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Bosch obrigada a mudar todos os esquentadores fabricados em Aveiro

O corte na emissão de gases poluentes imposto por legislação europeia vai obrigar a multinacional a alterar quase todo o portefólio na unidade industrial aveirense. A adaptação está nas mãos de 80 engenheiros portugueses e tem de avançar já em Julho.

Paulo Duarte
06 de Maio de 2018 às 22:00
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A Bosch está em contra-relógio para alterar quase todos os modelos de esquentadores a gás fabricados em Aveiro, de forma a cumprir a nova directiva energética (ErP-EuP) que entra em vigor em Setembro. Ou seja, a linha de produção vai ter de ser reconvertida, no máximo, a partir de Julho para garantir que todos os artigos obedecem aos novos parâmetros relacionados com a emissão de partículas e gases, a eficiência energética ou os níveis sonoros.

Dos 274 milhões de euros de vendas realizadas em 2017 por esta unidade industrial de termotecnologia, 260 milhões foram feitos nos mercados europeus, onde se aplica a legislação. Ao Negócios, o presidente da Bosch Portugal, Carlos Ribas, admitiu que esta reconversão está a exigir "um esforço muito grande na área da inovação", garantindo, porém, que a fábrica não vai parar. "Estamos em fases de protótipos e de validações. As soluções existem", detalhou.

O trabalho de adaptação tecnológica, para garantir novas soluções de aquecer a água, está sobretudo nas mãos dos cerca de 80 engenheiros que trabalham num moderno edifício ao lado da fábrica, onde desde o ano passado funciona o centro de competências da multinacional alemã para esta área. Rudiger Saur, o alemão que a partir de Portugal lidera esta unidade de negócios a nível mundial, reconheceu que "o mercado vai mudar um bocadinho com esta legislação que obriga a renovar por completo o portefólio", mas espera "ser o fornecedor com a gama de mais baixas emissões na Europa".

É o investimento em inovação que vai assegurar a manutenção e o desenvolvimento das fábricas em Portugal. Carlos Ribas
Responsável da Bosch em Portugal


A fábrica de Aveiro, uma das três detidas pela multinacional em Portugal, está a produzir actualmente oito mil aparelhos por dia, que chegam às lojas com as marcas Vulcano, Bosch e Junkers. Este "pico" engloba já os artigos que eram feitos no México, onde o grupo decidiu fechar a operação. Esta transferência obrigou à contratação de 200 funcionários em 2017, para um total de 1.200 neste momento, e fez com que a fábrica passasse também a exportar para a América Latina.

Outra novidade nesta área, apresentada aos jornalistas na sexta-feira, 4 de Maio, prende-se com a concentração também em Aveiro da produção de esquentadores eléctricos do grupo, que é agora a única a nível mundial após o fecho da fábrica que tinha na região de Munique.

O mercado vai mudar com a legislação que obriga a renovar por completo o portefólio. Rudiger Saur
Director da unidade de negócios de água quente da Bosch

Num armazém situado no histórico local "onde nasceu a Vulcano", a marca portuguesa comprada pelos alemães nos anos 1980 já fabricou 250 mil aparelhos eléctricos em 2017, vendidos sobretudo para os EUA e Canadá. Embora esteja em crescimento, Rudiger Saur estima que este segmento não vá pesar mais de 15% da produção total em 2020.
 
Inovar para manter fábricas
No ano passado, as vendas da Bosch Portugal aumentaram 37% em termos homólogos, para um novo valor recorde de 1.500 milhões de euros, sendo mais de 90% da produção exportada para 50 países. A área de soluções de mobilidade, concentrada em Braga, respondeu por mais de dois terços (68%) da facturação consolidada. Já a fábrica de Ovar, especializada em sistemas de videovigilância, comunicação e incêndios, foi a terceira que mais contribuiu para esse valor do negócio da sucursal, com 109 milhões de euros.

Carlos Ribas prevê para este ano um "crescimento mais moderado", que não quis quantificar, apontando como prioridade "estabilizar e manter o negócio de forma mais sustentável" no mercado nacional, apostando na investigação e desenvolvimento (I&D) para conseguir "voltar novamente a crescer mais". É que, concluiu o gestor, "é esse investimento [em inovação] que vai assegurar a manutenção e o desenvolvimento das fábricas da Bosch em Portugal".

Recrutar lusos na Venezuela

A Bosch Portugal não escapa à falta de mão-de-obra especializada na área da engenharia, com Carlos Ribas a admitir que "tem vindo a perder muitos bons colaboradores", sobretudo para o Norte da Europa. Para suprir esta escassez, a sucursal começou há cerca de três meses a abordar a comunidade portuguesa na Venezuela, sobretudo os luso-descendentes, convidando-os a vir para Portugal. "Por passa-a-palavra", através de trabalhadores da Bosch que têm família ou já viveram naquele "país [que] está numa situação muito crítica", com esta iniciativa já conseguiu contratar os dois primeiros engenheiros. Outras fontes de recrutamento no estrangeiro têm sido a Índia e Angola, neste caso por via de um programa da Universidade do Minho com congéneres angolanas.

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