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Algarve surpreendido com aumento de britânicos apesar do Brexit
A depreciação da libra não impediu os turistas britânicos de continuarem a viajar para o bloco do euro e aumentarem em quase 10% os gastos em Portugal. Outros destinos, como França, Turquia ou Egipto, registam quedas na procura.
Os empresários algarvios do sector do turismo estão surpreendidos por, apesar da depreciação da libra no pós-Brexit, a redução do poder de compra dos turistas britânicos não se ter reflectido na procura pelo principal destino turístico nacional.
"É surpreendente. (…) A depreciação da libra levou-nos a acreditar que haveria um abrandamento no número de turistas a vir para Portugal mas isso não aconteceu," afirma Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), em declarações à Bloomberg.
No primeiro trimestre do ano, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de hóspedes britânicos (122.688) representou 25% do total de hóspedes que a região mais a Sul do país recebeu, incluindo portugueses. E o crescimento de 1,25% do número de hóspedes britânicos neste período contrariou a queda de 4,9% registada para o total das nacionalidades.
Também nas dormidas os turistas britânicos se evidenciaram, com as pernoitas a subirem 2,26% para mais de 650 mil dormidas de Janeiro a Março, acima da subida verificada nas dormidas totais, que foi de 1,32% para 2,15 milhões de dormidas. Aqui, o peso dos britânicos é ainda maior: representam 30% do total de estadias nos hotéis da região.
No conjunto das regiões turísticas do país o aumento do número de dormidas foi ainda maior: subiram quase 6% (5,71%) para 1,3 milhões. Números que comparam com uma depreciação da libra face ao euro de 11,81% desde o referendo que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia, e de uma depreciação de 1,76% desde o início do ano. Contudo, no primeiro trimestre, a moeda de Sua Majestade até apreciou: 0,4%.
A tendência de aumento da procura está a ser sentida por outros destinos, como Espanha (onde o número de turistas aumentou 11%) ou mesmo na Irlanda do Norte. A questão da segurança (ou da ausência dela) penaliza destinos como França – as reservas de hotéis caíram 9%, ainda na sequência dos atentados de Nice e Paris –, Turquia ou Egipto.
Ryanair: "Companhias 'low-cost' financiam tudo isto"
A sustentar o comportamento de crescimento da procura turística britânica está, segundo o CEO da Ryanair, a queda dos preços das viagens aéreas. Michael O’Leary diz que, em média, os preços das passagens no ano até Março caíram 8%, período em que o preço do petróleo Brent evoluiu em sentido contrário, recuperando 36,6% do valor em dólares.
O’Leary acredita que os preços das viagens devem continuar a reduzir-se no próximo ano. "São as companhias aéreas que estão a financiar tudo isto. O Reino Unido é forte em volume, mas muito fraco em termos de preço," considera o líder da companhia que tem acordos de promoção de destinos com várias capitais e aeroportos europeus.
Segundo a Bloomberg, o número de viajantes para fora do Reino Unido aumentou 3% no primeiro trimestre em relação a 2016 e os gastos subiram 8%. Um ritmo semelhante ao verificado em Portugal, onde as receitas turísticas de gastos de cidadãos britânicos subiram 9,1% para 352,7 milhões de euros. O valor gasto pelos britânicos correspondeu a 16% do total (2.212 milhões de euros) gasto por turistas estrangeiros no país.