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O Professor que manteve o arado atrelado a uma estrela

“É preciso que o trabalho se torne filosofia, se torne arte, poesia, invenção”. A frase é de Raul Diniz e não poderia ter sido melhor escolhida para definir o contributo apaixonado que o mesmo conferiu, ao longo do último quarto de século, enquanto professor, orador e inspirador de líderes. O especialista em Ética Empresarial e Liderança foi homenageado, na XIII Assembleia de Alumni da AESE, onde deixa, como legado, um conjunto de intervenções seleccionadas, agora publicadas em livro e que o VER resume

24 de Outubro de 2014 às 13:56
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"Vivemos em adeus e em viagem e é preciso um certo hábito de partir e uma certa vontade de não entristecer", Raul Diniz

 

 

Ao longo dos últimos 25 anos, Raul Diniz, Professor de Ética e Factor Humano na AESE – Escola de Direcção e Negócios -, foi mais do que um mestre para os muitos dirigentes que pelas suas sessões passaram e para outros tantos que o ouviram falar em distintas ocasiões ao longo deste último quarto de século.Exímio orador, foi através das muitas histórias que tão bem sabe contar, que marcou várias gerações de gestores e executivos, os quais lhe prestaram uma digna homenagem, na passada sexta-feira, com duas ovações de pé, naquela que seria a última Assembleia Geral em que participaria enquanto Presidente Emérito da AESE . Aos 74 anos, o reputado professor e orador abandona a vida lectiva, deixando um lugar difícil de substituir, mas um enorme legado em matéria de ética, liderança e "pessoas", disciplinas fundamentais para uma gestão que não se deve limitar às "best practices, mas também às next practices, inovando e tendo visão de futuro", como afirma o próprio.

 

Revisitando o seu contributo – através da selecção de um conjunto de intervenções, proferidas em contextos variados, e publicadas agora em livro pela própria AESE – é possível traçar uma espécie de cronologia dos dilemas éticos e de liderança que assolaram o mundo nas duas últimas décadas. E, nesta altura em particular em que tanto se fala da falta de ética e de transparência de vários gestores portugueses (infelizmente, o fenómeno não se limita nem às fronteiras nacionais, nem às temporais), bom seria que o esforço de humanizar a gestão – missão assumida pelo próprio professor – fosse realmente um compromisso levado a sério pelos que lideram os destinos empresariais – e outros – do país.

 

Porque, como a actualidade tão bem espelha, nunca é demais relembrar, o VER destaca alguns princípios defendidos por Raul Diniz ao longo da sua carreira, os quais não são de todo obsoletos, antes comportamentos que teimam em ser relegados para segundo plano num número demasiado grande de organizações.

 

"Toda a organização é essencialmente uma obra humana"
Não seria errado afirmar que a velha máxima de colocar as pessoas no centro das empresas é tão usada e abusada que nem as organizações, nem as pessoas lhe conferem o mínimo significado. Todavia, a forma como Raul Diniz "apresenta" os colaboradores como fulcrais para qualquer organização é, desde logo, um convite a uma redefinição do termo "recursos humanos". Ao afirmar que "as empresas são o que são os seus homens e mulheres", o Professor alerta para a necessidade de "uma concepção do papel das pessoas não mecanicista", recordando que apesar da psicologia e da sociologia, entre outras ciências sociais, terem invadido a organização (…), esta foi sempre primordialmente entendida como um sistema técnico".

 

"Esta visão mecanicista tende a que as pessoas procedam como máquinas, engrenem como elas, sendo a direcção de pessoas vista como um lubrificante que evita atritos", declara ainda.

Visão de outros tempos, poderão defender-se as empresas – em especial as que colocam os trabalhadores no centro dos seus bonitos relatórios de responsabilidade social ou de sustentabilidade – mas a verdade é que nem todas se recordam que sendo a "a evolução para a cooperação a única disponível para encarar o futuro", "(…) temos de deixar os confrontos e trabalhar juntos na busca de objectivos comuns". Raul Diniz refere ainda a urgente necessidade de "qualidade humana para ter empresas honestas e de qualidade profissional para ter empresas competitivas", evidenciando ainda que "há que aceitar vitalmente que a ética pessoal e a actuação profissional honesta e eficaz se reclamam e necessitam mutuamente para alcançar a plenitude pessoal".

 

Há que aceitar vitalmente que a ética pessoal e a actuação profissional honesta e eficaz se reclamam e necessitam mutuamente para alcançar a plenitude pessoal.

 

Sublinhando a importância de que "não se importa o que se tem, mas quem se tem", o Professor recorda ainda outra máxima que fica sempre bem nos discursos das empresas – a grande vantagem competitiva são as pessoas – acrescentando-lhe, contudo, as "varáveis" de que estas são, também, "as fontes do conhecimento, da criatividade e da inovação", na medida em que "só as pessoas têm pensamento criativo, ousam e enfrentam dificuldades e só as pessoas são capazes de criar humanidade e amabilidade no mundo empresarial, que tanto necessita destas virtudes, como da eficácia".

 

Adicionalmente, e recordando um dos grandes desafios "modernos" na história da gestão – a conciliação entre vida pessoal e profissional – e tendo em conta que "as pessoas não valem apenas na sua vertente técnica, mas têm de aprender a ser profissionais", o que se traduz na conversão dos seus conhecimentos técnicos em instrumentos de serviço aos outros, Raul Diniz afirma também que "a qualidade dos resultados e dos processos não são independentes da qualidade das pessoas". Ou, incluindo aqui a palavra mágica para muitos líderes empresariais, "a produtividade não melhora aplicando exclusivamente medidas técnicas (…), tendo de se prestar atenção também à promoção de valores, respeitando a dimensão própria das pessoas, da família (conciliação) e da vida social (cidadania corporativa)".

 

"Se não é capaz de convencer, não mande"
"Poucas palavras têm, hoje, tanto sortilégio e são objecto de tanto desejo como a palavra liderança", afirma, convicto, Raul Diniz. "(…)Todas as escolas de negócio se comprometem a ensiná-la e a fazer dos seus frequentadores líderes; é considerada a força mais poderosa da terra para o desenvolvimento das organizações, dos Estados e para o progresso da civilização; e a prova deste sustentado interesse reside na numerosíssima bibliografia existente sobre a matéria", enumera também.

 

E apesar de as crises que estalaram nos últimos anos terem evidenciado, também, as más lideranças – ou os maus líderes – a verdade é que a busca pela sua "alma" tem sido uma constante desde tempos imemoriais. Como refere o Professor, "só assim se justifica a abundante literatura sobre figuras históricas (…) para encontrar o essencial da liderança e extrair lições da sua vida". Mas e como questiona, "o que permanece para além dos tempos, do progresso, das tecnologias?" ou "como liderar em tempos de crise, onde nada será como antes?" Ou ainda "o que devemos exigir [de um líder]?".

 

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