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Perguntas e respostas para entender o caso Huawei

A Huawei Technologies, uma das maiores empresas globais da China, está cada vez mais na mira do Governo norte-americano e dos seus aliados ocidentais, numa altura em que está a tentar desempenhar um papel de liderança na nova rede de telecomunicações móveis, conhecida por 5G. O gigante das telecomunicações enfrenta múltiplas batalhas, incluindo a prisão da sua administradora financeira no Canadá, acusações criminais nos Estados Unidos e a perspetiva de ser impedida de comprar componentes norte-americanos e afastada dos novos projetos de infraestruturas em todo o mundo. Esta luta surge numa altura em que se intensifica a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, na qual as tecnológicas chinesas têm sido o fantasma especial do presidente Donald Trump.

20 de Maio de 2019 às 16:10
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Porque os EUA têm um problema com a Huawei?

A empresa tem beneficiado de um tratamento especial na China, e os membros do governo dos Estados Unidos e os gestores deste setor no país têm levantado suspeitas de que a Huawei trabalha de acordo com os interesses do governo chinês. Um relatório publicado pelos serviços de inteligência do Governo norte-americano em 2012 classificou a Huawei e a ZTE como potenciais ameaças à segurança, referindo não existirem evidências que aliviem os receios de que estas empresas estão sujeitas a pressões políticas no seu país de origem. Este relatório também assinalou que a Huawei recusou descrever o "passado totalmente dedicado às forças armadas" de Ren Zhengfei, um antigo engenheiro do exército chinês que fundou a Huawei em 1987. As preocupações com a Huawei levaram o Governo norte-americano a bloquear a OPA hostil que a Broadcom (de Singapura) lançou em 2018 sobre a fabricante de chips norte-americana Qualcomm. Uma operação que, a concretizar-se, poderia cortar o investimento dos EUA no setor dos chips e telecomunicações móveis, entregando a liderança mundial nesta área à Huawei.

 

O que fez a administração Trump?  

Cortou a capacidade da Huawei vender equipamentos nos estados Unidos e, de forma mais significativa, comprar componentes aos seus fornecedores sediados nos Estados Unidos. Avançou com uma ação executiva e, a 17 de maio, adicionou a Huawei à lista negra do Departamento do Comércio,  que obriga as empresas norte-americanas a obter uma licença especial para vender produtos à Huawei. A Qualcomm, Intel, Google e ouras empresas rapidamente começaram a congelar o fornecimento de software e componentes fundamentais para a Huawei, colocando em causa a capacidade da empresa chinesa fabricar os seus produtos. Esta ação pode atrasar o desenvolvimento das redes 5G em todo o mundo e levar vários países a optarem pelos equipamentos mais caros de outras companhias, como a Nokia e a Ericsson.

 

Porque é que o equipamento interessa?

O governo norte-americano – como o chinês e de outros países – é cauteloso na utilização de tecnologia estrangeira nas suas comunicações vitais, devido ao receio que as fabricantes dos equipamentos deixem uma porta aberta que permita aos serviços de inteligência dos seus países aceder a informação. Ou que as próprias empresas se apoderem de informação sensível. A Vodafone encontrou vulnerabilidades em equipamento da Huawei fornecidos para o mercado italiano entre 2009 e 2011. Apesar de ser difícil confirmar se estas vulnerabilidades eram propositadas (e por isso perversas) ou erros sem relevo (e por isso acidentais), a notícia representou um golpe para a reputação da empresa chinesa. O secretário de Estado dos EUA, Michael Pompeo, afirmou que o país pode não partilhar a informação dos serviços de inteligência com os seus parceiros da NATO, se estes usarem equipamento da Huawei. Ainda assim, alguns destes países, como a França e a Alemanha, afastaram o cenário de impedir a Huawei de participar na construção das suas redes de 5G, sobretudo devido ao preço mais baixo.

 

O que diz a Huawei?

Tem repetidamente negado que ajuda Pequim a espionar outros governos ou empresas. E assinala que ninguém alguma vez providenciou provas que suportem tais acusações. A empresa, que diz ser detida por Ren e vários trabalhadores através de um sindicato, começou nos últimos anos a divulgar informação financeira, aumentou o orçamento de marketing e envolveu os media estrangeiros no esforço para aumentar a transparência. Em janeiro, Ren, um CEO muito reservado, falou sobre os desafios que a empresa enfrenta, incluindo a prisão da CFO Meng Wanzhou, que é sua filha. Apesar de ter assinalado o orgulho com a carreira militar e ter integrado o Partido Comunista, Ren rejeitou estar ao serviço de Pequim ou que a Huawei obtenha informação dos seus clientes de forma ilegal. Em março, a Huawei partiu para o ataque, entrando com uma ação judicial num tribunal federal sobre um diploma que impede as agências norte-americanas de utilizar os seus equipamentos. Também criticou as restrições que enfrenta para fazer negócios nos EUA, classificando-as de "irracionais".         

 

O que aconteceu a Meng?

Foi detida em Vancouver a 1 de dezembro, a pedido dos EUA, que avançou com um pedido formal de extradição no âmbito de um caso criminal, alegando que a CFO da Huawei conspirou para defraudar os bancos que involuntariamente permitiram transações com o Irão, o que violava as sanções aos EUA. Meng e a empresa negam qualquer má conduta. A gestora, que também é vice-presidente da Huawei, avançou com um processo contra o Canadá por detenção ilegal. Foi libertada sob fiança a 11 de dezembro, vivendo atualmente numa casa de luxo em Vancouver enquanto os tribunais decidem o seu destino. A sua residência é em Shenzhen, cidade onde a Huawei está sedeada.

 

Existem outros casos?         

Sim e há bastantes anos. Em 2003, a Cisco Systems processou a Huawei por alegadamente ter infringido com as suas patentes e copiado, de forma ilegal, código informático de routers e outros equipamentos. A Huawei removeu o código dos seus produtos e serviços e o caso foi encerrado. Mas há mais casos em que a empresa chinesa foi acusada de ter roubado propriedade intelectual de outras companhias dos EUA. A Motorola processou a empresa em 2010 por, alegadamente, ter conspirado com antigos trabalhadores da empresa para roubar segredos comerciais.

 

Ambas as partes chegaram depois a acordo. Em 2017 um júri apurou em tribunal que a Huawei foi responsável pelo roubo de tecnologia à T-Mobile US e a 28 de janeiro o Departamento de Justiça acusou a empresa de roubar informação secreta relacionada com este caso. Entretanto, a Polónia (um aliado leal dos EUA), prendeu um trabalhador da Huawei por suspeitas de espionagem para o governo chinês. A Huawei despediu o trabalhador e negou qualquer envolvimento nas alegações.

A Huawei é mesmo gigante?

Em apenas três décadas, passou de vendedora de artigos eletrónicos a uma das maiores empresas privadas do mundo, com posições de liderança nos segmentos de equipamentos de telecomunicações, smartphones, cloud computing e cibersegurança. Marca presença na Ásia, Europa e África. Para 2019 tem uma meta de receitas de 125 mil milhões de dólares, valores superiores aos alcançados num ano por empresas como a Home Depot e a Boeing. Aplicou milhares de milhões de dólares no desenvolvimento do 5G e é agora uma das empresas chinesas com o maior número de patentes. Colaborou na construção de redes 5G em mais de 10 países e estima fazer o mesmo em mais 20 até 2020. Numa ameaça direta à Qualcomm, a Huawei está a desenvolver os seus próprios semicondutores. A série Kerin de processadores mobile, feitos através da sua subsidiária HiSilicon, compete diretamente com os chips Snapdragon da Qualcomm, que equipam os aparelhos da Samsung e outras fabricantes de telemóveis em todo o mundo. Já a Kunpeng, que também é da Huawei, está a ameaçar o domínio da Intel nos servidores.

 

Há mais empresas chinesas sob pressão?

Sim. A ZTE quase que entrou em colapso depois do Departamento do Comércio ter impedido a empresa de comprar tecnologia dos EUA durante três meses. O Departamento de Justiça acusou a estatal chinesa Fujian Jinhua Integrated Circuit, o seu parceiro de Taiwan e três pessoas de roubarem informação secreta da Micron Technology. No mesmo dia, o procurador geral Jeff Sessions disse que o governo norte-americano iria alocar mais recursos para combater a ameaça da "espionagem económica chinesa".



Há mais empresas chinesas sob pressão?

Sim. A ZTE quase que entrou em colapso depois do Departamento do Comércio ter impedido a empresa de comprar tecnologia dos EUA durante três meses. O Departamento de Justiça acusou a estatal chinesa Fujian Jinhua Integrated Circuit, o seu parceiro de Taiwan e três pessoas de roubarem informação secreta da Micron Technology. No mesmo dia, o procurador geral Jeff Sessions disse que o governo norte-americano iria alocar mais recursos para combater a ameaça da "espionagem económica chinesa".

 

Texto original:  How Huawei Became a Target for Governments
A Huawei é mesmo gigante?

Em apenas três décadas, passou de vendedora de artigos eletrónicos a uma das maiores empresas privadas do mundo, com posições de liderança nos segmentos de equipamentos de telecomunicações, smartphones, cloud computing e cibersegurança. Marca presença na Ásia, Europa e África. Para 2019 tem uma meta de receitas de 125 mil milhões de dólares, valores superiores aos alcançados num ano por empresas como a Home Depot e a Boeing. Aplicou milhares de milhões de dólares no desenvolvimento do 5G e é agora uma das empresas chinesas com o maior número de patentes. Colaborou na construção de redes 5G em mais de 10 países e estima fazer o mesmo em mais 20 até 2020. Numa ameaça direta à Qualcomm, a Huawei está a desenvolver os seus próprios semicondutores. A série Kerin de processadores mobile, feitos através da sua subsidiária HiSilicon, compete diretamente com os chips Snapdragon da Qualcomm, que equipam os aparelhos da Samsung e outras fabricantes de telemóveis em todo o mundo. Já a Kunpeng, que também é da Huawei, está a ameaçar o domínio da Intel nos servidores.

Existem outros casos?         

Sim e há bastantes anos. Em 2003, a Cisco Systems processou a Huawei por alegadamente ter infringido com as suas patentes e copiado, de forma ilegal, código informático de routers e outros equipamentos. A Huawei removeu o código dos seus produtos e serviços e o caso foi encerrado. Mas há mais casos em que a empresa chinesa foi acusada de ter roubado propriedade intelectual de outras companhias dos EUA. A Motorola processou a empresa em 2010 por, alegadamente, ter conspirado com antigos trabalhadores da empresa para roubar segredos comerciais.

 

Ambas as partes chegaram depois a acordo. Em 2017 um júri apurou em tribunal que a Huawei foi responsável pelo roubo de tecnologia à T-Mobile US e a 28 de janeiro o Departamento de Justiça acusou a empresa de roubar informação secreta relacionada com este caso. Entretanto, a Polónia (um aliado leal dos EUA), prendeu um trabalhador da Huawei por suspeitas de espionagem para o governo chinês. A Huawei despediu o trabalhador e negou qualquer envolvimento nas alegações.

 

O que aconteceu a Meng?

Foi detida em Vancouver a 1 de dezembro, a pedido dos EUA, que avançou com um pedido formal de extradição no âmbito de um caso criminal, alegando que a CFO da Huawei conspirou para defraudar os bancos que involuntariamente permitiram transações com o Irão, o que violava as sanções aos EUA. Meng e a empresa negam qualquer má conduta. A gestora, que também é vice-presidente da Huawei, avançou com um processo contra o Canadá por detenção ilegal. Foi libertada sob fiança a 11 de dezembro, vivendo atualmente numa casa de luxo em Vancouver enquanto os tribunais decidem o seu destino. A sua residência é em Shenzhen, cidade onde a Huawei está sedeada.

O que diz a Huawei?

Tem repetidamente negado que ajuda Pequim a espionar outros governos ou empresas. E assinala que ninguém alguma vez providenciou provas que suportem tais acusações. A empresa, que diz ser detida por Ren e vários trabalhadores através de um sindicato, começou nos últimos anos a divulgar informação financeira, aumentou o orçamento de marketing e envolveu os media estrangeiros no esforço para aumentar a transparência. Em janeiro, Ren, um CEO muito reservado, falou sobre os desafios que a empresa enfrenta, incluindo a prisão da CFO Meng Wanzhou, que é sua filha. Apesar de ter assinalado o orgulho com a carreira militar e ter integrado o Partido Comunista, Ren rejeitou estar ao serviço de Pequim ou que a Huawei obtenha informação dos seus clientes de forma ilegal. Em março, a Huawei partiu para o ataque, entrando com uma ação judicial num tribunal federal sobre um diploma que impede as agências norte-americanas de utilizar os seus equipamentos. Também criticou as restrições que enfrenta para fazer negócios nos EUA, classificando-as de "irracionais".         

Porque é que o equipamento interessa?

O governo norte-americano – como o chinês e de outros países – é cauteloso na utilização de tecnologia estrangeira nas suas comunicações vitais, devido ao receio que as fabricantes dos equipamentos deixem uma porta aberta que permita aos serviços de inteligência dos seus países aceder a informação. Ou que as próprias empresas se apoderem de informação sensível. A Vodafone encontrou vulnerabilidades em equipamento da Huawei fornecidos para o mercado italiano entre 2009 e 2011. Apesar de ser difícil confirmar se estas vulnerabilidades eram propositadas (e por isso perversas) ou erros sem relevo (e por isso acidentais), a notícia representou um golpe para a reputação da empresa chinesa. O secretário de Estado dos EUA, Michael Pompeo, afirmou que o país pode não partilhar a informação dos serviços de inteligência com os seus parceiros da NATO, se estes usarem equipamento da Huawei. Ainda assim, alguns destes países, como a França e a Alemanha, afastaram o cenário de impedir a Huawei de participar na construção das suas redes de 5G, sobretudo devido ao preço mais baixo.

  

O que fez a administração Trump?  

Cortou a capacidade da Huawei vender equipamentos nos estados Unidos e, de forma mais significativa, comprar componentes aos seus fornecedores sedeados nos Estados Unidos. Avançou com uma ação executiva e, a 17 de maio, adicionou a Huawei à lista negra do Departamento do Comércio,  que obriga as empresas norte-americanas a obter uma licença especial para vender produtos à Huawei. A Qualcomm, Intel, Google e ouras empresas rapidamente começaram a congelar o fornecimento de software e componentes fundamentais para a Huawei, colocando em causa a capacidade da empresa chinesa fabricar os seus produtos. Esta ação pode atrasar o desenvolvimento das redes 5G em todo o mundo e levar vários países a optarem pelos equipamentos mais caros de outras companhias, como a Nokia e a Ericsson.

Porque os EUA têm um problema com a Huawei?

A empresa tem beneficiado de um tratamento especial na China, e os membros do governo dos Estados Unidos e os gestores deste setor no país têm levantado suspeitas de que a Huawei trabalha de acordo com os interesses do governo chinês. Um relatório publicado pelos serviços de inteligência do Governo norte-americano em 2012 classificou a Huawei e a ZTE como potenciais ameaças à segurança, referindo não existirem evidências que aliviem os receios de que estas empresas estão sujeitas a pressões políticas no seu país de origem. Este relatório também assinalou que a Huawei recusou descrever o "passado totalmente dedicado às forças armadas" de Ren Zhengfei, um antigo engenheiro do exército chinês que fundou a Huawei em 1987. As preocupações com a Huawei levaram o Governo norte-americano a bloquear a OPA hostil que a Broadcom (de Singapura) lançou em 2018 sobre a fabricante de chips norte-americana Qualcomm. Uma operação que, a concretizar-se, poderia cortar o investimento dos EUA no setor dos chips e telecomunicações móveis, entregando a liderança mundial nesta área à Huawei.

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