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"Ninguém quer pagar a fatura" da expansão da rede elétrica, diz REN

João Conceição, administrador da REN, defende uma partilha dos custos da rede entre produtores e consumidores de energia. "Se não houver este compromisso, nada avança e os projetos ficam no papel", avisou. Amaral Jorge, presidente da APREN, pede "serenidade" para não afugentar os investimentos em renováveis.

David Martins
29 de Novembro de 2023 às 11:25
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O presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis, Pedro Amaral Jorge, sublinhou esta quarta-feira, na conferência anual da APREN, que o desenvolvimento das redes elétricas para absorver uma maior capacidade de produção de energia limpa "é cada vez mais o elemento crítico da transição energética". Por seu lado, João Conceição, administrador da REN, voltou a sublinhar a questão dos elevados custos desta tão necessária expansão das redes elétricas para suportar o crescimento das renováveis até 2030.

"Sempre que falamos do desenvolvimento da rede, toda a gente concorda que é urgente e imprescindivel. Mas quando apresentamos os investimentos necessários, ninguém quer pagar a fatura. Toda a gente sabe que as redes são necessárias, mas não se faz nada para elas se desenvolverem", alertou, defendendo incentivos económicos e uma partilha dos custos e do risco entre agentes de mercado, como produtores e consumidores. "Se não houver este compromisso, nada avança e os projetos ficam no papel", avisou. 

Quanto ao recente reconhecimento como Projetos de Interesse Comum (PIC) dado pela Comissão Europeia a dois projetos de hidrogénio verde da REN Gasodutos, incluídos numa lista de 166 projetos de interligações energéticas transfronteiriças na Europa, João Conceição mostrou-se cético: "Vamos ver quanto tempo demorará até estes projetos se tornarem realidade. Em 10 anos, quantos serão realidade e quantos se perderão?". questionou. 

Por seu lado, Christian Zinglersen, diretor da Agency for the Cooperation of Energy Regulators (ACER), deixou claro que, "no final do dia, alguém tem de pagar a expansão das rede elétricas na Europa".

APREN pede "serenidade" no país para não afugentar investidores

Em declarações na abertura do evento, Pedro Amaral Jorge, quis deixar claro e garantir que "Portugal foi, é e será sempre um excelente país para atrair investimentos em projetos de energias renováveis", sendo necessário "manter a serenidade" apesar da instabilidade política que se vive neste momento no país e das suspeitas lançadas sobre os negócios do hidrogénio verde e lítio no contexto da operação Influencer. 

"O que os investidores mais precisam é de estabilidade política e regulatória, para melhorar a sua perceção do país", explicou o responsável, lembrando que precisamente no dia 7 de novembro - quando foram realizadas as buscas da operação Influencer e o primeiro-ministro António Costa apresentou a sua demissão - a APREN divulgou um estudo que mostra que "2022 foi um dos melhores anos para as renováveis", por terem permitido poupar 14.000 milhões de euros ao país e gerar um sobreganho para o sistema elétrico. 

Além da atual instabilidade dentro de portas, o responsável sublinha também outros fatores que ainda ensombram o setor energético e podem colocar em risco a transição energética, com destaque para a guerra na Ucrânia e o mais recente conflito entre Israel e o Hamas no Médio Oriente, que prolongam um contexto de instabilidade mundial com impacto direto nos preços da energia. Soma-se ainda a inflação elevada e as taxas de juros em alta, que fazem aumentar o investimento e os custos dos projetos renováveis.

"Foi assim em 2022 e 2023, mas há sinais que nos indicam que no final de 2024 ou início de 2025 o cenário vai melhorar e permitir que a transição energética se faça. É uma urgência para os consumidores e as empresas", frisou Amaral Jorge na abertura da conferência anual da APREN, em Lisboa.

No entanto, para isso é necessário que o licenciamento dos projetos acelere e que exista uma real modernização de todas as entidades envolvidas no processo. "As demoras não acontecem por incapacidade das pessoas que trabalham nessas entidades, mas é necessário agilizar e reorganizar processos, aumentar a digitalização e ter sistemas de informação onde as empresas possam ver qual o ponto de situação dos seus projetos e dar garantias aos investidores", disse o responsável, falando da "tal plataforma eletrónica" da DGEG que está prevista por lei. 

No dia anterior, numa outra conferência da Eurogas, o diretor-geral da DGEG, Jerónimo Cunha, garantiu que esta plataforma já está operacional (e pronta para avançar no caso do leilão de gases renováveis, por exemplo, que o Governo se prepara para lançar) e deixou uma garantia aos promotores de renováveis e investidores que o licenciamento de renováveis vai continuar a acontecer e a acelerar em Portugal, apesar das investigações aos negócios do hidrogénio e lítio.  

Quanto às vozes que se levantam contra a expansão das renováveis no país - seja pelo abate de árvores a que projetos solares e eólicos obrigam, ou outros fatores - o presidente da APREN sublinhou que os projetos de energia limpa também promovem a "renovação da biodiversidade, restaura ecossistemas e ajuda a desenvolver novos habitats de fauna e flora". "Temos de desmitificar aquilo que passam a vida a dizer-nos", disse.

No entanto, aos promotores de projetos renováveis na sala deixou também o alerta que é "necessário um cuidado redobrado na gestão do território nacional" e na concorrência com outras atividades económicas (como a pesca ou a agricultura), para evitar "dar voz a mais reclamações".
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