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Nave espacial da Apple cada vez mais próxima de aterrar

O Campus 2 da Apple tem a forma de uma nave espacial. Ou será a de um donut? De um anel? Também pode ser uma versão gigante do botão do iPhone. Tudo se adequa. Com o valor da obra a rondar os cinco mil milhões de dólares, vai ser a sede empresarial mais cara do mundo. Toda envidraçada e com muitos alperces, tal como Steve Jobs sonhou.

11 de Junho de 2016 às 15:00
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A Apple está em Cupertino (Califórnia) desde 1977. Desde então, a tecnológica co-fundada por Steve Jobs foi crescendo, crescendo – como "erva daninha", chegou a dizer o falecido CEO – e viu-se na necessidade de construir uma nova sede, aquela que será o seu Campus 2.

 

Foi por isso mesmo que, a 7 de Junho de 2011, Jobs – na altura já de baixa por doença – fez uma das suas últimas aparições em público: para estar presente na assembleia municipal da câmara de Cupertino e mostrar o projecto da nova sede para aprovação. Nesta reunião, o carismático líder da empresa, sublinhou a necessidade de a Apple construir um segundo campus, devido ao seu forte crescimento, e apresentou a proposta daquilo que considerava ser uma "obra impressionante", conta o site Gizmodo.

 

O Campus 2 "é um pouco como uma nave espacial que aterrou. É toda circular. É toda curva", disse um apaixonado Jobs perante os responsáveis do município. Anunciou-o com a designação de "nave espacial", lembra a Forbes. O presidente da Câmara de Cupertino, Gilbert Wond, gostou e chamou-lhe "nave-mãe". E o projecto foi aprovado.

 

A gigantesca dimensão de um anel verdejante

 

Com quatro pisos, o edifício central deste Campus 2 terá uma área interior total de 260.000 metros quadrados, possuindo um perímetro superior a 2,5 quilómetros, conforme relata o website Engenharia Civil. E cada pedaço de vidro no exterior desses quatro pisos é curvo, tal como sonhou Jobs, o que exige painéis de vidro especiais, que foram feitos na Alemanha – são as maiores vidraças curvas alguma vez fabricadas.

 

As obras arrancaram em 2013 e decorrem velozmente. No início deste ano, pouco mais se via, ao longo do estaleiro montado numa área de 71 hectares, do que grandes montes de areia e guindastes. Mas as mais recentes imagens aéreas - captadas por um drone – que o documentarista Matthew Roberts tem vindo a actualizar mês a mês, desde Março, revelam já a geometria anelar deste novo complexo da tecnológica liderada por Tim Cook.


 


A dimensão desta nova sede é colossal e um dos aspectos mais aclamados tem sido o facto de ser 100% amiga do ambiente, funcionando a energia solar e biocombustíveis. O mesmo acontece com os edifícios adicionais no campus, incluindo as instalações de I&D (investigação & desenvolvimento), o enorme ginásio, o novo anfiteatro e até os parques de estacionamento, sublinha o site BGR.

 

A autonomia energética deste grande "donut", como lhe chama o The Telegraph, tem dado muito que falar. Para reduzir o impacto da emissão de gases de estufa, o Campus 2 vai utilizar sistemas passivos de arrefecimento e aquecimento – um sistema de ventilação natural para aquecer e arrefecer o campus durante quase 75% do ano – e as coberturas dos edifícios terão painéis solares. Aliás, diz a BGR, a colocação de painéis solares ocupará cerca de 75% dos parques de estacionamento – com capacidade para cerca de 11.000 carros. Outro detalhe interessante está no anfiteatro, cuja cobertura é feita de fibra de carbono. Além disso, uma instalação central gerará a electricidade da empresa no local.

 

Mas há muito mais. Observando o Campus 2, de fora ou de dentro, a natureza deve destacar-se. Tudo o que não for natural, ficará "protegido" de todos os olhares. É por isso que a zona de parqueamento, por exemplo, estará envolvida por arvoredo – para que nenhuma fila de carros estacionados estrague uma linha de visão que se quer perfeita.

 

O refeitório, a cafetaria e os locais para simples pausas e conversas, por seu lado, abrangerão uma área de 18 mil metros. Só na ala das refeições, com bancos amovíveis, poderão estar, de uma só vez, cerca de 2.100 pessoas, destaca o Gizmodo.

 

Serão aproximadamente 13.000 os funcionários da Apple que ocuparão este novo espaço – que está previsto entrar em funcionamento no início de 2017. À CBS News, Tim Cook disse que quando estiver pronto "será um centro de inovação para as próximas gerações".

 

E este novo complexo deverá custar cinco mil milhões de dólares – podendo vir assim a ser a sede empresarial mais cara do mundo, realça a 1843, a nova revista da britânica The Economist.

 

Muitas árvores, muitos alperces

 

A Apple comprou a maior parte do seu terreno à Hewlett Packard, tecnológica onde Jobs conseguiu o seu primeiro emprego de Verão [aos 12 anos, entrou em contacto com William Hewlett, co-fundador da HP, para pedir uma peça para um projecto de ciências. Além de conseguir um kit com várias peças, ainda conseguiu um emprego para os meses de férias escolares]. E tem-lhe dado um bom destino, já que a sede da empresa é também visitada por muitos curiosos que acabam por animar (ainda mais) a economia local.

 

Agora, com o Campus 2, tudo estará rodeado de áreas verdes, com a nova sede a ser emoldurada por perto de 7.000 árvores e plantas, que produzirão frutos e vegetais para serem servidos na cafetaria aos funcionários. Para manter verdejante todo este espaço, a empresa da maçã usará água reciclada.

 

Entre as muitas árvores que para ali serão transplantadas conta-se o carvalho, as oliveiras, as macieiras e as cerejeiras, salienta a Tech Insider. Mas especial relevo terá um fruto muito especial para Steve Jobs: os alperces. Diz a The Sequitur que Jobs fez questão de ter uma vasta área plantada com alperceiros, já que na sua memória de Silicon Valley – região que abrange várias cidades do Estado da Califórnia, como Cupertino, Palo Alto e Santa Clara, onde estão concentradas as maiores tecnológicas do país – abunda este fruto.

 

No livro "Steve Jobs", uma biografia autorizada escrita por Walter Isaacson, e que contou com a colaboração do co-fundador da Apple, este dizia ter contratado um especialista em arboricultura, de Stanford, para que a paisagem do novo campus fosse desenhada de forma natural, com milhares de árvores. "Pedi-lhe que incluísse um novo pomar de alperces. Costumava vê-los por todo o lado, em cada recanto, e eles fazem parte do legado deste vale", contou.

 

E como passou o sonho do papel para a realidade? No Verão de 2009, conta a Tech Insider, Steve Jobs telefonou a Norman Foster, o principal arquitecto do gabinete britânico Foster + Partner, e pediu-lhe ajuda.

 

Se bem o pensou, melhor o fez, porque este atelier de arquitectura acabou por traduzir fielmente tudo o que Jobs idealizou. Com muitas evoluções pelo caminho, mas sempre assente nos alicerces que sustentavam a sua visão.

 

A Foster + Partner foi responsável por obras como o estádio de Wembley e o British Museum, ambos em Londres, pelo American Art Museum e pela Hearst Tower em Nova Iorque, bem como pela renovação em 2007 da Smithsonian’s National Portrait Gallery.

 

O novo palco de apresentação dos produtos da "maçã"

 

Além dos espaços de trabalho para os seus funcionários, a "nave espacial" contará com um espaço muito especial: o auditório. Com capacidade para acolher mil pessoas e dando uma visão de 360 graus do campus, deverá passar a ser o palco de apresentação dos novos produtos da empresa.

 

Com efeito, segundo a Inverse, no passado dia 21 de Março - data do mais recente evento de apresentação de novos produtos da Apple - foi a última vez que os executivos da empresa mostraram as suas novidades no Infinite Loop (nome do actual campus, que concentra os seis edifícios principais do seu "quartel general"), também em Cupertino. Tim Cook disse, na ocasião, que o próximo evento especial da Apple terá lugar na sua nova sede circular.

 

Desde 2013 que tem havido três eventos da Apple por ano. E desde 2015 com a seguinte ordem: um Evento Especial em Março, na sede em Cupertino; a World Wide Developer’s Conference em Junho, no centro de convenções Moscone West em São Francisco; e outro Evento Especial em Setembro (que no ano passado teve lugar no Bill Graham Civic Auditorium, em São Francisco).

 

Acabam-se as trocas espontâneas de ideias entre empresas?

 

Meses antes de morrer, Steve Jobs, mentor do projecto para o Campus 2, previu que uma estrutura em forma de nave espacial se tornaria "o melhor edifício de escritórios do mundo", recorda a 1843 num artigo intitulado "Versailles no Vale" [em alusão a Silicon Valley].

 

Mas estará este projecto, a par com muitos outros das tecnológicas que pululam este centro de excelência que é Silicon Valley, votado a transformar também a paisagem das ideias? Há quem receie que sim.

 

Silicon Valley está a ter o seu "Momento Versailles", diz à 1843 Louise Mozingo, professora na Universidade californiana de Berkeley e autora do livro "Pastoral Capitalism" sobre sedes de empresas, numa alusão à cidade francesa, criada a partir do zero, por vontade do rei Louis XIV (o Rei Sol).

 

Mozingo recorda que, no ano passado, o Facebook inaugurou um novo edifício, numa área de 40.000 metros quadrados, em Menlo Park, concebido para personificar a cultura informal da empresa. Assemelhando-se a um armazém gigante, é tido como o maior edifício do mundo em espaço-aberto e foi concebido por Frank Gehry, arquitecto americano responsável, por exemplo, pelo vanguardista Museu Guggenheim em Bilbao.

 

Entretanto, a Google está a trabalhar numa ideia para uma nova sede que substitua o seu Googleplex, estando prevista a construção de edifícios em vidro amovível. Outras tecnológicas, como a Nvidia, Samsung e Uber, vão também gastar mais de mil milhões, agregadamente, em novos edifícios que transmitem o seu sucesso, recorda a professora à revista 1843.

 

"Estes projectos transformarão numa paisagem arquitectónica o que são agora escritórios de aspecto genérico. Mas também marcarão uma mudança cultural em Silicon Valley. É que apesar de esta onda de construções captar o optimismo e riqueza de uma série de empresas que imaginam e embalam o nosso futuro digital, Silicon Valley pode perder algo no longo prazo", adverte Louise Mozingo.

 

Mas perder o quê? "O ‘Vale’ prosperou com pessoas que se encontravam e trocavam ideias nos parques de estacionamento, restaurantes e cafés, e o talento tem circulado facilmente dentro das empresas – e entre elas. Com as empresas a construírem universos enclausurados, esse ‘mixing’ pode acabar. Pode chegar uma altura em que Cupertino e outras cidades de Silicon Valley não terão edifícios interessantes que as distingam", considera a autora de "Pastoral Capitalism".

 

Enquanto alguns receios nascem e outros se dissipam, as obras avançam a todo o vapor. E no final do mês já estará pronto um novo vídeo, com mais imagens, desta nave sonhada por Steve Jobs. 

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