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Toshiba agita-se com mudança abrupta de liderança e rumores de compra

Até agora, só a oferta da CVC foi oficializada pela Toshiba, mas há rumores de outras companhias de olho no conglomerado. Pelo meio, o contestado CEO abandona o cargo, para dar lugar àquele que em tempos foi o seu antecessor.

Toshiba, 10.600 postos de trabalho. Envolvida no escândalo de manipulação das contas, a nipónica Toshiba foi uma das empresas que anunciou um dos maiores programas de despedimento em 2015. A companhia prevê cortar 10.600 postos de trabalho, no âmbito da sua reestruturação.
17 de Abril de 2021 às 10:00
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Em menos de duas semanas, a Toshiba já passou pelo anúncio de uma oferta de aquisição - contestada por alguns investidores -, por uma mudança de CEO e ainda pelo aparecimento de rumores de outros possíveis interessados na empresa. Fundada em 1875, muito antes de gigantes como a Sony ou a Hitachi surgirem, a histórica empresa passou por vários períodos de transformação, com o conglomerado a operar atualmente em áreas ligadas à tecnologia, dispositivos médicos ou ainda ao setor energético.

Os acontecimentos sucederam-se de forma rápida ao longo dos últimos dias. Tudo começou a 7 de abril, quando os meios de comunicação asiáticos avançaram que a britânica CVC Capital Partners estava interessada em comprar a Toshiba, que implicaria uma saída de bolsa da empresa. Era oferecido um preço de 5 mil ienes por ação (cerca de 38 euros), o que poderia totalizar um montante perto dos 20 mil milhões de dólares (quase 16,7 mil milhões de euros).

A Toshiba confirmou que esta oferta existia, levando a uma subida de 18% dos títulos do conglomerado, negociados em Tóquio. Poucos dias depois de a oferta ter sido divulgada, o "board" da Toshiba vinha a público pedir cautela, já que esta proposta estaria ainda numa fase preliminar e não tinha um caráter vinculativo, estando dependente de uma avaliação detalhada. O "chairman" do "board" da empresa, Osamu Nagayama, explicava que "a transação proposta não seria financiada pela CVC sozinha; em vez disso, a proposta da CVC inclui a procura de assistência financeira junto de outros co-investidores e instituições financeiras". Na mesma nota, a Toshiba alertava para que "processos financeiros desta ordem necessitam de uma quantidade substancial de tempo e pedem complexidade na ponderação".

Ainda que a proposta pudesse estar numa fase inicial, houve logo quem tivesse torcido o nariz. O fundo Oasis Management, de acordo com a Bloomberg, considerou a oferta da CVC demasiado baixa, notando que deveria ser oferecido um valor de 6.200 ienes por ação (47,57 euros). Já outros investidores consideraram que a oferta desvalorizava uma empresa histórica, com importância crítica em alguns setores do Japão, a terceira maior economia do mundo.

Sai Kurumatani, regressa Tsunakawa
No meio desta tormenta, a Toshiba anunciava uma mudança de liderança. Descrito pela imprensa internacional como "controverso", Nobuaki Kurumatani assumiu o cargo de CEO da Toshiba em 2018, figurando ainda no currículo uma passagem pela operação japonesa da CVC Capital Partners - a mesma empresa britânica que expressou interesse em adquirir a Toshiba.

Na curta nota, divulgada a 14 de abril, a Toshiba anunciava que a administração aceitava a demissão de Kurumatani. O comunicado da companhia era parco em palavras para justificar a mudança, que teve efeitos imediatos. A nota indicava apenas que o lugar em aberto passaria a ser ocupado por Satoshi Tsunakawa que, até à chegada do CEO demissionário, desempenhava funções como presidente e CEO.

Após a divulgação do comunicado, a companhia afirmou em conferência de imprensa sobre a mudança de liderança, onde Kurumatani não esteve presente, que a saída não se devia à ligação à CVC, mas sim a "motivos pessoais". A companhia partilhou uma breve mensagem do antigo CEO, onde é indicado que, no início do ano, Kurumatani já teria discutido uma possível saída com a família.

De acordo com esta nota, após o regresso da Toshiba ao índice principal da Bolsa de Tóquio, em janeiro deste ano, após uma "despromoção em 2017", Kurumatani terá sentido que era hora de pôr um ponto final à missão que traçou para revitalizar a empresa. "Tenho uma sensação de conquista", cita o jornal asiático Nikkei, acrescentando que o executivo precisava de "fazer uma pausa do trabalho intenso para recarregar baterias".

O percurso de Kurumatani, de 63 anos, como CEO do conglomerado japonês fica marcado por uma perda gradual de apoio por parte de investidores e, em alguns casos, com posições públicas de oposição. Já no ano passado, na assembleia-geral anual, era sentido um possível vento de mudança, com Kurumatani a manter o cargo com apenas 57% dos votos dos acionistas. E, mesmo nessa ocasião, o acontecimento não ficou livre de polémica, nota o Financial Times. O fundo Effissimo Capital Management, que detém a maior participação da Toshiba (9,9%), pediu uma investigação independente a possíveis alegações de que alguns dos investidores da Toshiba teriam sido pressionados para votar a favor ou abster-se na votação que reconduziu Kurumatani.

Além disso, alguns dos maiores acionistas chegaram inclusive a questionar a estratégia do executivo para o conglomerado, que emprega cerca de 125 mil pessoas. O jornal Nikkei refere que, segundo um inquérito feito pelo comité de nomeações, mais de metade dos principais altos quadros da Toshiba denotavam falta de confiança na liderança de Kurumatani.

O novo CEO da Toshiba, Satoshi Tsunakawa, trabalha na empresa desde abril de 1979, tendo ocupado diversos cargos de liderança na estrutura, a partir de 2010. Em junho de 2016 assumiu o cargo de diretor, presidente e CEO da Toshiba. Em 2018, com a chegada de Kurumatani, passou a ocupar funções de presidente e COO. Desde 2020 desempenhava funções como diretor e "chairman".

"A Toshiba está no limiar de uma fase de crescimento e não há mudanças na nossa jornada para melhorar o valor corporativo", afirmou o novo CEO, em conferência de imprensa, que garantiu que irá "trabalhar arduamente para conquistar a confiança de todos os 'stakeholders'".

Quem são os outros interessados na Toshiba?
Aparentemente, a CVC não será a única organização interessada na mais do que centenária Toshiba. A empresa de capitais KKR & Co também estará a explorar uma oferta para comprar a companhia japonesa, de acordo com os meios japoneses. Fontes com acesso à empresa avançavam uma operação acima da marca dos 21 mil milhões de dólares, ultrapassando a proposta, em cima da mesa, feita pela CVC. Além da KKR, surgiram rumores de que a canadiana Brookfield Asset Management também estaria disposta a ir a jogo - a agência Bloomberg refere que esta organização estará a explorar a questão, ponderando ainda o montante a oferecer.

O jornal japonês Nikkan Kogyo chegou a avançar que o banco Norinchukin e a Japan Investment Corporation poderiam estar interessados na Toshiba - algo que foi, entretanto, negado pelo próprio banco.

Neste momento, os investidores estrangeiros detêm aproximadamente 70% das ações da Toshiba. Mas, dada a importância estratégica da Toshiba para alguns setores do Japão, nomeadamente na área da energia nuclear, qualquer tipo de operação necessitará de aprovação por parte do governo liderado por Yoshihide Suga.
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