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Ocidente afasta-se da Huawei. Em Portugal estreitam-se laços
A Huawei tornou-se esta quarta-feira protagonista da discórdia entre Estados Unidos e China com a ordem de detenção da CFO da empresa chinesa pela Casa Branca. Contudo, o conflito estende-se a preocupações com a segurança nacional, e os Estados Unidos não são os únicos a tomar medidas. Em Portugal, pelo contrário, é tempo de fechar alianças com a gigante das telecomunicações chinesa.
Esta quarta-feira, 5 de Novembro, a Huawei esteve sob os holofotes em várias geografias e por diferentes razões. Na América do Norte, os ânimos agitaram-se com a detenção da CFO da empresa chinesa, suspeita de não respeitar as sanções impostas pelos EUA ao Irão. No Reino Unido, a operadora de telecomunicações BT rejeitou a cooperação com a Huawei no desenvolvimento do 5G, tal como já se tinha verificado noutros países. Já em Portugal, por ocasião da visita de Xi Jinping, a Altice aliou-se à Huawei precisamente para o desenvolvimento conjunto desta tecnologia.
A Huawei está nas bocas do mundo – e sobretudo dos investidores, que assistem aos mercados a afundar – por constituir mais um motivo de atrito entre Washington e Pequim. A perspectiva de um acordo comercial que concilie as duas maiores economias do mundo parece mais distante depois da detenção de Wanzhou Meng, a responsável financeira da Huawei e filha do respectivo fundador, que foi detida no Canadá por ordem dos Estados Unidos, na sequência de uma investigação que visa possíveis violações às sanções ao Irão. Para além deste tipo de acusações, as quais também já afectaram a chinesa ZTE, a Casa Branca já avançou por mais de uma vez a suspeita de que o Governo chinês poderá estar a utilizar estas tecnológicas para acções de espionagem.
Paralelamente, a empresa de telecomunicações britânica BT anunciou esta quarta-feira que iria bloquear a utilização de equipamento da Huawei e da congénere chinesa ZTE em áreas chave da sua rede de 4G e 5G.
No mesmo dia, 5 de Dezembro, a Altice Portugal firmou um memorando de entendimento com a Huawei que define uma parceria entre as duas empresas para o "desenvolvimento e implementação dos serviços de 5G em Portugal", anunciou a portuguesa em comunicado. "Os serviços da Altice Portugal vão usar o equipamento e software da Huawei como uma evolução natural da rede de 4G já existente" no país, avançando para a "última fase de uma parceria crescente" entre ambas as empresas.
Acumulam-se as barreiras à Huawei
Antes do Reino Unido, também a Austrália e a Nova Zelândia decidiram afastar a ZTE e a Huawei das infraestruturas de telecomunicações dos respectivos países. A Austrália decidiu barrar a cooperação no passado mês de Agosto, alegando "motivos de segurança nacional". Seguiu-se a Nova Zelândia, no final de Novembro, citando as mesmas razões. Nos Estados Unidos, foram as gigantes de telecomunicações AT&T e Verizon Communications a quebrar os acordos que tinham para distribuir smartphones da Huawei este ano.
Da parte do Governo norte-americano foi assinado um despacho, em Agosto, que proíbe o uso da tecnologia da Huawei e da ZTE pelo Governo. Esta decisão veio acompanhada de uma recomendação do FBI, CIA e NSA aos cidadãos norte-americanos para que também eles rejeitassem a utilização de equipamentos da Huawei. Já no final de Novembro, o The Wall Street Journal revelou, citando fontes anónimas, que Trump estaria a pressionar os aliados – como a Alemanha, Itália e Japão – no mesmo sentido, com o objectivo de proteger as bases militares americanas nestes países dos mesmos riscos de espionagem.
Mas porquê os receios?
A Huawei é a líder mundial em equipamento de telecomunicações e a segunda maior fabricante de smartphones no globo – tendo-se também afirmado como uma referência no desenvolvimento de tecnologia 5G. Ao contrário da maioria das empresas chinesas, grande parte do seu negócio tem lugar no estrangeiro.
Apesar de a empresa ter natureza privada, a estrutura accionista é desconhecida. O fundador, Ren Zhengfei, serviu anteriormente como militar. Outro dos factores a levantar dúvidas é uma lei que entrou em vigor na China, a qual requer às empresas nacionais que dêem assistência ao Governo quando solicitado.
As suspeitas de espionagem foram lançadas pelo Governo dos Estados Unidos, mas carecem de provas, e a empresa chinesa tem negado repetidamente as acusações. As suspeitas em relação às empresas de telecomunicações chinesas por parte dos Estados Unidos remontam a 2012, quando a Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes, ao cabo de um ano de investigação, recomendou ao Governo e às empresas norte-americanas que não recorressem a serviços da Huawei e da ZTE, apontando o risco de que estas acedessem a informação confidencial.