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Como sair do vale do desemprego

Tendo como ponto de partida um estudo realizado pela McKinsey, Raul Galamba contextualiza o fenómeno do desemprego em Portugal, identificando dois problemas por excelência que agudizam esta realidade: a difícil transição da “educação para o emprego” e os desempregados de longa duração que muito dificilmente voltarão a integrar as fileiras do mercado laboral. Uma proposta de reflexão e de escolha de caminhos capazes de reorientar a empregabilidade nacional

31 de Janeiro de 2014 às 14:46
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O Trabalho e o Emprego em Portugal” estiveram em debate, no passado sábado, no CCB, numa conferência promovida pela ACEGE – Associação Cristã de Empresário e Gestores -, a qual contou com um conjunto diversificado de oradores que não só reflectiu sobre a apresentação de números e dados estatísticos inerentes ao tema, na Europa no geral e, em Portugal no particular, como tentou também oferecer algumas propostas de acção para o amenizar de um dos problemas mais graves com que se depara Portugal, mas também a esmagadora maioria dos seus congéneres europeus.


Para o sucesso desta iniciativa contou, sem dúvida, a selecção dos oradores, a qual conferiu ao debate em causa uma complementaridade notável: tendo como ponto de partida o estudo “Education to Employment: Getting Europe’s Youth into Work”, publicado pela McKinsey a 13 de Janeiro último e incluindo dados de oito países europeus, Raul Galamba, partner da consultora em Portugal, traçou o retrato do desemprego no nosso país e possíveis soluções para contra ele se lutar; seguidamente, a conferência reuniu uma perspectiva “macro” em termos demográficos, apresentada pela directora da PORDATA, Maria João Valente Rosa e, no mesmo painel, as perspectivas para uma geração experiente, apresentadas por Diogo Alarcão da consultora Mercer. Como não poderia deixar de ser, os desafios para as empresas – geralmente relegados para segundo plano face à dimensão gigantesca que a questão do desemprego ocupa na sociedade – foram igualmente abordados, com as intervenções de Alexandre Relvas, da Logoplaste e de Rui Diniz, da Efacec, contando com a moderação de Pedro Guerreiro. Por último, duas análises aparentemente isoladas: o enquadramento da temática em causa na visão humanista da Igreja, veiculada por D. Manuel Clemente e a crueza economicista da mesma, nas palavras do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.


No discurso de abertura que precedeu a apresentação de Raul Galamba, o presidente da ACEGE relembrou a parábola do Bom Samaritano numa espécie de paralelismo com a responsabilidade social das empresas face ao flagelo do desemprego: “o que pretendemos é olhar o desempregado como o Bom Samaritano olhou para o homem assaltado que ficou meio morto na beira da estrada”, afirmou. António Pinto Leite fez ainda questão de sublinhar que, depois de ler o material de enquadramento desta conferência, o que mais o incomodou foi o facto de os desempregados não serem contemplados nos programas de responsabilidade social das empresas, recomendando vivamente que esta temática passe a fazer parte destas políticas nos próximos anos (um apelo que reforça no seu artigo de Opinião, também publicado nesta newsletter).


Neste que é o artigo introdutório desta newsletter especial, o enfoque vai para os principais resultados do estudo da McKinsey (cuja leitura na íntegra se recomenda), em conjunto com propostas de alguns “caminhos de inversão” necessários para se encarar o trabalho e o emprego – ou a sua falta – de uma forma que permita traçar e implementar possíveis soluções.


Crise junta desempregados no mesmo barco
Tendo como base o estudo “Education to Employment: Getting Europe’s Youth into Work”,o qual, tal como o título indica, coloca os jovens no centro da pesquisa, a verdade é que a realidade do desemprego em Portugal é anterior à crise económica e financeira de 2008, apesar de ter sido profundamente agudizada por esta. E se as estatísticas são arrepiantes no que ao desemprego jovem diz respeito – atingindo quase os 40% -, são igualmente dramáticas para os denominados desempregados de longa duração. A nível geral, e de acordo com os últimos dados disponíveis, a taxa de desemprego em Portugal situa-se agora nos 15,5% por cento face à média de 11% que caracteriza a União Europeia, sendo que este disparo está intrinsecamente relacionado com a forma como o mercado de trabalho responde a estas situações.


Raul Galamba começou por oferecer uma visão geral face aos sectores mais afectados pelo desemprego – com destaque em particular para o da indústria transformadora, agricultura e pescas e sem esquecer o recordista sector da construção – em termos de destruição de emprego – o qual registou uma variação entre 2007 e 2013 na ordem dos 50%. Todavia e quando se fala em grupos etários, embora com características diferenciadas, a verdade é que “a crise juntou todos no mesmo barco”, como referiu Raul Galamba.


Mas e no interior deste barco perigosamente à deriva, se olharmos com mais atenção para uma das suas “populações” e, sim, neste caso, os jovens, a fotografia apresenta tonalidades diferentes. Se é verdade que a crise não poupa todos os níveis de escolaridade, são os jovens com mais formação aqueles que mais afectados pelo flagelo da crise e do desemprego foram. Em termos de percentagem, e apesar de as diferenças não serem gritantes, os jovens com o ensino secundário ou provenientes de cursos profissionais acabam por ser, comparativamente aos que frequentaram o ensino superior, ligeiramente menos afectados.


Em termos de números mais exactos, Portugal regista 147 mil desempregados jovens até aos 25 anos, 423 mil na faixa etária entre os 25 e os 44 anos e o particularmente preocupante número de 269 mil desempregados com 45 ou mais anos.


Estes dados levam-nos ao que já foi anteriormente citado no que respeita às características “específicas” do desemprego nacional, em que, se por um lado o desemprego jovem atinge quase os 40%, o desemprego de longa duração atinge dois terços na faixa etária acima dos 45 anos. E, se para estes últimos, o regresso ao mercado é por demais complicado, para um jovem, estar cinco ou seis anos fora da força laboral, cifra-se, igualmente, numa situação substancialmente dramática.


A queda no vale do desemprego
Ao apresentar as negras estatísticas do desemprego, Raul Galamba chamou igualmente a atenção para o facto de o mesmo não estar somente relacionado com a crise económica e financeira, mas constituir igualmente um desafio de mercado.

 

 

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