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Theranos. De “start-up” aclamada a alvo da fúria dos investidores

O Partner Fund Management, um dos principais investidores da Theranos, uma start-up norte-americana que ficou conhecida por desenvolver testes ao sangue que estavam a mudar este sector, chegou a acordo com a empresa no âmbito de um processo.

Bloomberg
02 de Maio de 2017 às 15:00
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A start-up norte-americana Theranos chegou a acordo com o Partner Fund Management, que em 2014 investiu 96,1 milhões de dólares (88,1 milhões de euros ao câmbio actual), no âmbito de um processo instaurado pelo fundo. Como escreve o TechCrunch, o investimento do PFM ajudou a start-up a conseguir uma avaliação de 9 mil milhões de dólares.

Em 2016, o hedge fund instaurou um processo contra a Theranos de Elizabeth Holmes (na foto), alegando que a start-up enganou o fundo "através de uma série de mentiras, distorções materiais e omissões" com o objectivo de os levar a investir. Posteriormente, o fundo colocou outro processo à empresa por "fraude com títulos e outras violações ao induzir de forma fraudulenta a PFM a investir e a manter os seus investimentos na empresa", como avança o site.


Os termos do acordo que foi alcançado nas últimas horas não foram revelados. O que o comunicado da Theranos refere, citado pela publicação, é que o hedge fund vai retirar todas as alegações contra a Theranos e os seus directores e escritórios. Este não é o único processo que a start-up enfrenta. Mas para perceber o que é que está acontecer é preciso conhecer a história da empresa.


Theranos: da aclamação à queda a pique


Em 2003, com apenas 19 anos de idade, Elizabeth Holmes deixou a Universidade de Stanford para fundar a Theranos. Uma start-up que queria mudar a forma como as análises ao sangue são feitas, substituindo as tradicionais colheitas de sangue por uma picada para obter uma gota de sangue. Com essa pequena amostra centenas de testes podiam ser realizados e os resultados eram conhecidos rapidamente.

Com o passar dos anos, esta tecnologia era aplaudida e os investidores iam apostando na empresa. A imprensa olhava com bons olhos para a empreendedora Elizabeth Holmes. De certa forma, e como lembra a Vanity Fair, a história de Holmes era naturalmente boa. É uma mulher num mundo dominando, pelo menos ainda, por homens em Silicon Valley. E estava a construir uma empresa que tinha como objectivo, de facto, mudar o mundo das análises clínicas.

Até 1 de Dezembro do ano passado, a Theranos levantou, pelo menos, 686 milhões de dólares (o valor da última ronda no final de 2016 não é conhecido de acordo com o CrunchBase). Apesar de nessa altura as coisas já não estarem a correr muito bem para a empresa.

John Carreyrou é jornalista do Wall Street Journal. Em Outubro de 2015 escreveu um artigo que tinha com título "Hot Startup Theranos Has Struggled With Its Blood-Test Technology".  Segundo a Vanity Fair, Carreyrou foi um dos poucos jornalistas que não ficou impressionado com a retórica de Holmes sobre a Theranos. E menos terá ficado depois de ter lido um artigo no The New Yorker.

O jornalista desta última publicação questionou a líder da empresa sobre a tecnologia da start-up. E a resposta, de acordo com a VF, foi pouco clara: "é efectuada química para que ocorra uma reacção química e gere um sinal de interacção química com a amostra, que é traduzido num resultado, que depois é revisto por pessoal de laboratório certificado".

A partir daqui a investigação do jornalista do Wall Street Journal começou. Em Outubro, o WSJ publica o artigo, citando entrevistas realizadas a antigos funcionários da empresa, em que avança que apenas uma parcela das amostras de sangue que chegam à Theranos são analisas com recurso à tecnologia proprietária da empresa, chamada "Edison". As restantes amostras são analisadas com recursos às máquinas tradicionais. Além disso, o artigo veiculava que as pequenas amostras usadas pela Theranos nem sempre produzem resultados exactos, de acordo com a Fortune.

A empresa emitiu um comunicado alegando que a notícia não estava correcta. Elizabeth Holme passou dois dias a debater com a sua equipa mais próxima, a estratégica que devia ser seguida. Ao fim desses dias, marcou presença num evento na Universidade de Harvard e depois deu uma entrevista à CNBC. Questionada sobre o tema, Elizabeth Holmes respondeu: "Isto é o que acontece quando trabalhas para mudar as coisas". "Primeiro pensam que és maluca, depois lutam contra ti e depois, de repente, mudaste o mundo".

De facto, a partir daí as coisas mudaram. De aclamada, a empresa passou a ser notícia nomeadamente pelas investigações de que era alvo. Ainda em Abril do ano passado, a Securities and Exchange Commission (SEC) comunicou que estava a investigar a fiabilidade da tecnologia de análises ao sangue. A SEC estava assim a investigarum possível crime de fraude.

E no início do mês passado, foi noticiado que a fundadora devia à empresa que fundou 25 milhões de dólares. Este valor constava em alguns documentos que a empresa entregou aos investidores com o intuito de dissuadi-los de processarem a empresa. Para não entrarem com um processo, a fundadora dava aos investidores parte das suas próprias acções. Alguns dias depois, investidores vieram a público dizer que estavam a ser pressionados pela empresa para não instaurarem processos. A Theranos terá mesmo anunciado que teria de dar início a um processo de protecção contra credores.

Em meados de Abril, a empresa chegou a acordo com o regulador para a área da saúde nos EUA. A empresa comprometeu-se a manter-se, durante dois anos, fora do negócio das análises clínicas. Em troca, as autoridades reduzem as penalizações aplicadas à empresa, tendo esta de pagar apenas 30 mil dólares.

A 21 de Abril, o WSJ noticiou que a Theranos enganou alguns dos directores da empresa sobre as práticas de testes laboratoriais e usou uma empresa de fachada para comprar equipamentos comerciais para laboratório. Além disso, criou projecções financeiras optimistas para mostrar aos investidores. A notícia do jornal norte-americano cita documentos presentes em processos instaurados por investidores.


Entretanto, esta terça-feira, a empresa é notícia por ter chegado a acordo com um dos seus investidores.

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