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Brasileiros vendem Cimpor em Portugal

A InterCement acordou a venda da unidade de negócio de Portugal e Cabo Verde da Cimpor. O comprador é o grupo turco Oyak. A justificação para a transacção é a redução da dívida do grupo brasileiro.

Miguel Baltazar/Negócios
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As fábricas da Cimpor em Portugal vão ser vendidas. A unidade de negócios no país, onde está sediada, foi alienada ao grupo Oyak. O objectivo é ajudar a reduzir a dívida do grupo brasileiro seu accionista, a InterCement. 

 

"A InterCement e a Cimpor assinaram com o Grupo Oyak um contrato que tem como objecto a venda de todos os activos que compõem a unidade de negócio de Portugal e Cabo Verde", indica o grupo brasileiro presidido por Luís Alves Fernandes e que tem Daniel Proença de Carvalho como "chairman", em comunicado enviado às redacções. 

 

A justificação para a operação é a diminuição da dívida da Cimpor, empresa que ficou com uma situação patrimonial deficitária nos últimos anos (em 2016, o capital próprio era negativo em 409 milhões de euros): "Esta transacção enquadra-se no plano de redução da dívida do Grupo publicamente anunciado pela InterCement e pela Cimpor, em resposta à adversidade do contexto que se tem observado nos mercados da América do Sul, especialmente no Brasil".


A transacção contempla, anuncia a nota, "a manutenção das estruturas humanas destas empresas", sendo que ainda aguarda a aprovação das autoridades da concorrência. 

Não é anunciado qualquer valor para a operação. De acordo com a Reuters, a operação resultará num encaixe de 700 milhões de euros para o grupo vendedor. 

Cimpor foi comprada em 2012 pela InterCement

A InterCement, que pertence ao grupo Camargo Corrêa, passou a controlar a Cimpor em 2012, quando lançou uma oferta pública de aquisição sobre a cimenteira portuguesa, comprando as posições que estavam então dispersas pela Votorantim, Caixa Geral de Depósitos, o fundo de pensões do BCP e a Investifino, do empresário Manuel Fino e por pequenos investidores.

 

Em Portugal, a Cimpor conta actualmente com três fábricas, duas moagens e uma capacidade de produção de 9,1 milhões de toneladas de cimento. 

 

O volume de negócios da Cimpor em Portugal foi de 258 milhões de euros em 2017, um crescimento de 3,1% em relação ao ano anterior. Em Cabo Verde, que integra a mesma unidade de negócios, o volume criado foi de 30 milhões, uma quebra homóloga de 7,6%.

 

A unidade de negócio que junta os dois mercados - que é aquela que foi vendida - gerou um resultado operacional (EBITDA - resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 47,4 milhões de euros, o que significou um crescimento de 27,7% em relação a 2016.

Grupo turco comprador muda unidade de cimentos

Segundo revela o comunicado enviado pelo comprador, o grupo turco Oyak é o maior fundo de pensões do país e investe em vários sectores, "como o cimento e o betão, a exploração mineira e a metalúrgica, o automóvel, a energia e o sector químico, a agricultura, a logística, as finanças e a alumina especializada". O grupo tem uma empresa da área de cimentos, a Oyak Cement, que conta com sete fábricas integradas de cimento, três moagens de cimento e 45 centrais de betão pronto na Turquia. 

O anúncio da compra da Cimpor acontece no mesmo dia em que os turcos da Oyak Cement, a compradora, comunicaram ao mercado uma relevante alteração na sua estrutura accionista. A Taiwan Cement comprou 40% da unidade de cimentos do grupo Oyak por 640 milhões de dólares, ficando os restantes 60% nas mãos do grupo. Um negócio que avalia a nova dona da Cimpor em 1,6 mil milhões de dólares.

 

De acordo com um comunicado citado pela Bloomberg, um dos objectivos da parceria entre a Taiwan Cement e a Oyak passa por "unir esforços no mercado internacional de cimentos".



Cimpor já esteve na Turquia

A Cimpor chegou a ter uma operação na Turquia, mas abandonou o mercado após a oferta pública de aquisição lançada pela InterCement. A saída aconteceu no âmbito de uma troca de activos negociada entre a compradora e a concorrente brasileira Vororantim, que era a segunda maior accionista da cimenteira portuguesa. Também após a compra da Cimpor pela brasileira InterCement, do grupo Camargo Corrêa, houve uma permuta de activos entre as duas empresas. Com essa mudança, entraram na cimenteira portuguesa mais de 2 mil milhões de euros de dívida. No final de 2016, a dívida da companhia era de 3.381 milhões de euros.


A capitalização da Cimpor

Tendo em conta a situação deficitária que apresentou até 2016, a Cimpor tem tentado realizar operações de capitalização. A cimenteira nacional não conseguiu, no ano passado, que se verificassem as condições suficientes para concretizar um aumento de capital, para o qual tinha tido autorização da assembleia-geral e poderia ir até aos dois mil milhões de euros. Falhada esta operação, o plano de capitalização acabou por se materializar em Dezembro, quer com a realização de prestações acessórias de 700 milhões por parte do seu maior accionista, quer com a oferta pública inicial da argentina Loma Negra, através da qual levantou 876 milhões de euros.

 

Depois disto, o grupo voltou a dar novos passos para a sua capitalização. A InterCement Autria, que é a maior accionista, propôs converter, através de um aumento de capital, aquelas prestações suplementares de 700 milhões emprestadas em Dezembro.

 

A cimenteira portuguesa convocou, agora, para 20 de Novembro uma assembleia geral extraordinária para aprovar um aumento de capital que pode chegar a um máximo de 887,1 milhões de euros. A operação inclui uma entrada em espécie no montante de 700 milhões de euros, que respeita à referida conversão em capital do crédito concedido pelo seu maior accionista, a InterCement Austria Holding, mas também uma tranche que pode ir até aos 187 milhões de euros, destinada aos minoritários que queiram manter as suas participações.

(Notícia actualizada pela última vez às 15:05)

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