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Brexit “congela” compra de casas dos britânicos no Algarve

No resort Quinta do Lago, na costa algarvia do sul de Portugal, Jamie Robinson está de olho nas reviravoltas das negociações do Brexit a mais de 1.600 quilómetros de distância.

Bloomberg
08 de Fevereiro de 2019 às 16:23
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Jamie Robinson, diretor de vendas imobiliárias do resort que pertence ao bilionário irlandês Denis O’Brien, tem clientes potenciais para os quais muito depende de como o Reino Unido sairá da União Europeia em 29 de março.

 

A Quinta do Lago, com os seus campos de golfe e as suas mansões com vista para o mar que custam muitos milhões de dólares, conta com cidadãos britânicos entre os seus maiores compradores. E como o valor da libra provavelmente dependerá de como o Reino Unido sairá do bloco, sem acordo ou de uma forma mais ordenada, alguns clientes potenciais decidiram carregar no botão de pausa.

 

"Temos compradores do Reino Unido que ainda estão a tentar garantir um imóvel aqui na Quinta do Lago, mas a incerteza por trás da falta de decisão sobre o Brexit está a atrasar alguns dos processos de compra", disse Robinson numa entrevista por telefone. "Se vão trocar grandes valores em libras por euros para comprar imóveis, muitos compradores querem ver um rumo mais definido para a libra."

 

Assim como Robinson, outros corretores de imóveis na costa do Algarve, lar da maior comunidade de expatriados britânicos do país, também realçam a calmaria. O sol, a areia e o golfe levam há muito tempo compradores britânicos de uma segunda casa para o Algarve - que tem cerca de 300 dias ensolarados por ano, dezenas de campos de golfe e várias escolas internacionais -, mas a procura de casas que custam menos de 500.000 euros por parte de britânicos quase desapareceu, de acordo com Zoie Hawker, diretora da Fine & Country Algarve, uma corretora com cerca de 750 imóveis.

 

Isso não quer dizer que todos os britânicos estejam a afastar-se. O número de residentes britânicos registados em Portugal aumentou 18% em 2018, para 26.513, e 22% de todos os passageiros que chegam aos aeroportos portugueses são britânicos, de acordo com o Ministério da Administração Interna de Portugal.

 

Ainda confiante

Laurence Seward, cofundador e presidente da empresa de recrutamento TXM Group, continua confiante de que vai ser fácil vender as quatro casas de luxo que está a construir, inclusivamente  para compatriotas do Reino Unido. De facto, Seward já vendeu uma das casas ao arquiteto das mansões e vai comprar outra para alugar. Seward frequenta o Algarve com a família há mais de uma década, e a sua própria mansão na região ficará pronta em março.

 

"O Brexit afetará algumas pessoas, especialmente aquelas que precisem de fazer um empréstimo", disse Seward, cujas mansões de frente para o mar, que custam 2,2 milhões de euros, ainda estão em construção. "Mas quem tiver fundos disponíveis e estiver à procura de uma segunda casa no Algarve fechará o negócio independentemente do Brexit."

 

Para Gavin Stebbinh, um contabilista britânico de 57 anos, os planos de ter uma propriedade numa localização solarenga rodeada de campos de golfe tem mais importância do que qualquer preocupação com o Brexit. Por isso, no ano passado comprou uma vivenda de seis quartos por 700 mil euros perto da Quinta do Lago.

 

"O Brexit não teve relação com a nossa decisão", afirmou Stebbing, que gosta de jogar golfe com a sua mulher e os seus quatro filhos, numa entrevista telefónica. "É algo que planeámos há muito tempo."

 
Entre os muito ricos e os "nem por isso"

 

Embora os indivíduos de alto património líquido do Reino Unido tenham permanecido muito ativos no Algarve, as consultas de cidadãos britânicos por imóveis mais baratos praticamente desapareceram, de acordo com Hawker, da Fine & Country.

 

"Vemos uma divisão crescente entre os compradores britânicos muito risco e os que não estão assim tão bem, que congelaram os seus planos", afirmou Hawker, que vai começar a vender as mansões de Seward entre Ferragudo e o Carvoeiro.

 

Nem todos os que pensam investir em imobiliário estão à procura de uma casa de férias. Muitos britânicos ainda estão a tentar decidir, antes da data de saída do Reino Unido da União Europeia (29 de março), se se mudam para fora do país ou não, adianta Jason Portes, da Blevins Franks, uma empresa com sede no Reino Unido e que dá conselhos fiscais e financeiros aos expatriados.

 

"O grande problema que temos agora é não sabermos o que vai acontecer", salientou Porter. "Ainda estamos a receber muitas perguntas, mas as pessoas começam a sentar-se à espera para ver o que acontece."

 

Este ano, 17,8% dos britânicos com mais dinheiro tencionam comprar uma propriedade fora do Reino Unido, o que compara com os 18,1% registados em 2018, de acordo com os dados da corretora Knight Frank. França, Espanha, Suíça, Itália e Portugal estão entre os 10 alvos dos investidores britânicos, revelam os mesmos dados.

 

Entretanto, alguns agentes imobiliários dos resorts próximos da Quinta do Lago estão desejosos que o impasse em torno do Brexit termine e que isso se traduza num crescimento dos novos negócios.

 

"Há uma leve desaceleração em termos de negócios imobiliários com os nossos clientes britânicos por causa do Brexit", disse Ana Marques, dona da agência Goldentree Real Estate no resort de Vale do Lobo. "Esperamos que a situação melhore depois de a saga do Brexit acabar."

 

(Texto original: Brexit Endgame Brings Pause in Algarve Villa Sales to Britons)

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