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Gerir um negócio em tempo de crise

A época é de crise, mas isso não significa que as ideias de novos negócios tenham desaparecido. Há quem as tenha e as esteja a pôr em prática nesta fase, mantendo a persistência e o optimismo. Mas valerá a pena arriscar ou o melhor é esperar?

19 de Fevereiro de 2009 às 20:33
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A palavra crise colocou-se aos negócios e alastrou a todos os sectores. Não há dia em que não se ouça notícias de que mais empresas reduziram abruptamente os lucros ou que os resultados tenham entrado no vermelho, anunciando mais despedimentos e mais reestruturações. Que fazer, então, quando se tem uma ideia de negócio ou quando se está já na fase de lançamento de uma empresa? Deve-se esperar ou arriscar?

Pedro Carradinha criou a Ortik no final de 2007. Ainda não tem os seus produtos à venda no mercado mas, segundo as suas previsões, em Março já poderão ser comprados na Internet ou estarão nas mãos de lojistas e distribuidores. Anda a trabalhar para isso. Há poucas semanas esteve na maior feira de Inverno da Europa, na Alemanha, dias depois de ter chegado de outra feira nos Estados Unidos, onde os produtos fizeram um grande sucesso. E qual é o segredo da Ortik?

Começou por ser um produto que ganhou o nome de "Heat.it", um objecto que permite proteger e concentrar o calor de uma chama, próprio para altitudes muito elevadas e para quem faz alpinismo. Pedro Carradinha é alpinista, detectou uma necessidade e pôs mãos à obra, juntamente com aquele que viria a ser um dos seus sócios, Nuno Monge. Analisaram o mercado, contabilizaram o universo de pessoas que, em todo o mundo, praticam alpinismo e fazem actividades de "outdoor", como "trekking", escalada ou "hiking" e prepararam um conjunto de produtos para o mesmo sector, que estão a ser fabricados na China.

Desistir é palavra que não faz parte do vocabulário de Pedro Carradinha. "Não há que ter medo de arriscar, há que ter medo de estar parado", diz o empreendedor que chegou à Gesventure, uma empresa especializada em angariação de capital, com um protótipo do "Heat.it" numa mão e uma pasta na outra. Do outro lado, estava Francisco Banha, líder executivo da empresa, que ajudou a estruturar a ideia, a transformá-la num negócio e a obter o acesso ao capital de risco. Ele próprio acabou por entrar na sociedade como "business angel" e espera ganhar dinheiro com esta aposta.

"Os investidores continuam a ter dinheiro", diz Francisco Banha. "Não é pela crise que se investe mais ou menos, investe-se porque se acredita nos empreendedores e na sua capacidade para satisfazer uma necessidade." Quanto a si, garante que está sempre pronto para ouvir boas ideias e apostar nelas.

Já José Carlos Albuquerque, "business angel" do Porto, que também tem dinheiro aplicado na Ortik, é mais cauteloso quanto ao impacto da crise. "Afecta todos os comportamentos", diz. Os investidores continuam a procurar "oportunidades especiais", mas "há mais precaução e atenção". "Acautela--se mais o risco e gasta-se menos dinheiro, porque se pensa que pode surgir um problema complicado no futuro", justifica José Carlos Albuquerque, membro da Invicta Angels, uma associação de "business angels" do Porto.

Para onde estão a olhar os investidores?

As áreas que, nesta altura, merecem uma atenção especial por parte dos investidores são as da saúde e eficiência energética, diz Francisco Banha, mantendo as áreas de negócio relacionadas com a Internet debaixo de olho. Entende que os empreendedores que vêm de grandes grupos nacionais ou internacionais, como quadros intermédios, revelam-se, à partida, como apostas interessantes pela experiência profissional e "know how" que têm.

Já para José Carlos Albuquerque as áreas não são tão importantes. "O importante é que as ideias tenham determinadas características", assegura. Aponta a inovação e diferenciação como características importantes, permitindo que os produtos possam competir de uma forma sustentada. Diz ainda que o negócio tem de estar virado para o mercado internacional e que o envolvimento e determinação dos empreendedores são também fundamentais. A tudo isto, têm de aliar-se os conhecimentos técnicos.

Como garantir financiamento?

Reunir todos estes requisitos não é condição suficiente para garantir apoio financeiro, a etapa que se segue e quase sempre a mais difícil. É preciso saber como e a que portas bater. Boas ideias acabam por morrer por irem parar à mão errada, alerta Francisco Banha. Por isso, não basta arranjar uma série de contactos de "business angels" ou empresas de capital de risco, enviar a ideia e ficar à espera da resposta. "Cada capital de risco, como cada empresa, tem uma estratégia e pode-se correr o risco de enviar projectos para empresas que não estão vocacionadas para a área de negócio que se quer", lembra o responsável da Gesventure.

Há várias portas onde um empreendedor pode bater. Desde os núcleos de apoio ao empreendedor que já existem em algumas universidades, às agências municipais de apoio ao empreendedor (caso, por exemplo da DNA Cascais), passando pelos chamados "venture catalysts", entidades especializadas em fazer a ponte entre empreendedores e investidores. Depois, consoante a fase em que se encontra o projecto, é preciso saber se o melhor é recorrer à ajuda financeira de incubadoras, "business angels", "corporate ventures", sociedades de capital de risco ou as chamadas "private equity".

"É muito difícil uma pessoa ir sozinha ao capital de risco e obter o dinheiro", garante Nuno Carvalho, um empreendedor que fala por experiência própria. Criou a Zonadvanced em 2007 e diz que, sem ajuda, seria impossível receber financiamento por parte da Inovcapital, sociedade de capital de risco do Ministério da Economia e Inovação. Porque, muitas vezes, o capital de risco tem muito pouco de risco, diz.



A experiência de Nuno Carvalho levou-o a escrever o livro "Ser Empreendedor".

Ainda não o terminou, mas já chegou à conclusão que só há três formas de um empreendedor poder sobreviver. Pode ter um negócio que vai desenvolvendo enquanto trabalha para outros e despede-se quando o negócio estiver consolidado, podendo não precisar de recorrer ao capital de risco. Pode ter amigos e família que juntam dinheiro, mas aí com a consciência de que os recursos são limitados e que a taxa de sucesso acaba por ser, neste caso, baixa. Ou, por fim, tem mesmo de recorrer ao capital de risco, já que só esta alternativa permite ir fazendo o reforço do dinheiro quando é necessário. "Recorrer ao banco é que nem pensar", diz Nuno Carvalho. "Ir ao banco é como ir à família e aos amigos, só que com juros. É um suicídio e um compromisso para a vida."

O que garante o sucesso?

Quem tem experiência no assunto diz que um dos elementos-chave para que um negócio possa vingar é o plano de negócios. É aí que se define a necessidade de mercado, qual a concorrência existente ou potencial, como implementar a ideia, discriminando as características do produto, a equipa necessária ou o preço a que irá ser comercializado.

"Muitas dúvidas acabam por ser eliminadas durante esta fase", garante Francisco Banha, dizendo que é aí que fica claro se vale a pena, ou não, avançar. Pode mesmo dar-se o caso de muitos negócios acabarem por ser reestruturados nesta fase.

Da sua experiência e da investigação que fez para o seu livro, Nuno Carvalho garante que 90 por cento dos empreendedores acabam por fazer uma coisa totalmente diferente da ideia com que começaram. Foi o que acabou por acontecer com ele.

"Ao fim de seis meses de ter constituído a empresa descobri que, se fosse pelo caminho inicial, ia à falência", conta. Deixa um conselho aos empreendedores: admitir um erro não é admitir um falhanço, bater sempre na mesma tecla é que pode ser sinónimo de falência.

Na lista dos ingredientes que fazem um empreendedor de sucesso, o presidente executivo da Zonadvanced junta três características essenciais: estar disposto ao risco, saber viver na incerteza e ter a capacidade de ser positivo e pensar que o dia seguinte vai ser melhor que o dia anterior. "É preciso ser muito persistente e muito optimista para aguentar as ondas negativas que são muito fortes e muito potentes."

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