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Crise da Evergrande faz afundar vendas do mercado imobiliário chinês
Efeito dominó gerado pela Evergrande continua a atingir mercado imobiliário da China, com as vendas dos principais construtores a caírem mais de um terço em setembro.
As vendas contratadas dos 100 maiores construtores imobiliários da China sofreram um tombo de 36% em setembro para 759,6 mil milhões de yuan (101,8 mil milhões de euros ao câmbio atual) em termos anuais homólogos, refletindo um agravamento da espiral descendente iniciado em julho.
Um relatório da China Real Estate Information Corporation (CRIC), citado esta sexta-feira pela Bloomberg, aponta que 90% dos construtores imobiliários viram as vendas diminuírem em setembro, com 60% a reportar quebras superiores a 30% comparativamente a igual período do ano passado.
Face às atuais regras do mercado, as promotoras precisam de acelerar o desenvolvimento dos projetos, garantir a oferta, reforçar o marketing e acelerar as vendas para poderem recuperar capital no quarto trimestre do ano, apontou Lin Bo, diretor-geral da empresa de consultadoria imobiliária no relatório, de acordo com o jornal financeiro Shanghai Securities News.
"Reduzir a alavancagem vai continuar a ser o foco das promotoras imobiliárias a médio, longo prazo", sinalizou.
Os contínuos esforços da China para arrefecer o mercado imobiliário e controlar os riscos financeiros resultaram numa forte quebra da procura nos últimos meses, apertando em particular com os promotores sobre-endividados, como a Evergrande, e desencadeando receios de que a crise da dívida do gigante imobiliário se alastre. Receios com aparente razão de ser, dado que, há dias, a Fantasia Holdings Group, empresa de média dimensão, focada no segmento dos apartamentos de luxo e em projetos de renovação urbana, falhou o pagamento de um cupão de 206 milhões de dólares aos credores.
As ações das promotoras imobiliárias chinesas estavam em queda esta sexta-feira, com os investidores preocupados com a liquidez, depois de as transações em bolsa relativas à Fantasia terem sido suspensas.
A aversão ao risco entre os investidores de crédito e os bancos chineses tem afetado o financiamento, com as 100 maiores construtoras imobiliárias, como a Country Garden Holdings, a China Vanke e a Evergrande, a levantarem, em conjunto, 85 mil milhões de yuan (11,4 mil milhões de euros) em setembro, ou seja, menos 37% do que há um ano, alongando-se no tempo a tendência de descida iniciada em novembro de 2020. Um cenário que também se ficou a dever aos esforços de alguns promotores imobiliários em limitar os empréstimos de modo a cumprir com as normas regulatórias, de acordo com o relatório da CRIC.
Setembro é tradicionalmente um mês "dourado" para as vendas de propriedades residenciais na China, mas o abrandamento agudizou-se no mês passado. Segundo a Bloomberg, o volume de vendas, em 28 cidades monitorizadas pela CRIC, caiu 25% em termos anuais homólogos. A título de exemplo, em Xangai, Guangzhou e Shenzhen desceu 30%, enquanto em Pequim recuou 45%.
Em sentido inverso, os 100 principais promotores imobiliários da China viram os custos financeiros aumentar para 5,5% em setembro (0,61 pontos percentuais em termos mensais e 0,16 em termos anuais).
Pequim tem tomado medidas para tentar limitar as consequências das restrições que impôs para travar os excessos no mercado imobiliário. No mês passado, o banco central chinês transmitiu uma mensagem às instituições financeiras para que cooperem com os governos para "manter um desenvolvimento contínuo e saudável do mercado imobiliário" enquanto protegem os proprietários dos apartamentos, sem citar diretamente a Evergrande ou dos problemas com que o setor se depara.
Além disso, segundo a Bloomberg, os reguladores pediram aos bancos para evitarem cortar o financiamento aos construtores imobiliários todo de uma vez.
"Olhando para o quarto trimestre, achamos que as empresas vão manter uma estratégia pró-ativa de marketing e talvez oferecer descontos ainda maiores para impulsionar as vendas", antecipa a CRIC no mesmo relatório.