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Logística - Uma arma para a competitividade

Melhorar a estratégia e aumentar a competitividade das PME nacionais pode ter várias receitas. Uma delas chama-se logística e tem um papel fulcral na redução de custos. Para que dê frutos, é preciso tirá-la do armazém e entendê-la como uma área transversal ao negócio da empresa.

22 de Junho de 2011 às 10:42
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Ter de gerir 5.000 clientes espalhados pelo país e uma frota de 28 automóveis era uma verdadeira dor de cabeça para a Serragel, uma empresa sedeada na Covilhã que produz e distribui produtos alimentares. Saber se as encomendas tinham sido entregues a horas ou se não se estava a gastar combustível a mais era uma coisa impossível de controlar e que acarretava custos avultados para a empresa. Decidida a manter uma frota própria, a solução foi recorrer à tecnologia, neste caso, à localização GPS de veículos e gestão de frotas. Resolveram-se muitos problemas, nomeadamente o problema de gastos a mais, já que a empresa conseguiu poupanças na ordem dos 35%.

Este é apenas um exemplo de como as empresas podem poupar com os processos logísticos. E podem ganhar, mesmo num contexto de crise que parece desfavorável a mais investimentos. É que, se por um lado muitas PME estão com a 'corda ao pescoço' sem capacidade para liquidar as suas contas e fazer face a despesas mais prementes, por outro lado é preciso (re)agir. Para isso, é preciso investir. Ou seja, gastar primeiro para lucrar depois, numa visão que passa por entender a logística como "um investimento com retorno alto", salienta José Crespo de Carvalho, professor catedrático do ISCTE.

A verdade é que a crise obriga as empresas a pensar em investir para conseguirem sobreviver. "A crise económica que se instalou desde o final da última década obrigou as empresas a reagir no sentido de optimizar as suas operações, as suas cadeias logísticas e de reduzir os custos para manter os níveis de margens", refere Daniel Silva, partner da consultora Logistema.

A grande distribuição foi dos primeiros sectores no nosso país a ter esta capacidade de reacção apresentando actualmente uma logística mais desenvolvida. Luís Delgado, gerente da consultora Log-PME, acrescenta também o sector da venda à distância. "Ambos os sectores, no passado, apostaram na logística como alavanca de desenvolvimento dos seus negócios reduzindo custos globais de distribuição e melhorando fluxos de tesouraria pela melhor gestão de stocks e aumentando, significativamente, o nível de serviço que prestam aos seus clientes".

No extremo oposto encontra-se o sector da saúde. Não é difícil perceber as vantagens que as unidades de saúde teriam caso apostassem na logística. Luís Delgado enumera alguns problemas que surgem ao nível do desperdício de produtos que ficam obsoletos, fora da validade ou danificados, por excesso de manuseamento, ou ainda os que são comprados com urgência porque supostamente acabaram, mas são, depois, encontrados no armazém.

Ganhos com a logística
O rol de possibilidades de redução de custos é extenso e deve ser feito, como explica Daniel Silva, "através da implementação de projectos focados em sistemas logísticos de execução ou na cadeia de abastecimento", tendo em conta que devem ser "integrados e focados nos requisitos e objectivos futuros de negócio para os próximos anos".

Talvez o melhor seja começar pelo início, ou seja, fazer uma lista dos gastos nas diferentes áreas que compõem a empresa e aferir onde é possível cortar, sendo certo que as soluções podem ter diferentes roupagens, consoante as diferentes necessidades e problemáticas das empresas. A partir daí, existem várias possibilidades. Daniel Silva aponta dois exemplos onde as PME podem reduzir custos: colaboração com outras empresas ao nível de armazenagem e transporte ou o outsourcing de atividades secundárias da empresa, permitindo o foco no negócio core e a redução de custos fixos, mesmo de pessoal.

Já Luís Delgado defende que as PME devem usar a logística para reduzir os seus custos através de áreas como a gestão de stocks, comprando à medida das necessidades, ou do sector dos transportes e distribuição. Neste caso, constata que as empresas ainda mostram alguma relutância em subcontratar serviços em que sejam pré-definidos níveis de serviço. Ao contrário, "ter uma frota própria de viaturas com taxas de ocupação iguais ou inferiores a 50% é um desperdício a que nenhuma empresa se deveria sujeitar".

Outra área onde as empresas podem apostar é no controlo de processos e produtividade. Por exemplo, se as empresas utilizarem métodos de trabalho "paper-free", com recurso a tecnologias de rádio frequência, conseguem reduzir níveis de erro e poupar no papel, toners ou equipamentos de impressão.

Crespo de Carvalho resume a ideia: se as empresas optarem pela "integração, colaboração, partilha de custos e riscos, complementaridades, lógica de fluxos e de processos, maior envolvimento e maior compromisso", os ganhos são evidentes.

Ultrapassar obstáculos
Quem pensa que a logística é um bicho papão, desengane-se. Se é verdade que deve ser entendida numa lógica integrada e transversal a toda a empresa, também é um facto que se pode começar por pequenas acções quando se quer cortar custos, aumentar produtividade e optimizar processos. O simples facto de ter as mercadorias no armazém organizadas de acordo com os artigos que têm maior rotação ou cuja validade expira primeiro, etc., aliado à utilização de equipamentos tecnológicos de fácil uso e que permitam ao operador dispensar extensas listas de produtos em papel reduz erros e poupa tempo e dinheiro.

Apesar de as vantagens serem inquestionáveis, há ainda muito trabalho de casa por fazer. Isto porque se "há uma maior sensibilidade" no que toca à optimização logística, a questão é que as "pequenas (empresas) não querem sequer pagar o custo da mudança", diz Crespo de Carvalho, acrescentando: "Eu diria que as PME, sendo um pouco o sustentáculo deste país, não só não acordaram ainda para a questão do outsourcing (logístico) como provavelmente o tempo que se aproxima não as fará pensar senão numa hipotética sobrevivência".

O poder político também não tem ajudado, diz o professor. "Há um défice em Portugal de conhecimento logístico. Brutal. Mas a verdade é que não se consegue dar a volta quando se confunde logística com TGV ou com transporte. E há muita gente responsável por esse efeito e pelo consequente downgrade quer da área quer das práticas".




Algumas dicas para poupar com a logística

• Implemente tecnologia GPS para gerir a frota

• Compre stocks à medida das necessidades

• Faça outsourcing de actividades não core

• Colabore com outras empresas em certas actividadades

• Recorra a tecnologia rádio-frequência

• Torne os armazéns livres de papel

• Implemente softwares de gestão de armazenagem

• Redefina layouts de armazém



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