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Guerra do lítio: Australianos avançam com pedido de licença de exploração contra Lusorecursos
Apesar de a Lusorecursos já ter apresentado o pedido, os australianos - em litígio com a empresa portuguesa - anunciam que vão requerer a licença de exploração de lítio em Sepeda para garantir os seus direitos.
Os australianos da Novo Lítio vão apresentar um pedido próprio de licença de exploração de lítio em Sepeda, Montalegre, avançando assim contra a Lusorecursos - a empresa titular do contrato de prospecção, que já tinha requerido a mesma licença - em mais um episódio da batalha jurídica que opõe as duas companhias.
O anúncio do avanço, feito esta quarta-feira, 6 de Dezembro, em comunicado da companhia à bolsa australiana, acontece na véspera de caducar o actual contrato de prospecção, dia em que termina também o prazo para apresentar um pedido de licença de exploração para a mesma zona, sob pena de se perderem os direitos sobre aquele território.
"A empresa vai também submeter à DGEG (Direcção Geral de Energia e Geologia) o seu plano mineiro e o pedido de licença de exploração até 7 de Dezembro, para proteger os direitos da empresa sobre o activo caso o pedido de licença da Lusorecursos seja rejeitado pela DGEG por falta de capacidade técnica e financeira," argumenta a Novo Lítio no comunicado.
O Negócios contactou a Direcção-geral de Energia e Geologia para saber se o pedido da Novo Lítio já deu entrada e quais os trâmites que seguirá, mas até ao momento não foi possível obter informação.
O actual contrato de prospecção, cujo titular é a Lusorecursos, foi assinado em 7 de Dezembro de 2012 e termina cinco anos depois, esta quinta-feira. Entretanto, em Junho do ano passado a Novo Lítio - então ainda Dakota Minerals - anunciou ter acordado a compra à Lusorecursos dos direitos desta licença. Só que a transferência dos direitos para os australianos nunca aconteceu, levando a Novo Lítio a pôr a Lusorecursos em tribunal.
Em Setembro passado, quando estalou a polémica entre as duas empresas sobre a titularidade da licença, o Governo esclareceu que o seu único interlocutor era a Lusorecursos, "com a qual o Estado Português tem um contrato devidamente válido, no que parecia colocar parte a possibilidade de aceitar um pedido de licença de exploração que viesse a ser apresentado por outra entidade, como a Novo Lítio. Mais tarde, o secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches veio garantir que o Estado agiria na "defesa rigorosa do interesse público e da legalidade" neste caso.
Já esta semana, em mais um episódio do caso, o Tribunal de Braga chumbou uma providência cautelar da empresa australiana, que pedia que fosse reconhecida a sua legitimidade para pedir ao Estado a transferência para a sua posse dos direitos de prospecção nas mãos da Lusorecursos e que pudesse ser a Novo Lítio a apresentar o pedido de licença de exploração em vez da empresa concessionária.
Os australianos alegavam que havia o risco de a Lusorecursos não apresentar o novo pedido de exploração antes do prazo findar - até 7 de Dezembro -, o que, a acontecer, causaria prejuízos irreparáveis. Mas a Lusorecursos apresentou ao tribunal elementos que provavam que tinha entretanto apresentado o pedido à DGEG, pelo que o tribunal concluiu que a Novo Lítio já não poderia substituir-se à empresa de Braga nesse procedimento, extinguindo o pedido da providência.
No comunicado de hoje, os australianos dão conta deste revés judicial, mas não desistem de perseguir o que dizem ser os seus direitos. "Em resposta a esta decisão, a Novo Lítio agiu de forma imediata para proteger o seu direito sobre o activo através de uma estratégia legal faseada, enquanto inicia o processo principal," refere a nota.
As acções da Novo Lítio tinham sido suspensas em bolsa esta terça-feira, à espera de esclarecimentos da empresa sobre a providência cautelar que acabou chumbada.
O litígio entre a Novo Lítio e a Lusorecursos, que acabou nos tribunais, arrasta-se desde meados deste ano. Nos últimos meses, a má relação entre as empresas intensificou-se, levando por várias vezes à intervenção da GNR, chamada a Sepeda para identificar seguranças privados alegadamente contratados pela Novo Lítio para dissuadir a entrada de terceiros nos terrenos da concessão, nomeadamente membros da Lusorecursos, que se afirma detentora da licença de prospecção.
Ao fim de vários meses de trabalhos no terreno a empresa disse ter identificado "o maior recurso de lítio num depósito de lítio-césio-tântalo em pegmatito na Europa", material que foi mais tarde considerado adequado para a produção de componentes de baterias de iões lítio. A empresa chegou a manifestar a intenção de investir entre 200 e 400 milhões de dólares até 2019 para criar em Montalegre um complexo de extracção e processamento de compostos de lítio para o fabrico de baterias que criaria 200 empregos.