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Depois do MH17, a queda da Malaysia Airlines?

Em seis meses, dois acidentes envolvendo aviões da Malaysia Airlines. Coloca-se agora em causa o futuro da empresa. Antes do segundo acidente, só havia dinheiro para mais um ano. A privatização está em cima da mesa.

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Can Malaysia Airlines Survive Two Disasters?
21 de Julho de 2014 às 15:17
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O voo MH17 terá representado o avião errado, no local errado, à hora errada. Menos de seis meses depois do desaparecimento do MH370, a Malaysia Airlines volta a tremer. Pela última vez, acreditam alguns analistas.

 

As coisas já não iam bem para a companhia malaia antes da tragédia desta quinta-feira, 17 de Julho, no leste da Ucrânia. Desde 2011, a empresa já perdeu o equivalente a 1,3 mil milhões de dólares. Só no primeiro trimestre os prejuízos foram de 140 milhões de dólares, revela o The Wall Street Journal. Agora, por dia, são 1,6 milhões.

 

Depois do MH370, acumularam-se processos judiciais e milhões de dólares em pagamentos às famílias dos passageiros. De acordo com a legislação internacional, citada pela CNN, a Malaysia tem de pagar cerca de 150.000 dólares a cada passageiro falecido em ambos os voos. São agora 537 mortes a registar, um número superior à média anual registada entre 2009 e 2013 em acidentes de aviação comercial, numa única companhia. Total: 81 milhões de dólares, no mínimo.

 

Acrescentem-se dois Boeing 777 com um valor conjunto de 200 milhões de dólares e as despesas com alojamento, hotel, refeições e transporte previstas para os familiares do segundo acidente. Para cada família há 5.000 dólares previstos nos fundos, já disponíveis. Total: 1,5 milhões de dólares. 

 

Privatizar ou avançar para a falência? Tudo depende do Estado

 

São números que ilustram um problema maior na companhia aérea. A questão fixa-se: será a Malaysia Airlines capaz de superar as duas tragédias? "O apoio governamental precisa de ser mais explícito e talvez maior", acredita Bertrand Grabowski do DVB Bank, contactado pela BBC. A intervenção estatal já era uma necessidade antes de quinta-feira, esclarece a CNN.

 

Contudo, o fundo estatal que detém uma participação maioritária na Malaysia Airlines (70%) poderá ter uma posição contrária. O The Wall Street Journal avança que o Khazanah Nasional estará a ponderar privatizar a transportadora aérea. A ideia já não é de agora: há mais de um mês que estava a estudar opções para reestruturar a empresa.

 

A Bloomberg diz que a própria Malaysia Airlines tem um plano de recuperação para apresentar ao Governo malaio. A apresentação está prevista para esta semana, aponta a agência noticiosa. A privatização, a autorização para avançar para falência ou a renegociação de contratos com sindicatos são hipóteses em cima da mesa. Salvar a Malaysia será um compromisso político, acreditam os analistas.

 

O Khazanah Nasional foi criado em 1994 pelo Governo da Malásia, de modo a absorver activos e passivos financeiros da Malaysia Airlines. O objectivo era limpar a dívida da empresa e permitir a entrada de algum dinheiro. No total, o fundo investiu mais de 1.000 milhões de dólares, diz a BBC. Antes do segundo acidente, já só havia dinheiro suficiente para que a empresa durasse cerca de um ano.

 

Reputação afectada, o maior dano

 

O aumento da competição nos últimos anos – sobretudo da AirAsia – é um factor incontornável para explicar a diminuição das receitas da Malaysia. A falta de prestígio também não lhe permitiu aumentar os preços dos bilhetes aéreos, explicam várias publicações internacionais. À equação juntam-se rotas ineficientes e acordos elevados com sindicatos. Resultado:  a deterioração constante dos resultados financeiros.

 

Para Daniel Tsang, fundador da consultora Aspire Aviation, o processo de falência seria uma "boa opção" para a Malaysia Airlines, permitindo tornar a companhia mais competitiva. Ainda assim, admite que a "reestruturação vai ser dolorosa para muita gente".

 

Mais do que a recuperação económica, o que está em causa é a reputação da própria companhia. O reconhecimento do público de que a companhia foi alheia ao segundo acidente pode ajudar. Caso contrário, o efeito "nunca mais viajo na Malaysia, não têm segurança" pode ser fatal.

 

Na sexta-feira, 18 de Junho, a companhia fechou o dia com as suas acções a cair 11%. O contágio aos mercados asiáticos fez-se sentir. Nos últimos dois meses, e em comparação homóloga, o número de passageiros está a contrair-se. Em nove meses, o seu valor de mercado caiu 40%. As perspectivas futuras são também de queda, pelo menos até 2016, diz a Bloomberg.

 

A Time classifica-a como a "companhia aérea com menos sorte em todo o mundo". Há a esperança remota de que a companhia renasça das cinzas, como a fénix da aviação.

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