWa a procurar nichos como tomates e grãos orgânicos, nos quais os retornos são mais elevados. Outros recorreram a ingredientes de alimentos processados, mais caros, ou a produtos livres de glúten.

 

"O ambiente geral de negociação para as commodities agrícolas está bastante difícil", afirmou Jean-François Lambert, fundador e sócio-gerente da consultoria Lambert Commodities. "Tem sido assim nos últimos dois anos e parece que este ano poderá ser desafiador."

 

Este é um bom presságio para os operadores que ganharam nos anos de expansão da última década, quando os preços subiram com base na procura da população mundial em termos de dimensão e saúde.

 

As empresas maiores que negoceiam enormes volumes no mercado de grãos podem ver um efeito limitado nos seus resultados finais provenientes dos mercados de nicho, mas as operadoras de pequena e média dimensão podem beneficiar mais. Estas foram atrás de produtos menos conhecidos, como quinoa e safras orgânicas, com margens e procura melhores de consumidores preocupados com a saúde.

 

A Grain Services, uma corretora com sede em Reggio Emilia, Itália, recebe cerca de 30 por cento de sua receita com produtos livres de glúten, orgânicos ou de nicho, como quinoa, arroz, amaranto e lentilha, apesar de eles representarem apenas 7% do 1,5 milhão de toneladas dos cultivos com que a empresa lida, disse o director da corretora Andrea Cagnolati.

 

Livre de glúten

A procura dos consumidores está a transformar os alimentos livres de glúten e orgânicos numa das áreas de crescimento mais rápido do sector, segundo uma apresentação de Cagnolati na conferência Black Sea Grain, em Kiev, na semana passada. O sector de produtos livres de glúten deverá expandir-se cerca de 10% ao ano e as receitas anuais atingirão os sete mil milhões de dólares em todo o mundo até 2020.

 

"A quantidade é baixa, mas nós obtemos margens muito boas", disse Cagnolati, em entrevista. "As margens nos mercados tradicionais de grãos são muito baixas, ou até negativas, como é o caso dos EUA."

 

A BayWa, a empresa alemã do agronegócio que reforçou as suas operações de grãos e registrou prejuízos na sua unidade de ‘trading’ no ano passado, está a recorrer a uma produção orgânica e com estufa. A empresa entrou num empreendimento para cultivar e negociar tomates "premium" nos Emirados Árabes Unidos.

 

Até mesmo gigantes do sector como Glencore e Bunge entraram ou se expandiram em áreas menos negociadas nos últimos dois anos. A Bunge, que está no negócio de corretagem há 200 anos, adquiriu uma empresa turca de azeite e a Glencore está a operar o produto a partir do seu escritório de Madrid.

 

"As grandes corporações aumentarão o seu envolvimento nos mercados emergentes, onde ainda há espaço para gerar margens ou explorar uma vantagem competitiva", disse Miroslaw Marciniak, consultor da InfoGrain, com sede em Varsóvia, e ex-operador de grãos. "A escala é importante, por isso eles continuarão a negociar em quantidade." 

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