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Termómetro sobe até Copenhaga

A fechar a mundialmente designada "semana do clima", a reunião do G20 constituiu a derradeira esperança para o mundo encarar com alguma tranquilidade os desafios que sairão de Copenhaga. A oportunidade ficou lograda, o que coloca em causa o sucesso efectivo de um futuro acordo global para as alterações climáticas que substitua, a partir de Janeiro de 2013, o Protocolo de Quioto. Até Dezembro, o termómetro continuará a subir.

30 de Setembro de 2009 às 12:58
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A fechar a mundialmente designada "semana do clima", a reunião do G20 constituiu a derradeira esperança para o mundo encarar com alguma tranquilidade os desafios que sairão de Copenhaga. A oportunidade ficou lograda, o que coloca em causa o sucesso efectivo de um futuro acordo global para as alterações climáticas que substitua, a partir de Janeiro de 2013, o Protocolo de Quioto. Até Dezembro, o termómetro continuará a subir.



Se a crise económica e a regulação dos mercados financeiros é a matéria sensível do debate internacional que os líderes mundiais estão a dinamizar neste último trimestre do ano, o clima será, inegavelmente, o tema mais decisivo para a sustentabilidade do Planeta, o que também significa a maior ameaça ao futuro da humanidade.

A ameaça de falhanço que se pressentira na Cimeira do Clima promovida pelas Nações Unidas e na Assembleia Geral da ONU confirmou-se, pelo menos no que ao ambiente diz respeito. Apesar de ser crucial chegar a um acordo global passível de substituir o Protocolo de Quioto, a cimeira das vinte maiores economias do mundo realizada em Pittsburgh, nos Estados Unidos, não mobilizou os líderes mundiais para uma tomada de posição conjunta, que pareceram mais preocupados em apresentar medidas para aplicação nos seus próprios países.

Apesar de se terem comprometido, na declaração final da cimeira, a "definir as bases de um crescimento vigoroso, sustentável e equilibrado para o século XXI", acordando com os países emergentes abandonar "uma era de irresponsabilidade" de modo a garantir a recuperação económica, os líderes do G20 não avançaram números ou perspectivas concretas quanto ao combate às alterações climáticas.

Uma das resoluções que saiu de Pittsburgh foi a "reforma da arquitectura global para atender às necessidades do século XXI”, graças à qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) se compromete “a transferir como quota aos mercados emergentes dinâmicos e aos países em desenvolvimento pelo menos cinco por cento, utilizando à partida a fórmula actual”. Assim, são as economias emergentes que saem a ganhar, vendo a sua influência aumentada nas decisões do FMI.

Mas no que concerne concretamente às alterações climáticas, as vinte maiores economias do mundo estipularam apenas que vão acabar gradualmente com os subsídios à indústria do petróleo e intensificar os esforços para alcançar um novo acordo sobre as alterações climáticas até ao final do ano. Nada de novo, portanto, em relação ao que terá necessariamente de acontecer até Dezembro, mês em que terá lugar a Cimeira de Copenhaga, da qual sairá o protocolo substituto de Quioto.

Depois das reuniões de Washington e Londres, realizadas ainda num ambiente de crise internacional, a Cimeira de Pittsburgh coincidiu com o início da retoma financeira, mas das negociações não resultou um consenso quanto a um acordo global. Se para o grupo de países que representa 85% da economia mundial é comum a necessidade de encontrar soluções para a crise global, envolver os países emergentes como a China e a Índia na resolução dos desequilíbrios mundiais, relançar o crescimento económico e rever a regulação dos mercados financeiros, erradicar a pobreza e combater as alterações climáticas, nem por isso é pacífico para os vinte líderes mundiais chegar a um entendimento multilateral sobre a maior parte destas questões.

Antevendo a pouca substância que viria a sair da Cimeira do G20, cerca de mil jovens protestaram em Pittsburgh contra "a avareza do capitalismo", acabando por ser dispersados com bombas de gás lacrimogéneo e balas de borracha. Perto de setenta activistas foram detidos por perturbação da ordem pública e incitação à rebelião, enquanto dezenas de lojas e bancos ficaram danificados, segundo a Polícia Federal norte-americana. Milhares de manifestantes participaram mais tarde numa caminhada pacífica pela cidade do leste dos EUA, para expressar a sua oposição às políticas do G20, exibindo cartazes com mensagens como "O capitalismo não funciona" ou "Salvem o clima".

Os números do(s) compromisso(s)

Ao longo desta “semana do clima”, os países em desenvolvimento reforçaram a ideia de que não conseguirão poluir menos sem ajuda financeira. Quanto à questão do financiamento da redução das emissões de CO2, as nações em desenvolvimento, lideradas pela China e pela Índia, defendem que os países mais ricos devem assumir a maioria da responsabilidade na luta contra o aquecimento global, atendendo a que são eles os principais poluidores.

Mas a comunidade internacional não se entende quanto aos valores anunciados: a Europa planeia reduzir as suas emissões em pelo menos 20%, até 2020, em relação aos níveis de 1990, dispondo-se mesmo a atingir os 30%, caso os países industrializados assinem um acordo em Copenhaga. Mas exige e está a pressionar esses países para que desbloqueiem até sete mil milhões de euros por ano, entre 2010 e 2012, para ajudar os países pobres. A Comissão Europeia já avaliou em cem mil milhões de euros anuais as principais necessidades que se farão sentir sobre esta matéria, até 2020.

Por sua vez, a África do Sul calculou as necessidades dos países emergentes em valores que oscilam entre os duzentos e os quatrocentos mil milhões de dólares (132 a 272 mil milhões de euros) por ano, até 2020. Também o Brasil estima em quatrocentos mil milhões de dólares anuais as necessidades dos países pobres para enfrentar as alterações climáticas e a redução das emissões de gases com efeito estufa, um valor muito superior ao proposto pelos países europeus.

Enquanto os países ricos querem que os emergentes assumam compromissos, estes temem limitações que afectem o seu desenvolvimento económico, rejeitando a imposição de metas para a redução de suas emissões. E enquanto a Índia, que receia ser considerada o poluidor mais intransigente do planeta, defende os seus próprios objectivos nesta luta, a China, que é hoje o maior emissor de CO2 do mundo (e juntamente com os EUA responde por quarenta por cento das emissões lançadas na atmosfera) dá um passo em frente, assumindo um plano que poderá mesmo colocar o país numa posição de liderança quanto ao combate às alterações climáticas: "os países desenvolvidos precisam reduzir significativamente as suas emissões, para então assumirem os seus compromissos de ajuda financeira e técnica aos países emergentes", disse recentemente o vice-presidente da Comissão de Reforma e Desenvolvimento chinês, Xie Zhenhua.

A boa notícia é que, em ano de recessão económica, a queda na produção mundial gerou uma redução de 2,6% nas emissões de gases com efeito de estufa, em 2009.



Obama lidera negociações pelo clima

Empenhado nas discussões de alto nível que se multiplicaram na última semana pelas várias cimeiras e encontros de cúpula, o Presidente norte-americano prometeu “ao mundo” uma nova era de cooperação e respeito mútuo, num discurso proferido na Assembleia Geral das Nações Unidas - que coincidiu propositadamente com as agendas da Cimeira do Clima (promovida pela ONU em Nova Iorque, a 22 de Setembro), da Clinton Global Initiative (22 a 25 de Setembro) e da reunião do G20 em Pittsburgh (a 24 e 25 de Setembro), a fim de permitir a intervenção dos maiores líderes mundiais em todos estes eventos.

“Chegámos a um momento crucial. Os Estados Unidos estão prontos para começar um novo capítulo de cooperação internacional, que reconheça os direitos e responsabilidades de todas as nações". Foi com esta promessa de respeito e solidariedade que Barack Obama marcou o seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU, desde que tomou posse, no início de 2009. Apelando à ajuda dos restantes líderes mundiais, que são contributos fundamentais para “resolver os problemas do mundo”, o presidente norte-americano pediu o reforço da regulação dos mercados financeiros para "acabar com a ganância, os excessos e os abusos que nos conduziram ao desastre”.


Perante mais de cem chefes de Estado, Obama colocou ao lado de polémicas como a proliferação nuclear e o terrorismo as discussões sobre a pobreza e as alterações climáticas, sublinhando a intervenção recente dos EUA nos problemas do clima: "para enfrentar as questões ambientais, já investimos, aproximadamente, oito mil milhões de dólares nas energias renováveis, aumentámos substancialmente a nossa eficiência no consumo energético e apostámos na prevenção ambiental. Passámos de uma posição secundária para a liderança nas questões climáticas no plano internacional", reiterou.

Determinado na luta contra o aquecimento global, o presidente americano reconheceu, na conferência da ONU sobre o clima, que o trabalho mais duro ainda terá de ser feito até à Conferência de Copenhaga, em Dezembro, avisando: "não nos podemos iludir. A ameaça imposta pelas alterações climáticas é grave, é urgente e está a aumentar", afirmou Obama na sede da ONU em Nova Iorque, procurando desbloquear as discussões sobre o aquecimento global. "Compreendemos a gravidade da ameaça climática. Estamos determinados a agir. E honraremos as nossas responsabilidades aos olhos das gerações futuras", prometeu.

O líder mundial deixou mesmo um apelo dramático à comunidade internacional: se esta não agir "resoluta, rápida e conjuntamente”, as gerações futuras caminharão para uma "catástrofe irreversível". Mas, como já se esperava, o Presidente americano não anunciou uma meta diferente da já conhecida – fazer chegar até 2020 os níveis de emissões americanas de gases poluentes aos valores 1990. Isto apesar da pressão que países europeus e outras nações ricas têm exercido sobre os EUA. Obama admitiu a responsabilidade que os países ricos têm em dar o exemplo e ajudar financeira e tecnicamente os países menos desenvolvidos a contribuir para a luta contra o aquecimento.

Contudo, tal reconhecimento não invalida que "os países com um crescimento rápido, que estarão na origem de quase todo o aumento das emissões mundiais de gases com efeito de estufa" devam “fazer a sua parte”, reivindicou. Os aliados europeus têm condenado os EUA por não apoiarem suficientemente os esforços dos países menos desenvolvidos e por não traçarem objectivos tão ambiciosos quanto os da Europa. Mas os EUA querem que países como a Índia e a China também aceitem limites às emissões que produzem.

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