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Aventuras empresariais dão lugar a negócios consistentes

Três empresas contam como entraram em Angola e partilham as suas experiências. Num país onde há tudo para fazer, os negócios têm de ser consistentes e a perspectiva de longo prazo. "Oportunismo e facilitismo deixaram de...

09 de Abril de 2009 às 12:10
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Arnaldo Sapinho
| Director-geral da Movicortes

Arnaldo Sapinho, desde há dois anos, que viaja frequentemente para Angola e desde então já sente as diferenças. "Nota-se, de uma forma visível,a reorganização de Luanda", comenta o director-geral da Movicortes. A empresa detém, entre outras participadas, a Vimoter (concessionária automóvel), onde Arnaldo Sapinho foi fotografado. Após consolidar a actividade no país, a empresa está a construir instalações próprias na zona industrial de Viana, a 60 quilómetros da capital, e um pólo de apoio em Benguela. Admitindo que existem "situações complexas que se devem à falta de infra-estruturas", o gestor defende que o segredo passa por ter "negócios consistentes". É um "país estrangeiro que tem os seus processos, temos de contar com isso e lidar com eles da melhor forma", comenta. Angola é "um mercado que revelou um potencial interessante, tem recursos naturais e estabilidade política mas já se nota um certo arrefecimento da actividade" avisa Arnaldo Sapinho.




Três empresas contam como entraram em Angola e partilham as suas experiências. Num país onde há tudo para fazer, os negócios têm de ser consistentes e a perspectiva de longo prazo. "Oportunismo e facilitismo deixaram de ser determinantes" avisa Arnaldo Sapinho, director-geral da Movicortes

Arnaldo Sapinho tem 42 anos e é licenciado em Sociologia. O seu saber académico, contudo, foi irrelevante para determinar a ida da empresa Movicortes para Angola. Neste aspecto, o director-geral da empresa leiriense, que fornece equipamentos para obras públicas, limita-se a constatar o óbvio. "Há uma cultura diferente que é preciso perceber e respeitar. Temos de nos adequar a ela", observa.

A aposta em Angola aconteceu há dois anos, de forma "natural", na geografia de internacionalização da Movicortes, onde se inclui também Espanha. "É um mercado que revelou um potencial interessante", constata Arnaldo Sapinho . Uma avaliação partilhada por Joaquim Neto Filipe, líder da Projecto.Detalhe, e José Caetano Silva, director-geral da Talent Search.

No caso da da empresa de Leiria o processo começou pela constituição da Movicortes Angola, uma sociedade de direito angolano e continuou com a diversificação do negócio. A Movicortes passou agora a exportar os vinhos Rocim e Olho do Mocho, produzidos na Herdade do Rocim, situada entre Cuba e Vidigueira, de que são proprietários.

"Em África, em Angola em particular, há quase tudo por fazer, é um mercado que oferece mais oportunidades que o mercado europeu, já maduro", sustenta Joaquim Neto Filipe, presidente da Projecto.Detalhe, uma PME que tem como actividade a engenharia industrial.

Cinco conselhos para aproveitar oportunidades em Angola


País em desenvolvimento
O facto de haver muito por fazer em Angola é uma das principais vantagens para qualquer empresa. O sector do petróleo é de facto a actividade mais atraente, mas também é que aporta mais companhias concorrentes. Há outras regiões que começam a desenvolver-se, além de Luanda, como o Lobito, Benguela, Huambo e Cabinda.

Crescimento
A estagnação dos mercados ricos e desenvolvidos do ocidente obriga muitos empresários a procurarem boas soluções para expandir o seu negócio. Segundo José Caetano Silva, o mercado angolano permite a algumas empresas manter algum crescimento.

Resolução de problemas
A procura de quadros superiores em Portugal pode resolver o problema de alguns trabalhadores em fim de carreira antecipada ou que estejam no desemprego. Para José Caetano Silva, muitos dos trabalhadores que se encontram no desemprego possuem as caracteristicas necessárias para ajudar aquele país a desenvolver-se.

Qualidade de vida
Os empresários referem que é possível ter uma vida semelhante à que se goza em Lisboa. Joaquim Neto Filipe sublinha que em Luanda se come bem, há uma vida nocturna simpática e há locais onde as pessoas se podem divertir.

Bons interlocutores
O ambiente para fazer negócios é bom e os angolanos já têm capacidade de enteder o que lhes é oferecido. Joaquim Neto Filipe refere mesmo que hoje os quadros superiores angolanos tem por vezes uma formação e cultura superior à que se encontra entre os ocidentais.



Obtenção de vistos
Este é a principal barreira que os empresários escutados pelo Negócios encontraram em Angola. José Caetano Silva acredita que poderia ser ultrapassada "com um pequeno passo".

Falta de infra-estruturas
Há falta de vias de acesso, apesar de começar a existir algum desenvolvimento para aliviar a questão. O trânsito "infernal" de Luanda é apontado como uma grande desvantagem. Joaquim Neto Filipe refere que leva no mínimo três horas para fazer os 10 km que ligam o centro de Luanda à refinaria da cidade.

Falta de quadros nacionais
O estado angolano exige que a maioria dos empregados das empresas sejam de nacionalidade angolana, mas a falta de formação entre os quadros angolanos obriga as empresas a recrutarem recursos humanos no estrangeiro. Os empresários consideram que faltam escolas superiores naquele país africano.

Custo de Vida
O presidente da Projecto.Detalhe confessa que consegue fazer a mesma vida em Luanda que faz em Lisboa, mas que custa três vezes mais. Em média, a renda de um escritório no centro da capital angolana com 150 a 200 metros quadrados custa entre 8000 a 10.000 mil dólares. Já um apartamento na zona da baixa de Luanda, com com duas assoalhadas, poderá ter uma prestação mensal de 3000 dólares.

viagens muito caras
José Caetano Silva diz que as ligações entre Lisboa e Luanda ainda não são as melhores
e que os preços das tarifas são exorbitantes.


A realidade que se pinta de Angola, é altamente elogiosa e distribuída em doses generosas por entre seminários, conferências e actividades similares. Os recursos naturais que dispõe, os elevados índices de crescimento anual, a necessidade de quadros técnicos superiores e de empresas com valor acrescentado para o desenvolvimento da economia local, colocam o país na linha da frente da internacionalização de centenas de empresas portuguesas.

"Angola tornou-se num mercado bastante atractivo do ponto de vista de negócio, mas também consideramos que temos muito a aportar à aquele mercado" que "tem muita necessidade dos nossos serviços, versus uma Europa que está estagnada, há muito adormecida nos aspectos em que nós trabalhamos", sublinhou José Caetano Silva, director geral da Talent Search, empresa de executive search, ao Negócios.

O termo aventura deve ser erradicado para caracterizar qualquer investimento no país. "Oportunismo e facilitismo deixaram de ser determinantes. É preciso estar com consistência, ter uma boa organização e marcas", avisa Arnaldo Sapinho.

Os empresários constatam alguma dificuldade de penetração no mercado angolano, mas consideram que as muitas lacunas que o país apresenta que acabam por se tornarem oportunidades de mercado. "Portugal tem 14,5 vezes menos território que Angola e tem 1400 estações de serviço [de combustível]. Angola com aquele território todo tem apenas 300", ilustra Neto Filipe.


Joaquim Neto Filipe
Presidente da Project. Detalhe

A voz de Joaquim Neto Filipe não treme quando fala do arranque da Projecto.Detalhe em Angola, apesar das dificuldades iniciais. "2006 foi o ano Zero, com facturação zero e muitos custos". A empresa de engenharia industrial viajou para o país pela primeira vez há três anos, mas só em 2007 é que abriu escritório em Luanda. No mercado angolano aposta sobretudo na energia, estando focada em três subsectores: subsector do "oil and gas", transporte e distribuição de energia e produção de energia através de fontes renováveis. Na sua carteira de clientes contam petrolíferas de renome internacional como a Sonangol, Chevron e a BP. Para este empresário de 47 anos, formado em engenharia electrotécnica, Angola oferece qualidade de vida para quem decide lá viver ou trabalhar, apesar de alguns condicionalismos como o trânsito "infernal de Luanda". "A próxima vez que for a Luanda vou comprar uma mota (...) pois para ter ideia o meu recorde para fazer os 10Km que ligam o centro à refinaria são três horas", refere o empresário.






José Caetano Silva
Director Geral da Talent

"Há poucas empresas no mercado e devia haver mais. Na nossa área eu diria que a concorrência é bem vinda (...) para que possamos divulgar mais rapidamente o conceito" de "executive search", afirma José Caetano Silva. O empresário, que em 2000 fundou a Talent Search em Lisboa e Madrid, não poupa palavras na avaliação da importância que aquele mercado terá na empresa. "Vem ai um ciclo longo de desenvolvimento de Angola o que vai oferecer boas perspectivas de crescimento". José Caetano Silva, de 47 anos e formado em engenharia electrotécnica, aconselha outros empresários a "investir tempo, paciência e algum dinheiro em Angola". A principal área de negócio da Talent Search, que abriu escritório em Luanda no ano passado, é o "executive search" (procura de quadros superiores), tendo como principal parceiro no terreno o Centro de Estudos Estratégicos de Angola. O empresário aponta a estabilidade política e social do país como uma vantagem e considera "que não há corrupção em Angola como se fala".



Esta ideia também é defendida por José Caetano Silva, ao apontar que uma das missões da Talent Search é neste momento "levar expatriados para Angola, para determinadas posições, pois o mercado ainda não tem angolanos adequados para exercer essas funções".

As dificuldades em encontrar mão de obra qualificada angolana é um dos principais entraves encontrados por Neto Filipe. "Não conseguimos encontrar engenheiros angolanos para trabalhar connosco" afirma o responsável.

A dificuldade da Projecto.Detalhe em encontrar recursos humanos é uma oportunidade para a Talent Search. "O nosso projecto em Angola, passa por angolanizar, que é basicamente fazer com que a maioria dos quadros de uma empresa sejam angolanos", afirma José Caetano Silva. A importância da facturação em Angola é outro dos pontos destacados pelos empresários.

Enquanto a Talent Search pretende este ano aproximar o volume de facturação em Angola ao que atinge em Portugal (cerca de 1,2 milhões de euros). A Projecto.Detalhe espera duplicar este ano o valor facturado em 2008, de 2,5 para 5 milhões de euros. Segundo o seu presidente, neste momento a facturação em Angola tem um peso de 20% nas contas da empresa.

Angola exige "transparência" aos investidores

Angola desperta um fascínio irresistível para o empresários portugueses. As pouco dúvidas existentes nesta matéria, foram dissipadas a 11 de Março deste ano, num seminário sobre as relações económicas entre os dois países que teve lugar em Lisboa, coincidindo com a visita de Eduardo dos Santos. Numa sala do hotel Ritz, mais de 300 empresários marcaram presença para ouvir o primeiro-ministro angolano, Manuel Nunes Júnior.

"Angola tem grande interesse em reforçar as relações económicas com Portugal", garantiu o governante a uma plateia ansiosa por interpretar os sinais políticos.

Já Aguinaldo Jaime, presidente da ANIP (Agência Nacional para o Investimento Privado) enumerou o que o seu país espera dos investidores. "Uma aposta séria em parceiras justas e equilibradas, uma postura de transparência para com o mercado e o respeito pela lei", avisou Aguinaldo Jaime.
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