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"Todos vão reclamar no final". Drama da Oi atinge o auge

"Os accionistas vão ficar infelizes e os credores vão ficar infelizes. A questão é isso ser de maneira relativamente equilibrada e eles aceitarem a nossa proposta", diz Marco Schroeder.

Bloomberg
12 de Novembro de 2017 às 18:50
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Marco Schroeder orgulha-se do cuidado com a organização da assembleia geral de credores da Oi. Cerca de 6.000 pessoas deveriam reunir-se no RioCentro, no Rio de Janeiro, no mês passado, e Schroeder, o presidente, estava ansioso para demonstrar o profissionalismo de uma empresa pronta para se reerguer.

 

A assembleia foi adiada e o que ficou foi apenas o ensaio geral. Dias depois, Schroeder, de 53 anos, mostrava melancolicamente no telemóvel fotos do palco e da iluminação do centro de convenções. Depois de 16 meses de luta para tirar a empresa de uma recuperação judicial recorde de 60 mil milhões de reais, não havia ainda qualquer resolução à vista.

 

Agora, semanas mais tarde, a longa trama da novela da Oi continua a adensar-se, com a assembleia adiada mais uma vez e muita tensão entre as várias partes. Nenhuma das propostas de reestruturação aprovadas até agora foi recebida com entusiasmo pelos credores e as tentativas de Schroeder de negociar com os detentores de dívida levaram a um impasse com o conselho que chegou a colocar em risco seu cargo.

 

Schroeder, um gaúcho tranquilo de sorriso fácil, está no centro da luta pela alma da Oi, parte de um ex-monopólio estatal que acumulou dívidas e multas do governo por serviço de má qualidade ao longo de décadas de descuido dos seus administradores.

 

O Brasil tem atraído os holofotes com escândalos de corrupção e má gestão corporativa, mas o caso da Oi tem mais a ver com oportunidades perdidas e decisões erradas. É a única empresa de telecomunicações totalmente brasileira, competindo com gigantes multinacionais como a Telefónica, América Movil e Telecom Italia. A Oi opera a segunda maior rede de fibra óptica do mundo, tem mais de 100.000 funcionários e 62 milhões de clientes, e é a única fornecedora de serviços de telecomunicações para mais de 2.000 cidades espalhadas pelo Brasil.

 

O orgulho nacional impediu que fosse engolida por uma operadora estrangeira mais de uma vez e o seu grande endividamento não deixou a empresa investir o suficiente na sua rede, deixando-a para trás dos concorrentes em qualidade e levando a multas mais severas dos reguladores.

 

Ainda não está claro em qual das propostas os credores vão votar na assembleia de Dezembro. O plano que foi aprovado pelo conselho tem pouca possibilidade de ganhar o apoio dos credores porque não lhes dá o controlo e o governo ainda está a rever a parte do plano que lhe toca. O plano inclui o pagamento de uma taxa antecipada aos detentores de títulos que concordarem em participar numa injecção de capital e troca de dívida por acções no montante de cerca de 2,2 mil milhões de reais.

 

Schroeder e a maioria dos directores da Oi opõem-se a partes dessa proposta porque dizem que o pagamento antecipado da taxa significaria tirar dinheiro da Oi. O CEO estava a negociar um plano com os detentores de títulos que teria maiores possibilidades de ser aceite, mas o conselho controlado pelos accionistas rejeitou o plano e avançou com sua própria proposta. Os credores querem converter a sua dívida numa participação maior na Oi do que o plano do conselho permite.

 

Se os credores não aprovarem um plano em Dezembro, têm outra oportunidade no dia 1 de Fevereiro. Se nenhuma proposta for aprovada, a empresa pode ir à falência. Schroeder continua optimista de que não será necessário chegar a esse ponto, mas disse que a aprovação do plano vai exigir sacrifício de cada uma das partes.


"Todos no final vão reclamar", disse Schroeder no seu escritório em Outubro. "Os accionistas vão ficar infelizes e os credores vão ficar infelizes. A questão é isso ser de maneira relativamente equilibrada e eles aceitarem a nossa proposta".

 

China Telecom

 

Outro potencial interessado anda à espreita. Um que poderia ajudar a Oi a acelerar os seus investimentos. Numa tarde no final de Outubro, dias após a assembleia de accionistas da Oi ter sido adiada por ordem judicial, representantes da China Telecom Corp. visitavam a sede da empresa no luxuoso bairro do Leblon, fazendo a due diligence para uma potencial oferta pela companhia.

 

Schroeder estava mais preocupado naquele dia com a paz entre as várias facções que lutavam pela Oi. Elas incluem o accionista Nelson Tanure, um empresário bom de briga; dois grupos de credores internacionais que exigem o controlo; os reguladores governamentais que querem receber muitos milhões de dólares em multas; ex-funcionários, fornecedores e outros credores que têm na empresa o seu meio de subsistência.

 


O caso chamou a atenção do Presidente Michel Temer, que reuniu uma "task-force" para trabalhar com todas as partes para encontrar uma solução. A Anatel apoiou Schroeder, que cada vez mais tem-se confrontado com Tanure, levando à especulação de que o CEO pode acabar pedindo demissão ou sendo substituído. Até agora, Schroeder resiste.

 

A lista de credores da Oi é uma espécie de quem é quem do mundo de dívidas de alto risco, com personagens conhecidas como Aurelius Capital Management, Golden Tree Partners, BlackRock Inc. e Brookfield Asset Management. A Elliott Management Corp. e a Cerberus Capital Management chegaram a considerar ajudar a empresa a sair da bancarrota com investimentos de muitos milhões de dólares, mas recuaram. Um potencial investidor do Egipto, Naguib Sawiris, também apareceu e desapareceu.

 

Tanure tem sido a figura constante na batalha pelo futuro de Oi, orquestrando o caos do elegante escritório da sua empresa de investimentos, o Société Mondiale, no Rio. As janelas panorâmicas na sua sala de reuniões, forrada de livros antigos e esculturas clássicas, oferecem vistas serenas da Baía de Guanabara e do Pão de Açúcar. Tanure, em mangas de camisa, recebe os visitantes com um charme que desarma, conversando fluentemente em inglês e português sobre política brasileira e arte moderna.

 

Mas Tanure não foge do tema. Construiu para si uma reputação de investidor litigante, encarando boas lutas em empresas em dificuldade como o jornal financeiro Gazeta Mercantil e a Petro Rio SA, anteriormente conhecida como HRT Oil & Gas. Tanure começou a investir na Oi no ano passado, quando a acção estava no fundo do poço e, eventualmente, garantiu vagas no conselho e alianças suficientes para imprimir a sua visão sobre o futuro da empresa. Ele reivindica para si a tarefa de restaurar a grandeza da Oi.

 

"Eu sou um investidor brasileiro e aqui eu entendo", disse Tanure. "A Oi é uma empresa brasileira com enorme potencial de crescimento, e é por isso que começamos a investir nela. Com este grande potencial, certamente poderia chegar à liderança do sector de telecomunicações do país".

 

O problema

 

Para cumprir seus objectivos, Tanure quer continuar a mandar na Oi, e este é o problema, já que os credores dizem que merecem ficar com a maioria da empresa depois da reestruturação. Na semana passada, os membros do conselho que representam o Société Mondiale ajudaram a dar um golpe de mestre para garantir a aprovação do plano apoiado por Tanure, elegendo dois directores estatutários de sua confiança, o que lhes permitiu rejeitar a proposta feita pelos credores. Os maiores grupos de credores da Oi chamaram a manobra de "uma violação ultrajante dos padrões de governação corporativa".

 

Tanure, de 65 anos, defende o seu plano como a única proposta concreta para levar a Oi de volta à saúde financeira e disse que está disposto a trabalhar com quem esteja comprometido com a recuperação da Oi. Mas os credores dizem que ele não está disposto a chegar a um acordo e que o que realmente pretende é levar a empresa à falência, fatiá-la e vender aos pedaços.

 

O presidente Temer designou a Advogada-Geral da União Grace Mendonça para liderar uma "task force" do governo que tem por objectivo ordenar a confusão em que está a Oi. Mendonça foi ao Rio de Janeiro no mês passado para se encontrar com o juiz Fernando Viana, que está presidindo o caso.

 

A visita ao gabinete do juiz passa por um caminho tortuoso num complexo de cinco edifícios, perto do aeroporto Santos Dumont, com corredores sem fim revestidos de granito castanho. A música pop a tocar em volume baixo serve de fundo para o grito dos operadores de elevadores, que anunciam em que direcção vão os elevadores. A maior recuperação judicial da história do Brasil está a ser processada numa pequena sala no sétimo andar do prédio central.

 

A entrada do gabinete do juiz está apinhada com pilhas de processos com capas de papel rosa pálido, cada uma contendo cerca de 200 páginas, de acordo com o analista judiciário que assessora o juiz. Felizmente, o caso de Oi é totalmente digital, porque já produziu o equivalente a 200.000 páginas de documentos, mais do que caberia na sala. O tamanho do caso e a quantidade de partes interessadas chegaram a deixar lento o site do tribunal, e a equipe de suporte técnico está a trabalhar para corrigir o problema, disse o assessor.

 

O juiz Viana, de ar jovial, corte de cabelo moderno, camisa e gravata bem cortados, e óculos finos e rectangulares, recusou-se a discutir os detalhes do caso. Num breve encontro no seu gabinete, decorado com reproduções de "A Noite Estrelada" e "Jardim de Íris" de Van Gogh, contou que considera o seu papel no maior caso de falência do Brasil como uma questão de destino.

 

Os detalhes do caso são tão únicos e os factos tão complexos, que as partes envolvidas falam da Oi com um senso de gravidade que vai além de uma típica empresa em dificuldades financeiras. Milhares de trabalhadores, milhões de clientes, a infra-estrutura do país e até mesmo o orgulho nacional estão em jogo.

 

Em algum momento durante a saga, Schroeder e a sua esposa deixaram de caminhar pelo calçadão de Ipanema. Ele ficou cansado de ser abordado a cada 10 minutos por pessoas interessadas em saber o futuro de Oi.

 

"Estamos sob pressão todos os dias", diz Schroeder. "O meu lema é: faça o certo e não tema ninguém".

 

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