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Novos conceitos dão vida a zonas antigas

As zonas históricas das principais cidades do país estão a ganhar vida. São o destino preferido de novos conceitos de negócio e de modelos antigos que renascem com nova alma, ajudando a dinamizar e a mudar o aspecto dos bairros onde se inserem. Conheça alguns exemplos.

14 de Julho de 2011 às 15:52
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E se na próxima vez que saísse para um petisco fosse parar a um bar de conservas? Não é difícil. Siga até ao Cais do Sodré e paredes-meias com os característicos bares daquela zona da capital, nem sempre bem afamados, lá está o Sol e Pesca.

Se a maior parte dos negócios nascem de uma ideia e partem para a procura de um espaço, este nasce do espaço, que acabou por fazer surgir a ideia. Fechada há mais de 20 anos, a loja de pesca do "Marreco" encantou Henrique Vaz Pato, arquitecto, quando foi chamado pelo proprietário do prédio a dar uma opinião sobre o destino do complexo.

Para recuperar o espaço, o empresário equacionou negócios que encaixassem na herança do "Marreco", alcunha do dono da loja Sol e Pesca, e a opção acabou por recair num bar e loja de conservas.

Entre Julho de 2010 - data de abertura - e hoje saiu do espaço algum entulho e muito pó e entram cada vez mais clientes. Se de início Bárbara Matos tinha de esperar que os clientes do Bairro Alto descessem a rua para beber um copo no Sol e Pesca e comer um petisco saído de uma lata de conserva, hoje o espaço chega a receber reservas para o jantar. Foi também restaurante convidado para a edição 2011 do festival gastronómico Peixe em Lisboa, ao lado de nomes como Aroula, Fortaleza do Guincho ou Eleven, explica a gestora do espaço.

O conceito deu nas vistas e não foi certamente pela complexidade ou pelo destaque visual que assegurou no bairro. A presença do Sol e Pesca no Cais do Sodré é simples e discreta. Não destoa da envolvente, mas tendo pouco a ver com o que por ali existia até há pouco tempo chama novos públicos e dinamiza o bairro.

"Creio que ajudámos a criar uma dinâmica na zona, mostrando que é possível fazer coexistir várias realidades num mesmo espaço, sem arrasar tudo o que é antigo para renovar", defende Bárbara Matos.

Renovar sem descaracterizar

A mesma visão partilham outros empresários, por trás de muitos negócios a nascer nas zonas históricas das principais cidades do país. Mesmo que nem sempre seja fácil - ou economicamente viável - encontrar um espaço para comprar e ainda que as limitações legais à realização de obras sejam em regra superiores às de outras zonas das cidades, tal como os custos. Mesmo assim, as zonas antigas não deixam de ser grandes montras à espera de pontos de interesse para quem gosta de as visitar.

Foi isso mesmo que levou Elena Valsecchi e Paulo Verdial a abrir o Shiado, um hostel no coração do Chiado. Quando abriram portas em 2009 o conceito era recente e menos explorado que hoje, mas passados dois anos a pertinência mantém-se: assegurar uma oferta de hotelaria a preços baixos no coração da cidade. O elevado preço da renda - o espaço é alugado - e as muitas limitações de horários de acesso para os fornecedores são aspectos menos positivos da localização, admitem, compensados pela proximidade dos pontos turísticos que dão movimento ao Shiado.

Tal como Bárbara Matos, também a dupla do Shiado acredita ter um papel importante na dinamização da sua zona envolvente, dando um contributo importante para o rejuvenescimento da zona e colhendo de volta os louros dessa transformação.

"O público dos hostel procura activamente a cultura. Nós tentamos corresponder, publicando informação no hostel e no contacto mais pessoal com os hóspedes", explica Elena Valsecchi.

"Quando os hóspedes querem fazer alguma coisa é a nós que perguntam informação primeiro. Tendencialmente recomendamos o que é próximo e o que conhecemos. Acabamos por ser um veículo para levar as pessoas a sítios e eventos que os cartazes culturais não mostram", continua Elena.

O negócio de André Alves e Miguel Fernandes é outro, mas a intenção de estar perto dos potenciais clientes é idêntica à de Elena e Paulo e foi isso que os levou à Rua do Almada no Porto. O edifício do século XIX onde fica o escritório de arquitectura e design de interiores que ambos partilham precisou de várias obras. As modificações foram mais estéticas que estruturais e serviram para criar um cartão-de-visita da empresa.

A reabilitação urbana é uma das áreas de actividade que tem ocupado os dois sócios e na envolvente, oportunidades de negócio não faltam. Estar na zona histórica persegue assim dois objectivos: estar perto da câmara municipal, local onde precisam de deslocar-se com frequência para tratar de licenciamento de projectos, e ter uma montra para uma zona cheia de potenciais clientes.

O cuidado no uso de materiais acessíveis em termos de preços foi por isso uma prioridade. "Escolhemos materiais menos caros e fizemos opções que procuram mostrar à população que não é preciso investir muito para melhorar o que têm", diz André Alves.

Para fora o atelier quer comunicar os serviços que fazem o negócio, mas quer também comunicar arte, dando um contributo para a animação da rua e chamando a atenção de quem por lá passa.

"Queríamos fazer a ponte para o público. Aproveitando que temos um espaço com montra da rua aproveitámo-lo para mostras de arte", explica André Alves. As exposições e mostras artísticas são de trabalhos criados pelos próprios ou de artistas convidados e procuram a atenção de quem passa pela montra que já serviu para mostrar as promoções da semana do talho que antes da Branco Simples ocupou o espaço.

"A restauração, comércio e bares têm tido algum desenvolvimento e trazido muita gente a esta zona da cidade", admite André Alves, que do lado da Branco Simples procura explorar sinergias com a vizinhança e maximizar o potencial da presença numa zona da invicta que tem também beneficiado muito da entrada de mais turistas na cidade, com a chegada dos voos low cost nos últimos anos, acredita o arquitecto.

Menos virado para o exterior, em termos de presença física, mas também nascido de uma preocupação em animar a cidade e ajudar a dar-lhe nova vida, está o Café Vitoria, na zona dos Clérigos. Tal como a Branco Simples acomoda-se num prédio do século XIX, com o porte típico que caracteriza as construções da cidade do Porto e como diz Teresa Braga é um espaço para ir descobrindo. Discreto por fora e versátil por dentro é principalmente um café, mas é também um bar e um restaurante, que começou a ser projectado há cerca de cinco anos, ainda aquela zona da cidade estava completamente esquecida.

"Queríamos muito fazer alguma coisa pela cidade que estava uma desgraça", admite uma das responsáveis pelo projecto. Com esse objectivo, o grupo de investidores que lançou o Café Vitória, decidiu apostar num espaço que servisse refeições a qualquer hora do dia, de forma mais ou menos informal.

Hoje, já com uma vizinhança farta sobretudo no que se refere a espaços nocturnos o Café Vitória é uma proposta que complementa as restantes com muita vontade de não perder de vista o conceito de café.

A zona histórica deu ao projecto o local ideal para explorar um conceito moderno de um café com um nome tradicional, o Café Vitória dá à zona histórica mais uma alternativa para quem quer almoçar, passear à tarde ou ao Domingo quando as opções são quase inexistentes. Balanço dos primeiros sete meses de vida: "bastante positivo", garante Teresa Braga.

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