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Manual de instruções para as férias

Costuma sentir que a preparação e gozo das férias, do ponto de vista da organização do seu trabalho, mais do que uma oportunidade de descanso e tranquilidade, representa uma fonte de "stress" e problemas adicionais, como a necessidade de antecipar...

06 de Agosto de 2009 às 14:57
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Um bom planeamento das férias dos colaboradores e a antecipação de situações que vão necessitar de solução, ajudam a evitar quebras na resposta das empresas aos clientes e fornecedores.

Costuma sentir que a preparação e gozo das férias, do ponto de vista da organização do seu trabalho, mais do que uma oportunidade de descanso e tranquilidade, representa uma fonte de "stress" e problemas adicionais, como a necessidade de antecipar problemas, suprir faltas e ser a todo o momento chamado para resolver situações inesperadas? Se é assim, talvez esteja na altura de repensar as políticas de férias na empresa.

O direito às férias representa uma importante conquista civilizacional. Para manter o equilíbrio entre as vidas familiar e pessoal, realizar-se pessoalmente através de novas experiências ou actividades e assegurar algum distanciamento do trabalho que permita, não só, que o mesmo não extravase do espaço que deve ocupar, como também repensar à distância metas e processos - o que tem um papel insubstituível na motivação continuada - todos necessitamos de períodos de afastamento, ou, recorrendo a uma metáfora agrícola, de "pousio" para manter a produtividade.

Os trabalhadores têm direito a um mínimo de 22 dias de férias por ano, a marcar por acordo com a empresa ou, se não se chegar a acordo, unilateralmente pela empresa, situação na qual as férias terão de ser gozadas entre 1 de Maio e 31 de Outubro. Os problemas causados pelas férias advêm, desde logo, desta concentração de trabalhadores ausentes no mesmo período, o que torna muito difícil organizar e assegurar o normal funcionamento da empresa. O correcto planeamento dos períodos de descanso anuais deve ser efectuado no início do ano, mesmo que tal procedimento leve a antecipar decisões pessoais, escolha de potenciais destinos e outras escolhas antecipadas do foro pessoal e familiar.

A correcta definição de um calendário comum de férias permite uma fácil leitura da viabilidade do funcionamento da empresa em paridade com os períodos de férias individuais. Mais do que isso, permite ainda a criação de um espaço mental e motivacional em cada colaborador para gerir normais picos de trabalho e fadiga, sem os atribuir ao facto de não ter férias ou de as necessitar de marcar de forma impulsiva, levando muitas vezes ansiedade para o seu descanso pelo facto de não ter tido as tarefas planeadas no momento de as deixar para trás.

Mas não pode haver aqui milagres: o período de férias é, em regra, o do Verão, pelo que sempre terá de se contar com uma ausência de colaboradores neste período. Convirá, por isso, que existam procedimentos internos bem claros sobre a sua preparação, incluindo a elaboração de listas de assuntos e tarefas a deixar por cada colaborador que se ausente, de modo a que os colegas possam dar andamento aos mesmos sem necessidade de interromper as férias em curso.

A interrupção constante das férias é algo que impede que estas desempenhem a sua função, pelo que é do interesse da empresa que estas situações sejam evitadas, admitindo-se apenas como último recurso, e não como primeira resposta, como muitas vezes acontece. Também os parceiros da empresa - clientes, fornecedores ou outros - devem ser advertidos das férias do colaborador com quem se relacionam, o que permitirá muitas vezes que estes possam colaborar na identificação de situações que precisem de resposta, para além de passar uma imagem de eficiência e profissionalismo.

Haverá também imprevistos que os colegas, por maior que tenha sido o planeamento e seja a vontade de respeitar as férias de quem se ausenta, não conseguirão resolver sozinhos. Terão, assim, de possuir os contactos dos colegas ausentes, que estes devem facultar antes de partirem. Quem o fizer, porém, deverá preparar previamente o contacto, lembrando-se que o colega está afastado do trabalho e do assunto, provavelmente rodeado de solicitações e porventura sem condições de consultar documentos ou outros elementos, pelo que não deve pretender-se uma resposta dentro do nível de "prontidão" que o colega manifesta quando está ao serviço.

Mas nem tudo é mau para a empresa no período de férias - o abrandamento da actividade pode permitir que se realizem tarefas para as quais não há disponibilidade no resto do ano. Além disso, se é verdade que a maioria das empresas continua a diminuir drasticamente a sua actividade no período de férias, esta tendência tem vindo a dirimir-se progressivamente, com especial incidência no sector de serviços e nos centros urbanos. A globalização do mercado e a actividade multinacional de empresas locais e internacionais acarreta a um trabalho com zonas do globo distintas e com períodos de férias a ocorrerem noutras épocas que não no mês de Agosto. Este factor tem trazido um ritmo de trabalho mais constante a uma franja já considerável de organizações, bem como aos seus fornecedores de matérias-primas e serviços.

Nos casos em que tal não acontece, poucas coisas são mais desmotivantes do que fazer sentir aos colaboradores "sacrificados" a trabalhar no Verão de que estão apenas a cumprir calendário, sendo afinal desnecessário o "sacrifício". Afinal, trata-se de um período em que a empresa está a funcionar, ainda que desfalcada, pelo que haverá que optimizar quer o descanso dos ausentes, quer o trabalho dos presentes.

O período denominado de "silly season" é também, pela sua informalidade e descontracção típica, uma época óptima para repensar estratégias e formas de abordar os desafios que se adivinham. Nada melhor que desejarmos um bom descanso, boas ideias e boas férias.


*Associado da Teixeira de Freitas, Rodrigues e Associados,
rodrigo@teixeiradefreitas.pt

**Regional Director Hays
duarte.ramos@hays.pt

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