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Portugal deixou definitivamente de usar carvão para produzir eletricidade
Portugal deixou definitivamente de usar carvão na produção de eletricidade, desde sexta-feira, graças ao fim dessa atividade pela Central Termoelétrica do Pego, anunciou este domingo a associação ambientalista ZERO, que espera que o futuro não passe agora por queimar biomassa.
21 de Novembro de 2021 às 12:53
"O futuro da central do Pego não deve passar por queimar biomassa, opção ineficiente que põe em causa objetivos mais ambiciosos de mitigação das alterações climáticas", considerou a organização, em comunicado.
Sábado foi o primeiro dia de produção de eletricidade sem recurso à queima de carvão, depois de a Central do Pego ter esgotado o stock de carvão que tinha, apesar de estar licenciada para funcionar até 30 de novembro.
Para os ambientalistas, é fundamental garantir o enquadramento dos trabalhadores direta e indiretamente afetados e promover soluções que não ponham em causa os ganhos ambientais conseguidos.
Deixar de usar carvão na produção de eletricidade é um elemento crucial da descarbonização, tema que ganhou destaque e causou polémica na conferência do clima (COP26), que terminou no passado fim de semana, com alguns países a recusarem-se a acabar com o uso deste combustível.
A central a carvão do Pego, que era responsável por 4% das emissões do país, foi a instalação com o segundo maior peso nas emissões de dióxido de carbono em Portugal na última década, a seguir à Central Termoelétrica de Sines, cujo encerramento ocorreu em janeiro deste ano.
Em termos absolutos, a média anual de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) pela central do Pego entre 2008 e 2019 foi de 4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
Com a retirada agora consumada das duas centrais a carvão, "Portugal deverá registar uma enorme quebra de emissões de carbono, dado que o recurso a centrais de ciclo combinado a gás natural, caminho temporário para uma solução 100% baseada em fontes renováveis, se traduz em emissões de pouco mais de um terço por cada unidade de eletricidade produzida em comparação com o carvão", assinala a ZERO.
Apesar dos equipamentos de despoluição instalados, a central a carvão do Pego era também uma fonte significativa de emissão de diversos poluentes, como os óxidos de azoto, dióxido de enxofre, partículas e metais pesados, cujas quantidades lançadas para a atmosfera em Portugal sofrerão uma redução importante.
O fim da atividade desta central suscita agora a questão das alternativas, sendo o recurso à queima de biomassa uma das soluções preconizadas, mas que a ZERO alerta não ser "sustentável".
"Trata-se de uma solução ineficiente e contraditória com os objetivos de retenção do carbono na floresta e no solo e não se traduz numa significativa mais-valia face a outras soluções de mitigação climática", afirma.
A associação defende que a concessão do ponto de ligação da Central do Pego deverá ter em consideração apenas projetos que resultem da "utilização de fontes de energia verdadeiramente renováveis e que de forma alguma se coloque a possibilidade de recurso a biomassa, tendo em consideração que esta não é, nem será de forma alguma renovável".
Os ambientalistas alertam ainda para a escassez de biomassa residual florestal em território nacional, atendendo a que num raio de intervenção de 80 quilómetros são já inúmeras as centrais de biomassa e indústrias florestais que competem pela matéria florestal residual.
Acresce ainda que o espírito da proposta recente da Comissão Europeia, de julho de 2021, que faz parte do pacote "Preparados para os 55", é de que "a partir de 31 de dezembro de 2026, (...) os Estados-membros não podem conceder apoio à produção de eletricidade a partir de biomassa florestal em instalações exclusivamente elétricas".
Nessa medida, a ZERO questiona como está e como vai ser aplicado o Fundo para a Transição Justa nas centrais de Sines e Pego e na refinaria de Matosinhos, e defende um plano que fortaleça a vitalidade económica e social das regiões afetadas, promovido pelas empresas envolvidas em colaboração com trabalhadores, autarquias locais, organizações não-governamentais e outras entidades competentes.
"Sem diálogo, concertação social e criação de soluções alternativas atempadas, não estamos de forma alguma a fazer uma transição energética justa", considera a associação, alertando desconhecer, no caso da central de Sines, "o uso de qualquer verba do Fundo para a Transição Justa até agora".