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Desenvolvimento humano integral com base na verdade

A preocupação com o desenvolvimento económico, com a dignidade dos trabalhadores, com a ausência de princípios morais inerentes ao lucro e com a necessidade de se reformar uma economia de mercado instável constituem pilares principais da recente encíclica de Bento XVI. Que não é somente dedicada aos católicos, mas a todos os homens e mulheres de boa vontade .

15 de Julho de 2009 às 10:52
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A preocupação com o desenvolvimento económico, com a dignidade dos trabalhadores, com a ausência de princípios morais inerentes ao lucro e com a necessidade de se reformar uma economia de mercado instável constituem pilares principais da recente encíclica de Bento XVI. Que não é somente dedicada aos católicos, mas a “todos os homens e mulheres de boa vontade”.

Globalização, economia de mercado, outsourcing, sindicatos de trabalhadores, energias alternativas e responsabilidade social das empresas. Estes são alguns dos termos que entraram para o vocabulário social e económico, mas que não costumam constar, pelo menos em tão grande detalhe, numa encíclica papal. Prevista para sair em 2007, a terceira encíclica escrita pelo Papa Bento XVI – “Caritas in Veritate” – declaradamente adiada para levar em consideração a crise financeira, foi dada a conhecer nas vésperas da cimeira do G8, que teve lugar em L’Aquila, em Itália. Contudo, e como afirmou o Cardeal Renato Martino, Presidente do Concelho do Vaticano para a Justiça e Paz, em conferência de imprensa, “esta não é uma encíclica feita para a crise”, acrescentando contudo que “caso tivesse sido publicada antes desta deflagrar, toda a gente diria que era profética”.

Desenganem-se porém aqueles que pensam que Bento XVI se concentra num sistema económico específico, como tem vindo a ser noticiado por alguns meios de comunicação social, que o colocam como defensor de políticas de esquerda, afirmando até que o Papa pareceu menos conservador que Obama, depois do encontro que ambos tiveram. A encíclica não ataca o capitalismo nem propõe modelos para serem adoptados pelas nações, na medida em que a Igreja não tem soluções técnicas para oferecer e não pretende, de forma alguma, interferir nas políticas dos Estados. Contudo, “a Igreja tem uma missão ao serviço da verdade para cumprir”, sublinha o Sumo Pontífice.

Ou seja, e de acordo o Padre Robert A. Sirico, presidente e co-fundador do Action Institute, num artigo de opinião publicado no Wall Street Journal, com esta encíclica o Papa não pretende consolidar qualquer que seja a agenda política, estando antes preocupado com a moralidade e com os fundamentos teológicos da cultura vigente. Obviamente que o contexto é o de uma crise económica global – crise esta que teve lugar num vácuo moral, no qual o amor pela verdade foi abandonado a favor de um materialismo cruel. Daí que um dos pontos fundamentais da sua mensagem seja um alerta para a emergência de “uma oportunidade de discernimento, mediante a qual seja possível moldar uma nova visão para o futuro”.

O mesmo afirma o Padre David O’Connel, presidente da Universidade Católica da América e consultor do Vaticano, quando escreve que a mais recente encíclica oferece uma visão única ao utilizar princípios tradicionais para esclarecer questões da sociedade actual como a globalização, a economia, a tecnologia ou o ambiente. Relativamente à tecnologia, por exemplo, o Papa afirma que o desafio do desenvolvimento humano está intimamente relacionado com o progresso tecnológico, chamando à tecnologia uma realidade profunda relacionada com a autonomia e liberdade do homem. Mas, apesar de a considerar como “o lado objectivo da acção humana”, chama também a atenção que os avanços tecnológicos “podem dar origem à ideia de que a tecnologia é auto-suficiente”.

Será talvez esta análise profunda que Bento XVI faz dos temas contemporâneos que levou o italiano Ettore Gotti Tedeschi, banqueiro e professor de economia na Universidade Católica de Milão a defender, em entrevista, a indicação do nome de Bento XVI para o Nobel da Economia, afirmando que o principal mérito desta encíclica foi o de estabelecer uma relação entre o insuficiente crescimento económico e a queda da natalidade nos países desenvolvidos. A questão da família constitui outra preocupação central manifestada na encíclica. Afirmando que é errado considerar o aumento da população como “primeira causa do subdesenvolvimento”, recordando que o declínio nos nascimentos “coloca em crise os sistemas de assistência social”, a encíclica acrescenta assim que, nesta perspectiva, “os Estados são chamados a instaurar políticas que promovam a centralidade e a integridade da família, fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, célula primeira e vital da sociedade”.



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