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De porta em porta até ao último euro necessário

Ficar parado não é alternativa. Se não há dinheiro recorre-se a amigos, à família, a amigos de amigos. O "crowdfunding" tem sido o balão de oxigénio para alimentar muitos projectos que não sairiam do papel tão cedo

25 de Março de 2014 às 14:18
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Andy McLoughling | Fundador da Huddle sublinha importância de ver o primeiro investidor a dar o primeiro passo.

 

 

Quando os bancos não abrem as portas e os "business angels" ou as capitais de risco não arriscam, o melhor é recorrer aos "nossos". O financiamento colaborativo - ou "crowdfunding" - tem sido a alternativa para muitas das iniciativas que, de outra forma, teriam muita dificuldade em sair do papel. Primeiro investem os amigos e a família, depois quem acredita, com "sorte" e muito trabalho chega-se aos 100% e, quem sabe, até se supera o objectivo.


Os empreendedores portugueses estão a dar os primeiros passos no recurso ao "crowdfunding" para viabilizarem as suas ideias. Pequenos projectos, valores ainda modestos quando comparados com outros mercados, mas já muitas start-ups, ou simplesmente empreendedores, estão a entrar no mundo dos negócios graças a este tipo de financiamento. Se em Portugal um projecto em "crowdfunding" não vai além dos 5.000 euros de financiamento, nos EUA já há inúmeros casos de milhões de dólares garantidos através de plataformas como o Kickstarter. Será uma questão de tempo até Portugal ser contagiado?


Andy McLoughlin, co-fundador da Huddle, uma plataforma tecnológica que ajuda as empresas a gerir os seus negócios, defende que o "crowdfunding" pode ser o caminho para pequenos projectos. O britânico, que hoje também é investidor, defende que "nem todos os negócios encaixam nas capitais de risco, uma vez que muitas procuram negócios que cresçam rapidamente e que facturem milhares de milhões de euros".


Para já, nas plataformas nacionais de "crowdfunding" como o PPL e o Massivemov, os principais projectos financiados estão ligados às artes ou à cultura. A publicação de um livro ou o lançamento de um álbum têm captado o interesse e os euros dos portugueses. Também projectos de carácter social estão na lista das iniciativas mais apoiadas. Mas algumas start-ups já estão a olhar para o "crowdfunding" de outra forma, para internacionalizar o negócio ou para lançar um produto.


E parece que a moda do "crowdfunding" veio para ficar, pois são cada vez mais as plataformas deste tipo dedicadas às mais diversas áreas. A Zarpante surgiu para apoiar projectos culturais lusófonos e já conta com os primeiros euros angariados fora do País. A plataforma "Nós Queremos!" foi desenvolvida para possibilitar o financiamento colectivo necessário para a realização dos mais diversos tipos de eventos, focando-se neste momento na área dos eventos musicais.


A demonstrar que o "crowdfunding" se está a afirmar como uma alternativa ao financiamento tradicional é o facto de algumas instituições financeiras também estarem a participar nesta forma de apoio . O BES Crowdfunding, lançado há um ano, já financiou 27 projectos, num total de 74.600 euros angariados através de 2.700 doações.


Este tipo de financiamento é também uma primeira porta aberta para a internacionalização dos projectos. "Plataformas como o Kickstarter e o Indigogo têm-se mostrado muito interessantes para angariar dinheiro mesmo a partir dos EUA", refere o mesmo Andy McLoughling. No entanto, é normal que, pelo caminho, os empreendedores encontrem algumas dificuldades. O co-fundador do Huddle considera que "o principal obstáculo é que as pessoas, antes de investirem, querem ver um primeiro investidor a dar o primeiro passo. E normalmente é um efeito dominó. O maior desafio é convencer o primeiro investidor a dar o primeiro passo".


Se já são muitos os projectos que são apoiados através de "crowdfunding", em Portugal, ainda são muitos mais os que não chegam ao fim do caminho. Uns por dificuldade de conceber uma boa ideia, outros pela dificuldade de a apresentar ao mundo. O processo de convencimento dos potenciais investidores, principalmente dos primeiros, é duro e nem sempre tem um final feliz .


Sheel Tyle, da NEA- New Enterprise Associates, que investe em start-ups, deixa o conselho: "Nós somos todos iguais, não sabemos muito bem o que vai acontecer, mas arriscamos. Se falharem, falhem rápido, sejam ágeis e voltem a tentar. Cada um destes tipos [em que investimos] está na segunda empresa".


O co-fundador da tecnológica Huddle esteve em Portugal não só para dar o seu testemunho sobre start-up de sucesso, mas para analisar novos investimentos. Andy admitiu ao Negócios que está interessado em analisar uma start-up portuguesa. Mas, ao contactar jovens empreendedores, McLoughlin diagnosticou que os portugueses enfrentam um grande desafio: "eles têm que acreditar que conseguem fazer todo o caminho".

 

 

 

 

Quem ajuda primeiro?

 

O "crowdfunding" está a dar os primeiros passos em Portugal. Os principais projectos ainda são ligados às artes e cultura, mas começam a nascer projectos empresariais.

 

 

Moda
Ajudar a criar tendências

A Dressify é uma plataforma online que permite definir e criar tendências no mundo da moda e ainda comprar peças exclusivas de vestuário feminino. O projecto liderado por Inês Parreira Sousa foi financiado na sua totalidade no PPL, uma das plataformas portuguesas de "crowdfunding". O objectivo era angariar mil euros e a iniciativa acabou por receber um total de 1.568 euros, de 370 apoiantes.


A Dressify propõe-se a oferecer um serviço que dá a possibilidade de aceder a colecções limitadas e ofertas que não se encontram no mercado, ficando responsável pela gestão e manutenção da plataforma, assim como de toda a produção e distribuição das peças. Os criadores têm simplesmente que enviar as suas criações, enquanto os compradores terão acesso a ofertas exclusivas. Como é explicado no PPL, o criador envia a sua peça, que será votada pela comunidade. As mais populares passam para a próxima fase. Serão depois expostas no site, tendo a oportunidade de serem produzidas.

 


Turismo
Criar viagens mistério


Também a Mistrip foi financiada no PPL, recebendo o dobro do que pediu. A Mistrip é uma promotora de viagens que planeia e organiza viagens mistério. O objectivo era angariar mil euros, mas no final do prazo, a agência tinha já ultrapassado os dois mil euros. O público alvo são os grupos e o modelo é simples: O cliente preenche um questionário online onde descreve os seus interesses, tipo de destino ou o valor monetário disponível para gastar na viagem. De seguida, o cliente é contactado por um elemento da Mistrip para completar o perfil da viagem, de forma a adequá-la totalmente às necessidades e expectativas dos clientes, como é explicado na plataforma PPL. O cliente pode seleccionar três níveis de mistério diferentes. O projecto foi financiado no ano passado e contou com 269 apoiantes. As recompensas deste investimento iam desde um porta-moedas, com diploma, ou um agradecimento especial na Facebook FanPage da Mistrip, até um jantar convívio.

 


Agro-alimentar
Plantar para depois colher


A Rita e o Miguel Ramos propuseram-se a criar kits de ervas aromáticas. Utilizando a plataforma Massivemov, os dois empreendedores pediam 4.900 euros, mas o resultado no final foi 5.182 euros, graças aos contributos de 130 apoiantes.


Numa fase inicial, o objectivo era produzir a primeira edição do kit da responsabilidade da Stufa: manjericão, salsa e coentros. No caso de ultrapassar o valor inicial, como acabou por acontecer, a missão era investir na produção do segundo kit: malaguetas e cebolinho; e iniciar o desenvolvimento de outros kits e objectos complementares. A maioria dos apoiantes investiu 17 euros no projecto da Stufa e pôde receber um dos primeiros kits - manjericão, salsa e coentros - em sua casa (dois meses após a aprovação do projecto, com os portes de envio para a Europa incluídos). Foi através desta iniciativa que a Stufa viu o seu projecto "apadrinhado" pelo El Corte Inglés e pôde dar o primeiro passo na comercialização dos seus produtos.

 


Exportação
Espalhar brigadeiros pelo mundo


O Ponto Condensado - Atelier do Brigadeiro foi outro dos projectos bem sucedidos da plataforma Massivemov. O objectivo desta iniciativa liderada pela Carmo e pela Leonor era levar os brigadeiros do Ponto Condensado além fronteiras.


A equipa, na sua "campanha" de angariação de fundos, explicava que pretendia adquirir equipamento que lhes permitisse ultra-congelar os brigadeiros de forma a aumentar a sua validade e a facilitar a sua distribuição nacional e, talvez, internacional. Para isso pediam 5.000 euros.


No final do projecto tinham garantido 5.515 euros. Na plataforma do Massivemov, as promotoras explicaram que após conseguirem o financiamento iriam então adquirir os equipamentos indispensáveis para fazer o ultra-congelamento dos brigadeiros. Desta forma, passaram a ter capacidade para responder às necessidades dos parceiros e ficaram com condições para angariar mais parceiros e distribuidores do seu produto.

 

  

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