Notícia
Brasileiros vendem Cimpor em Portugal
A InterCement acordou a venda da unidade de negócio de Portugal e Cabo Verde da Cimpor. O comprador é o grupo turco Oyak. A justificação para a transacção é a redução da dívida do grupo brasileiro.
As fábricas da Cimpor em Portugal vão ser vendidas. A unidade de negócios no país, onde está sediada, foi alienada ao grupo Oyak. O objectivo é ajudar a reduzir a dívida do grupo brasileiro seu accionista, a InterCement.
"A InterCement e a Cimpor assinaram com o Grupo Oyak um contrato que tem como objecto a venda de todos os activos que compõem a unidade de negócio de Portugal e Cabo Verde", indica o grupo brasileiro presidido por Luís Alves Fernandes e que tem Daniel Proença de Carvalho como "chairman", em comunicado enviado às redacções.
A justificação para a operação é a diminuição da dívida da Cimpor, empresa que ficou com uma situação patrimonial deficitária nos últimos anos (em 2016, o capital próprio era negativo em 409 milhões de euros): "Esta transacção enquadra-se no plano de redução da dívida do Grupo publicamente anunciado pela InterCement e pela Cimpor, em resposta à adversidade do contexto que se tem observado nos mercados da América do Sul, especialmente no Brasil".
A transacção contempla, anuncia a nota, "a manutenção das estruturas humanas destas empresas", sendo que ainda aguarda a aprovação das autoridades da concorrência.
Não é anunciado qualquer valor para a operação. De acordo com a Reuters, a operação resultará num encaixe de 700 milhões de euros para o grupo vendedor.
Cimpor foi comprada em 2012 pela InterCement
A InterCement, que pertence ao grupo Camargo Corrêa, passou a controlar a Cimpor em 2012, quando lançou uma oferta pública de aquisição sobre a cimenteira portuguesa, comprando as posições que estavam então dispersas pela Votorantim, Caixa Geral de Depósitos, o fundo de pensões do BCP e a Investifino, do empresário Manuel Fino e por pequenos investidores.
Em Portugal, a Cimpor conta actualmente com três fábricas, duas moagens e uma capacidade de produção de 9,1 milhões de toneladas de cimento.
O volume de negócios da Cimpor em Portugal foi de 258 milhões de euros em 2017, um crescimento de 3,1% em relação ao ano anterior. Em Cabo Verde, que integra a mesma unidade de negócios, o volume criado foi de 30 milhões, uma quebra homóloga de 7,6%.
A unidade de negócio que junta os dois mercados - que é aquela que foi vendida - gerou um resultado operacional (EBITDA - resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 47,4 milhões de euros, o que significou um crescimento de 27,7% em relação a 2016.
Segundo revela o comunicado enviado pelo comprador, o grupo turco Oyak é o maior fundo de pensões do país e investe em vários sectores, "como o cimento e o betão, a exploração mineira e a metalúrgica, o automóvel, a energia e o sector químico, a agricultura, a logística, as finanças e a alumina especializada". O grupo tem uma empresa da área de cimentos, a Oyak Cement, que conta com sete fábricas integradas de cimento, três moagens de cimento e 45 centrais de betão pronto na Turquia.
O anúncio da compra da Cimpor acontece no mesmo dia em que os turcos da Oyak Cement, a compradora, comunicaram ao mercado uma relevante alteração na sua estrutura accionista. A Taiwan Cement comprou 40% da unidade de cimentos do grupo Oyak por 640 milhões de dólares, ficando os restantes 60% nas mãos do grupo. Um negócio que avalia a nova dona da Cimpor em 1,6 mil milhões de dólares.
De acordo com um comunicado citado pela Bloomberg, um dos objectivos da parceria entre a Taiwan Cement e a Oyak passa por "unir esforços no mercado internacional de cimentos".
Cimpor já esteve na Turquia
A Cimpor chegou a ter uma operação na Turquia, mas abandonou o mercado após a oferta pública de aquisição lançada pela InterCement. A saída aconteceu no âmbito de uma troca de activos negociada entre a compradora e a concorrente brasileira Vororantim, que era a segunda maior accionista da cimenteira portuguesa. Também após a compra da Cimpor pela brasileira InterCement, do grupo Camargo Corrêa, houve uma permuta de activos entre as duas empresas. Com essa mudança, entraram na cimenteira portuguesa mais de 2 mil milhões de euros de dívida. No final de 2016, a dívida da companhia era de 3.381 milhões de euros.
A capitalização da Cimpor
Tendo em conta a situação deficitária que apresentou até 2016, a Cimpor tem tentado realizar operações de capitalização. A cimenteira nacional não conseguiu, no ano passado, que se verificassem as condições suficientes para concretizar um aumento de capital, para o qual tinha tido autorização da assembleia-geral e poderia ir até aos dois mil milhões de euros. Falhada esta operação, o plano de capitalização acabou por se materializar em Dezembro, quer com a realização de prestações acessórias de 700 milhões por parte do seu maior accionista, quer com a oferta pública inicial da argentina Loma Negra, através da qual levantou 876 milhões de euros.
Depois disto, o grupo voltou a dar novos passos para a sua capitalização. A InterCement Autria, que é a maior accionista, propôs converter, através de um aumento de capital, aquelas prestações suplementares de 700 milhões emprestadas em Dezembro.
A cimenteira portuguesa convocou, agora, para 20 de Novembro uma assembleia geral extraordinária para aprovar um aumento de capital que pode chegar a um máximo de 887,1 milhões de euros. A operação inclui uma entrada em espécie no montante de 700 milhões de euros, que respeita à referida conversão em capital do crédito concedido pelo seu maior accionista, a InterCement Austria Holding, mas também uma tranche que pode ir até aos 187 milhões de euros, destinada aos minoritários que queiram manter as suas participações.