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Carne fabricada em laboratórios foi aprovada para venda pela primeira vez
O ano de 2020 continua a surpreender. Pela primeira vez na história da indústria alimentar foi aprovada a venda de carne fabricada em laboratórios. Este feito ocorreu em Singapura e impede o abate de milhões de animais.
A carne fabricada em laboratórios foi aprovada pela primeira vez para venda em Singapura. Este marco histórico pode salvar a vida a milhões de animais e contribuir para a diminuição das alterações climáticas, representando desta forma um ponto de viragem na indústria das carnes, segundo o The Guardian.
As células de frango estão a ser cultivadas in vitro pela norte-americana Eat Just, que tem já experiência na venda de produtos não animais, e foram analisadas pela Agência de segurança de Alimentos de Singapura. Esta aprovação altera o paradigma existente e aumenta a esperança de que "toda a carne seja produzida sem ser necessário matar nenhum animal", reforça a empresa citada pelo The Guardian.
Dezenas de empresas, como a Memphis Meats e a Aleph Farms, estão atualmente a apostar no cultivo in vitro das células de frangos, bovinos e suínos, com o intuito de reduzir o impacto da indústria pecuária nas alterações climáticas. Além do mais, com esta prática fornecem ao consumidor carne mais limpa e sem aditivos, de acordo com as informações apuradas pelo The Guardian.
Atualmente são todos os dias abatidos cerca de 130 milhões de frangos para consumo e 4 milhões de porcos, o que pode vir a sofrer alterações com a comercialização das células de carne cultivadas pela Eat Just. Segundo os cientistas inquiridos pelo The Guardian, reduzir ou cortar no consumo de carne é a melhor ação ambiental que alguém pode fazer.
Para além do mais, o cultivo de carne em condições laboratoriais reduz também o risco de os consumidores contraírem doenças, transmitidas através dos alimentos.
As células de carne são cultivadas num reator biológico, de 1.200 litros e misturadas com ingredientes de origem vegetal. Inicialmente o produto seria limitado, sendo que só seria vendido num restaurante de Singapura, salientou a Eat Just. Até que a produção aumentasse o produto estaria disponível por um valor superior ao do frango convencional, acrescentou ainda a norte-americana.
As células utilizadas para a criação desta carne são provenientes de um banco de células. Para as obter não foi necessário sacrificar nenhum animal, uma vez que são recolhidas através de uma simples biopsia. Já os nutrientes fornecidos às células são originários de plantas.
Estas células desenvolvem-se, crescem, através da injeção de soro fetal bovino, que é removido na sua totalidade antes do consumo. Na próxima linha de produção a empresa espera permutar este soro por um de origem vegetal, que não estava disponível aquando do processo de aprovação de Singapura iniciado há dois anos atrás.
As empresas que desenvolvem carne cultivada em laboratório acreditam que com este produto podem mais facilmente afastar a população mundial do consumo de carne de origem animal, isto porque as dietas veganas podem ser desagradáveis para alguns e os substitutos da carne à base de vegetais nem sempre são fiéis ao sabor e textura.
Josh Tetrick, da Eat Just, acredita que "a aprovação é um dos marcos mais significativos da indústria dos alimentos na última década. É uma porta aberta e cabe-nos a nós e a outras empresas aproveitar esta oportunidade. Tenho esperança que esta prática nos leve a um mundo em que a maioria da carne consumida não exija a morte de um único animal". Contudo, o caminho a ser trilhado não é simples. Esta carne de cultivo necessita de obter a aprovação dos reguladores, países e consumidores para que a produção prossiga.
Um relatório recente da AT Kearney prevê que me 2040 a maior parte da carne não esteja associada à morte de animais. O que, segundo Carsten Gerhardt da empresa de consultoria, poderá ser acelerado com esta aprovação em Singapura neste ano atípico, de 2020.