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OCDE pede fim dos benefícios fiscais ao diesel e aos carros mais antigos em Portugal

As recomendações da OCDE passam também por preços das portagens definidos em função das emissões dos veículos, passar para as famílias os custos com os resíduos urbanos através de taxas separadas da conta de água e aplicar o conceito de poluidor-pagador.

Os atrasos na entrega de veículos novos e a reduzida oferta de usados para a elevada procura agrava a situação de dificuldades no segmento automóvel do crédito ao consumo.
Yuriko Nakao/Reuters
14 de Março de 2023 às 12:53
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A quarta Revisão do Desempenho Ambiental (EPR) de Portugal apresentada esta terça-feira pela OCDE diz respeito ao período entre 2013 e 2019 e segue-se às análises anteriores feitas em 2011, 2001 e 1993. No total, apresenta 26 recomendações para ajudar Portugal a trilhar o caminho para atingir a neutralidade carbónica em 2050.

Estas recomendações foram aprovadas em dezembro de 2022 em Paris, com a presença do ministro português do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro. A OCDE quer que Portugal elimine a diferença fiscal entre o gasóleo e a gasolina, e deixe de dar um tratamento fiscal preferencial aos veículos mais antigos, para rejuvenescer a frota nacional (muito envelhecida) e promover a compra de veículos elétricos e híbridos. 

Variar os preços das portagens em função das emissões dos veículos; apoiar a aquisição de veículos elétricos e acelerar a implantação de postos de carregamento no país; passar os custos de gestão dos resíduos urbanos para as famílias através de taxas dissociadas da conta de água; e aplicar de forma mais coerente o conceito de poluidor-pagador são outras recomendações da organização Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, da qual fazem parte 38 países.


Somam-se ainda os conselhos para desenvolver zonas de baixas emissões nas cidades; reduzir o investimento da construção de novas estradas e apostar mais na ferrovia; não dar apoio público a atividades de elevada intensidade de emissões no setor agrícola; e estabelecer metas claras para eliminar progressivamente todos os subsídios aos combustíveis fósseis até 2030.


Na sua intervenção, Duarte Cordeiro, assinalou que o período avaliado pela organização (2013 a 2019), "foi difícil para Portugal", com o pós-troika e muitas adaptações económicas que advieram dessa intervenção financeira no país. Ainda assim, frisou o governante, "mesmo com dificuldades, desde 1993 que o país tem uma avaliação positiiva, relatório após relatório". 

"Há áreas em que temos resultados muito positivos, acima da média da OCDE, que nos permitem acreditar que temos vindo a progredir para conseguir atingir a neutralidade carbónica. No entanto, há outras áreas em que estamos a ficar para trás e ainda temos de trabalhar, como por exemplo no tratamento de resíduos urbanos e na implementação de impostos ambientais no âmbito da fiscalidade verde", disse o governante em resposta aos jornalistas. 

Duarte Cordeiro lebrou ainda a proposta para a criação de um Mercado Voluntário de Carbono em Portugal, para o qual existem já várias propostas de investimento em cima da mesa que impactarão num primeiro momento cerca de 100 mil hectares de floresta.  

Quanto às recomendações da OCDE, o ministro garantiu que são tidas em conta pelo Governo, que tenta implementá-las, transpondo-as para as políticas nacionais. "Portugal é uma referência nas políticas ambientais, mas em alguns aspetos estamos ainda muito atrás e sabemos os desafios que temos pela frente", acrescentou, reconhecendo a "necessidade de reduzir a deposição de resíduos em aterro, aumentar reciclagem, a circularidade da economia e implementar a recolha de biorresíduos, que podem ser um recurso para a produção de biogás". 

"Mesmo com a inflação em alta e outros problemas, temos de fazer este exercício mais rápido. Não temos temos, temos de agir rápido", admitiu Duarte Cordeiro, dando conta que a somar ao novo Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) será também aprovado em breve um novo sistema nacional de depósito de embalagens e reembolso. 

Conheça em detalhe as 26 recomendações da OCDE para Portugal.


I - Desenvolvimento Sustentável

Enfrentar os principais desafios ambientais

  1. Assegurar o financiamento sustentável dos serviços e infraestruturas hídricos, melhorar a capacidade de contabilização dos custos dos municípios e atualizar as tarifas; 
  2. Aumentar as taxas de captação de água para a agricultura; limitar novas licenças de captação em bacias sobrealocadas;
  3. Acelerar a passagem dos custos de gestão dos resíduos urbanos para as famílias através de taxas específicas dissociadas da conta de água;
  4. Desenvolver a recolha seletiva de resíduos;
  5. Aumentar as verbas para a gestão das zonas protegidas no âmbito da nova política agrícola comum 2023-2027;

Reforçar a coerência das políticas para o desenvolvimento sustentável

  1. Assegurar uma implementação transparente e eficaz dos programas financiados com fundos da UE, dando prioridade aos investimentos com o maior retorno social.
  2. Concluir a avaliação da reforma fiscal verde, para uma aplicação mais coerente do princípio do poluidor-pagador;
  3. Identificar apoios potencialmente prejudiciais para o ambiente e eliminar os que não se justificam por razões económicas, ambientais ou sociais;
  4. Colmatar a diferença fiscal entre o gasóleo e a gasolina, suprimir o tratamento fiscal preferencial para os veículos mais antigos, a fim de rejuvenescer a frota e promover veículos menos poluentes;
  5. Variar os preços das portagens em função das emissões dos veículos;
  6. Desenvolver zonas de baixas emissões nas cidades;

II - Neutralidade carbónica

Melhorar a governação da política climática

  1. Aplicar rapidamente a Lei de Bases do Clima. Clarificar as medidas previstas para alcançar os objetivos de 2030, quantificar o seu impacto na mitigação e especificar como serão financiadas.

Alinhar a economia com as ambições climáticas

  1. Estabelecer metas claras para eliminar todos os subsídios aos combustíveis fósseis até 2030;
  2. Passar do controlo dos preços da energia para medidas específicas de apoio ao rendimento não relacionadas com o consumo de energia;
  3. Antecipar as necessidades de mão de obra para a renovação energética;
  4. Apoiar o investimento privado no domínio do clima;

Desenvolver fontes de energia renováveis
  1. Aumentar a utilização de leilões para projetos de energias renováveis;
  2. Incentivar a produção distribuída em pequena escala;
  3. Monitorizar os impactos climáticos na segurança do aprovisionamento energético, incluindo a volatilidade da produção hidroelétrica.

Reforçar a eficiência energética dos edifícios

  1. Trabalhos de renovação com medidas adaptadas a todos os agregados familiares e facilitar o acesso aos apoios existentes;
  2. Incentivar as remodelações profundas, correlacionando os apoios com a redução do consumo de energia gerada.

Reduzir as emissões dos veículos e a dependência do automóvel

  1. Continuar a apoiar a aquisição de veículos com baixas emissões de carbono e acelerar a implantação de estações de carregamento em todo o país.
  2. Transferir o investimento da construção de novas estradas para a melhoria da rede ferroviária.
  3. Integrar a redução da dependência do automóvel nos planos climáticos municipais.
  4. Promover os transportes públicos nas cidades.

Acelerar a ação para reduzir as emissões poluentes da produção agrícola

  1. Aumentar a utilização de incentivos monetários para melhorar a mitigação das emissões e o sequestro de gases poluentes na agricultura;
  2. Ponderar a introdução de impostos baseados no número e tipo de animais e na utilização de fertilizantes;
  3. Pagamento de serviços de ecossistemas no âmbito da nova política agrícola comum;
  4. Desviar o apoio público de atividades de elevada intensidade de emissões no setor agrícola;
  5. Desenvolver uma estratégia alimentar nacional que incentive regimes alimentares sustentáveis e combata o desperdício alimentar.

Aperfeiçoar a estratégia de adaptação do país

  1. Melhorar o sistema de informação relativo às políticas de adaptação às alterações climáticas;
  2. Valorizar as zonas rurais para a mitigação das alterações climáticas e adaptação;
  3. Acelerar o desenvolvimento do cadastro em terras rurais;
  4. Alargar os pagamentos relativos aos serviços ecossistémicos a todas as terras rurais e reforçar a gestão sustentável das florestas;
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