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Bosch inaugura mega centro de inovação

O grupo alemão inaugurou um novo centro de investigação em Renningen. Um colosso com a dimensão de 100 campos de futebol onde trabalham 1.700 "mentes criativas" com uma missão: inventar o futuro.

DR
14 de Outubro de 2015 às 13:40
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Foi na pista do antigo aeródromo de Renningen, em Estugarda, que o sistema electrónico de estabilidade que previne o despiste de automóveis, conhecido pela sigla ESP, foi testado pela primeira vez. Hoje equipamento de série na maioria dos carros, é uma das dádivas que a Bosch se orgulha de ter dado ao mundo. A expectativa é que de Renningen saiam outros ESP, agora que alberga um dos maiores centros de investigação e desenvolvimento do mundo.

Os números falam por si. São 100 hectares, 110 mil metros quadrados de área construída, distribuídos por 14 edifícios, entre laboratórios, oficinas e zonas de serviços, onde trabalham 1.700 "mentes criativas", como lhes chama a Bosch. Custou tudo 310 milhões de euros.

O centro de investigação e engenharia avançada de Renningen reúne as actividades que estavam dispersas por três locais na zona de Estugarda, cidade-berço do grupo fundado em 1886 por Robert Bosch. E passa a ser o quartel-general de toda a inovação do grupo, ligando os centros de Palo Alto, Pittsburgh, Hildesheim, São Petersburgo, Bangalore, Shibuya, Xangai e Singapura.

Stanford como modelo

"É um lugar onde engenheiros e cientistas de todas as disciplinas podem trocar ideias. É, se quiserem, a Stanford da Bosch", descreveu Volkmar Denner (na foto), presidente executivo do Grupo Bosch, o primeiro a discursar na cerimónia de inauguração oficial, que teve lugar esta quarta-feira. O evento contou com a presença da chanceler alemã, Angela Merkel, além de cerca de 250 convidados do mundo da política, grandes clientes e jornalistas de todo o mundo.

"A Bosch define um novo patamar para a investigação com este centro", afirmou Merkel, acrescentado que Renningen serve de

É um lugar onde engenheiros e cientistas de todas as disciplinas podem trocar ideias. É, se quiserem, a Stanford da Bosch.
Volkmar Denner
CEO do grupo Bosch

exemplo para toda a Alemanha. "A investigação e desenvolvimento (I&D) é a fonte da nossa prosperidade", afirmou, reiterando o compromisso de o país atingir 3% do PIB em I&D, em linha com a meta da União Europeia.

Renningen inspira-se no modelo universitário anglo-saxónico, promovendo a interacção entre diferentes disciplinas científicas, desde engenharia eléctrica e mecânica, até computação, química, física, biologia e tecnologia de microssistemas. "Uma rede para milhões de ideias" é o lema do centro.

Ter Stanford como referência é já de si um patamar ambicioso. Basta lembrar que foi na universidade californiana que estudaram os fundadores do Google, HP, Yahoo!, Instagram ou Snapchat. A universidade americana é também a inspiração para a "cultura start-up" que Volkmar Denner quer em Renningen.

O campus está organizado de forma a tirar o máximo partido do potencial inovador de quem nele trabalha. Tanto há áreas isoladas e espaços verdes para os investigadores explorarem novas ideias, como 270 salas de reuniões e salas de trabalho que promovem a interacção e o trabalho em equipa.

O campus irá focar-se em áreas como engenharia informática, tecnologia de sensores, automação, sistemas de condução assistida, tecnologia para baterias e tratamento de dados ("data-mining"). Volkmar Denner vê no ESP uma inspiração para o futuro. "Um futuro de uma condução cada vez mais automatizada e, logo, livre de acidentes". Mas não é só no automóvel que a Bosch quer Renningen a marcar pontos. "Na Bosch consideramos a Internet das Coisas como um desenvolvimento marcante, comparável ao advento da electrónica nos carros há 50 anos."

Para o presidente executivo da Bosch, a comunicação entre carros, máquinas, aparelhos domésticos e sistemas de energia vai "afectar o coração industrial da economia alemã". Para o país não ficar para trás, tem de ser mais rápido e menos avesso ao risco. O que exige uma nova atitude a quem faz I&D. "Os nossos engenheiros têm de pensar como empresários", apelou.

Um "silicon valley" na Europa?

Aproveitando a presença de Angela Merkel no evento de inauguração, Volkmar Denner deixou um recado político. "Quero ver o ensino superior na Alemanha impregnado de um maior sentido de empreendedorismo". E diz, sem reservas, que a Europa está muito longe de vir a ser um "silicon valley". "Não existem nem as oportunidades, nem a vontade para criar start-ups".

Se 40 em cada 100 americanos admite criar a sua própria empresa, na Alemanha só 25% o querem fazer. O medo de falhar é

Este país precisa de um espírito mais start-up. "Se 'silicon valley' é o modelo que queremos para a Europa, temos de aprender a correr riscos".
Volkmar Denner
CEO do grupo Bosch

apontado por oito em cada dez alemães e só por três em cada dez americanos. "Este país precisa de um espírito mais start-up". "Se 'silicon valley' é o modelo que queremos para a Europa, temos de aprender a correr riscos".

Angela Merkel reconheceu que falta à Alemanha espírito empreendedor. E alertou que há outros países que não estão à espera que a Alemanha acorde, na Europa mas sobretudo na Ásia, dando o exemplo da Índia. Cabe ao Estado criar condições para fomentar a I&D, mas a maior parte do contributo tem de vir das empresas, que têm de ser responsáveis por dois terços do investimento para chegar aos 3% do PIB, sublinhou a chanceler.

A Bosch investiu em I&D cerca de 5.000 milhões de euros em 2014, aproximadamente 10% das vendas e emprega 45.700 investigadores e engenheiros de várias áreas em 25 países. No ano passado registou perto de 4.600 patentes, uma média de 18 por dia útil.

Portugal também inova para o Grupo

O desenvolvimento de novos produtos passa também por Portugal. A Bosch Car Multimedia de Braga, que colabora no desenvolvimento de displays multimédia de informação e entretenimento no automóvel, tem uma parceria com a Universidade do Minho, na qual já foram investidos 19 milhões de euros, dando origem a 12 patentes

A empresa fez uma nova candidatura aos fundos europeus, de 50 milhões, com o objectivo de manter e reforçar a parceria, que permitirá contratar 90 engenheiros e 165 bolseiros.

A Bosch Thermotecnologia, em Aveiro, alberga o centro de competências em água quente, ou seja, esquentadores, caldeiras e bombas de calor. Em Março foi anunciado um investimento de 25 milhões de euros, a cumprir em cinco anos, na construção de um novo edifício dedicado à investigação e na contratação de 150 engenheiros.


* jornalista em Estugarda a convite da Bosch

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