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Governo quer 5,5 GW de produção de hidrogénio verde em 2030. Zero diz que é exagero

De acordo com o Governo, "a Estratégia Nacional do Hidrogénio será revista, mais do que duplicando a capacidade prevista de eletrolisadores até 2030, de 2,5 GW para 5,5 GW".

Bárbara Silva barbarasilva@negocios.pt 03 de Julho de 2023 às 13:55
Na avaliação feita pela associação Zero em relação à revisão do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), já publicada pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC) e enviada para Bruxelas, "uma das principais diferenças em relação ao PNEC anterior é o papel do hidrogénio" na transição energética do país. Algo que os ambientalistas classificam como "exagero", em comunicado divulgado esta segunda-feira. 

"A injeção de hidrogénio na rede de gás natural é um enorme erro de eficiência e prolonga uso de combustíveis fósseis. A prioridade no uso de hidrogénio verde, produzido a partir de fontes renováveis, deve ser a utilização em sectores industriais onde a combustão a altas temperaturas seja imprescindível e onde tenha lugar uma substituição do uso de combustíveis fósseis por hidrogénio no processo", considera a Zero.

Em comunicado, o MAAC tinha já confirmado que "a Estratégia Nacional do Hidrogénio será revista, mais do que duplicando a capacidade prevista de eletrolisadores até 2030 (de 2,5 GW para 5,5 GW), contribuindo assim para a segurança de abastecimentos no espaço europeu". 

De acordo com o Governo, esta duplicação da elétrólise para 5,5 GW até ao fim da década permitirá: descarbonizar a indústria nacional; atrair novas indústrias que produzem derivados do hidrogénio verde; e exportar hidrogénio verde para a União Europeia.

Os ambientalistas não concordam com este último objetivo e já pediram mesmo à Comissão Europeia para não subsidiar a exportação de hidrogénio. Na visão da Zero, a injeção de hidrogénio num gasoduto, conjuntamente com a atual circulação de gás natural, exige que se produza, pelo menos, mais 30% de hidrogénio, quando comparado com a sua produção local.

"O hidrogénio deve ter um uso limitado e ser produzido junto dos locais onde é consumido, pois transportá-lo é caro, ineficiente e envolve riscos que não foram avaliados. É absolutamente crucial a existência de um plano para o hidrogénio verde para além da atual estratégia relativa a este gás que evite os enormes desperdícios de energia renovável associados à filosofia presente no PNEC", defende a associação.  

Também a secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia, já tinha admitido que a Estratégia Nacional para o Hidrogénio lançada pelo Governo está desatualizada, e avançado que as metas de produção deste gás renovável no país iriam triplicar até 2030.  

"Tínhamos uma estratégia nacional para o hidrogénio verde que neste momento precisa de ser atualizada, porque foi feita num contexto completamente diferente. Os fatores de competitividade do país permitiram-nos atrair muitos projetos da cadeia de valor do hidrogénio verde e neste momento, face à capacidade prevista, poderemos multiplicar a produção por um fator de dois ou de três", disse. 

Até ao final da década o Governo estabeleceu como meta 2,5 GW de eletrolisadores. "Neste momento estaremos a falar do dobro ou do triplo, já com intenções de investimento firmes em Portugal. Precisamos de hidrogénio verde para descarbonizar a indústria já existente, mas também para atrair novas indústrias, como os combustíveis sustentáveis para a aviação", acrescentou. Além disso, o hidrogénio verde está também a ser avaliado no contexto de uma estratégia nacional de armazenamento de energia.

Novo PNEC 2030 com ambições mais fortes, além do hidrogénio 

Com um investimento estimado de 75 mil milhões na estratégia de transição energética em Portugal, do novo Plano Nacional de Energia e Clima o Governo sublinha em primeiro lugar a antecipação em quatro anos da meta de incorporação de energias renováveis na produção de eletricidade.

"Já a partir de 2026, 80% da energia produzida em território nacional será de origem renovável [85% em 2030 ], uma meta que antes estava fixada para o fim da década. Com isto, o país prepara-se para atingir a neutralidade climática em 2045", refere o MAAC em comunicado.

O documento revisto já seguiu para Bruxelas, com a Zero a sublinhar que Portugal foi um dos únicos cinco países que cumpriu a data limite de 30 de junho para a entega do mesmo. "Os trabalhos vão continuar nos próximos meses, sendo que a data limite para submeter uma versão final à Comissão Europeia é o dia 30 de junho de 2024", acrescentou o MAAC.

Entre os objetivos inscritos no PNEC 2030, destaca-se também a descarbonização da economia nacional em todos os setores de atividade, com medidas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 55%, face a 2005, para as seguintes áreas: energia e indústria; edifícios residenciais e de serviços; mobilidade e transportes; agricultura e florestas; águas residuais e resíduos.

A aposta no reforço das energias renováveis também será muito significativa,  promete o Governo: "Até 2030 pretendemos duplicar a capacidade instalada de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis, acelerando a descarbonização e dando resposta às necessidades dos novos investimentos industriais previstos para o país". O PNEC aponta para um aumento da potência proveniente de solar fotovoltaico de 9 GW em 2030, na anterior versão do plano, para 20,4 GW, tendo a parcela de solar descentralizado aumentado de 2 GW para 5,5 GW. 

A Zero elogia esta expansão das renováveis, mas duvida da sua implementação no terreno, tendo em conta "os grandes atrasos que se devem às falhas de licenciamento, principalmente por parte de uma administração depauperada no setor da energia".

Para os ambientalistas, a meta de 35% de eficiência energética até 2030 e redução de energia primária, bem como a redução da pobreza energética são "duas metas falhadas" deste novo PNEC. Além disso, a meta de incorporação de renováveis de 23% nos transportes também é "insuficiente", consideram, pedindo que cresça até 29%.
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