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Caldeira Cabral vê as modas em Paris e “tendências” de aceleração económica
O ministro da Economia pede menos preocupação com Trump e serve-se do têxtil e vestuário para reclamar que a subida do salário mínimo não abala a competitividade da indústria.
Manuel Caldeira Cabral visitou esta terça-feira, 7 de Fevereiro, algumas das 56 empresas portuguesas presentes na Première Vision Paris e parece ter saído desta feira, de referência nas matérias-primas para a moda, inspirado também pelas "tendências" de crescimento da economia portuguesa nos próximos anos.
Em declarações aos jornalistas depois de percorrer alguns stands arrojados no design e que lhe mostraram o uso de novos materiais, como tecidos feitos com cortiça, que reagem ao calor ou que mudam de cor, o ministro da Economia referiu que "os sinais que [tem] do final de 2016 são de aceleração do crescimento" e antecipou que "o início de 2017 está a dar bons sinais de crescimento homólogo".
Depois de um ano em que foram criados 100 mil novos postos de trabalho no país – e em que o têxtil e vestuário, pela primeira vez em 15 anos, deram aqui um contributo positivo com a criação de quatro mil empregos -, Caldeira Cabral assegurou que "ainda em 2017 a taxa de desemprego estará claramente abaixo dos 10%" e que esta performance continuará a obrigar as instituições nacionais e internacionais a rever em alta as suas estimativas.
Em relação aos custos laborais, sobretudo num sector de mão-de-obra intensiva como este, o governante apontou que "os factos falam por si". "Houve um aumento do salário mínimo em 2016 e nesse mesmo ano esta indústria teve um aumento do emprego e das exportações. (…) Os que dizem que o aumento da competitividade só é possível baixando os salários estão errados. É óbvio que temos de continuar a trabalhar para melhorar a tecnologia, a qualidade da produção e o design para ter aumentos de competitividade. Mas várias indústrias mostraram que é possível ter aumentos de salário, de emprego e da competitividade, com aumento das exportações", detalhou.
Como o Negócios noticiou na edição desta terça-feira, no ano passado a indústria têxtil e de vestuário aumentou as exportações em cerca de 5% e ultrapassou a barreira dos cinco mil milhões de euros. Antecipou esta meta, que no plano estratégico do sector estava prevista apenas para 2020, e regressa assim a valores de vendas internacionais que já não atingia desde 2001.
Trump e energia na agenda industrial
Ao mesmo tempo que elogiou a presença de 54 empresas portuguesas nesta feira onde "só as melhores do mundo entram", o ministro desvalorizou a reivindicação desta indústria para uma redução dos custos da energia. Sustentou que o preço do gás natural teve uma redução entre 22% a 28% para as empresas e que a electricidade vai ter em 2017 o menor aumento da década, ficando pela primeira vez neste período abaixo da inflação esperada. "Está a haver aí um controlo de custos, o que é muito importante para o sector industrial. Foi um esforço grande que fizemos de usar a regulação para diminuir algumas rendas que ainda existiam para consegui-lo".
Outro dos receios que os fabricantes portugueses de tecidos e de malhas partilharam esta manhã na capital francesa foi o da evolução do mercado norte-americano com a nova administração liderada por Donald Trump. Apesar de ser apenas o quinto melhor destino para o sector, valendo 5% das vendas ao exterior, é na maior economia do mundo que muitos empresários têm investido nos últimos anos, até para reduzir a dependência comercial da Europa.
O ministro reconheceu que "há muita instabilidade e alguma incerteza a nível global", mas mostrou-se "certo que mercados como os EUA e outros extra-comunitários vão continuar a ter um bom crescimento e as empresas portuguesas vão continuar a encontrar aí o seu espaço". "É óbvio que o Governo e as instituições comunitárias estarão atentos e actuarão, mas há acordos comerciais, estes produtos estão a vender muito bem nos EUA e, ao mesmo tempo, o valor do dólar até está a ajudar as exportações portuguesas neste momento. Não devemos agora estar a pôr demasiado peso nessas preocupações", concluiu.
* Jornalista em Paris, a convite da Associação Selectiva Moda