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Chineses da CALB vão investir 2.000 milhões e criar 1.800 empregos em Sines

O investimento previsto pela gigante chinesa de baterias ronda os 2.000 milhões de euros para uma capacidade instalada de quase 43 milhões de células por ano, com uma produção diária de 23.400 células por cada uma das cinco linha de produção.

A refinaria de Sines é, depois do fecho da unidade de Matosinhos, a única grande unidade de processamento de crude em Portugal.
Luís Guerreiro
22 de Janeiro de 2024 às 09:21
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A Agência Portuguesa do Ambiente deu conta que já se encontra a decorrer o processo de licenciamento ambiental do projeto "Unidade Industrial de Baterias de Lítio", promovido pela  China Aviation Lithium Battery Technology (CALB) em Sines, com a consulta pública a decorrer entre 19 de janeiro e 29 de fevereiro. 

O investimento previsto pela gigante chinesa de baterias ronda os 2.000 milhões de euros para uma capacidade instalada de quase 43 milhões células por ano, com uma produção diária de 23.400 células por cada linha de produção. No total, a fábrica terá cinco linhas de produção. Em termos de produção anual de baterias serão 187 mil (com uma capacidade total de 15 gigawatt hora). Em 2028, a CALB prevê ampliar as instalações de Sines, o que vai permitir "escalar de 15 para 45 GWh". Poderá ainda haver ainda uma terceira fase para duplicar a capacidade e igualar a fábrica da Tesla na Europa.  

De acordo com os documentos em consulta pública, a área de implantação do projeto da Unidade Industrial de Baterias de Lítio localiza-se em 91 hectares da Zona Industrial de Logística (ZIL) de Sines, gerida pela aicep Global Parques, e no total terá cinco edifícios, ligados entre si (45 hectares) para a produção de elétrodos, fabrico de células, formação e montagem, embalamento e fabrico de invólucro. A previsão da CALB aponta para a criação de 1.800 empregos (1.679 na produção e 121 na área administrativa; 1.269 homens e 582 mulheres). A fábrica deverá funcionar em regime contínuo, com três turnos diários de oito horas. 

A empresa chinesa estima que a fábrica possa iniciar a produção "até ao final de 2025", com o objetivo de "satisfazer a grande procura dos clientes, nomeadamente da indústria automóvel".

Os documentos colocados em consulta pública mostram ainda que a construção da fábrica da CALB em Sines vai afetar 5,3 hectares de montado, área que vai ser alvo de desmatação, podendo assim implicar o abate de 703 sobreiros e azinheiras. Estão previstas medidas de compensação por parte da empresa.

O projeto conta já com a classificação de "Projeto de Interesse Nacional", atribuído pelo Governo em 2023, o que significa, por exemplo, que será prioritário na ligação à rede elétrica nacional, no âmbito do diploma do "bar aberto" de atribuição de capacidade de ligação em zonas de grande procura, como é o caso de Sines. 

De acordo com o estudo de impacto ambiental, a fábrica será servida por uma linha de eletricidade com cerca de quatro quilómetros de extensão, que fará a ligação à subestação de Sines. A CALB prevê um consumo anual de energia elétrica de 450 GWh.

"Grande parte do consumo de energia será assegurado por uma Unidade de Produção para Autoconsumo (UPAC), constituída
por Sistema de Produção de Energia Solar Fotovoltaica com capacidade de 18 MW, na cobertura dos edifícios da instalação. A CALB assegurará que toda a energia utilizada na fábrica será maioritariamente proveniente de energias renováveis, quer pela
aquisição da mesma com garantias de origem dos comercializadores, quer pela promoção de projetos de renováveis nas
imediações, ou aquisição de energia através de Power Purchase Agreement (PPA). Está previsto um consumo anual de
450.000.000 KWh", refere o resumo não técnico do projeto colocado em consulta pública.

Já no que diz respeito ao consumo de gás natural, está prevista a sua utilização na fábrica de baterias no sistema de caldeira a vapor especial e no sistema de caldeira a óleo para transferência de calor, com um consumo anual de 75 milhões de m3. 

Quanto ao consumo de água, cada vez mais escassa no Alentejo, será abastecido pelas Águas de Santo André, com origem na albufeira de Morgavel, situada em Sines, não estando previstas captações de águas subterrâneas na área de implantação do projeto. A CALB prevê um consumo de 2,2 milhões de metros cúbicos de água por ano. 

O projeto está sujeito aos procedimentos de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), Prevenção de Controlos Integrados de Poluição (PCIP) e Prevenção de Acidentes Graves (PAG). Segundo a empresa, o projeto "representa uma oportunidade para o desenvolvimento económico nacional e global, contribuindo para a transição energética global e para o desenvolvimento do PIB  Nacional e Europeu".

A empresa assinou, em novembro de 2022, um memorando de entendimento com a aicep Global Parques que incluiu a aquisição de "direitos de superfície, com o objetivo de montar uma fábrica de ponta mundial, altamente inteligente, informatizada e automatizada, com zero emissões de carbono".

Ao Negócios a CALB tinha já dito que a "principal motivação" para escolher Portugal, e mais especificamente Sines, para a instalação de uma unidade industrial de larga escala na Europa "foi a localização e o bom relacionamento com a China".

Para estes investidores da segunda maior economia mundial – gigante asiático que controla 67% da refinação de lítio e domina a produção de componentes para baterias elétricas –, "o verdadeiro potencial de Portugal passa também pela cadeia de abastecimento local", pelo que "a vontade de investir no país continua totalmente inalterada" e a CALB continua "a trabalhar em estreita colaboração com as autoridades governamentais portuguesas para garantir todas as condições necessárias".

O projeto de construção de uma fábrica de baterias em Sines estava já em processo de licenciamento ambiental, mas a Agência Portuguesa do Ambiente pediu um maior aprofundamento.

Para a empresa, aquela que será a sua maior fábrica em toda a Europa "deverá começar como um cluster completo de baterias para, em conjunto com as empresas fornecedoras e com "stakeholders" em Portugal, responder às potenciais encomendas de clientes europeus", refere a mesma fonte. Quanto à unidade industrial projetada para Sines, diz que será "altamente inteligente, informatizada e automatizada, com zero emissões de carbono", tratando-se de "um passo fundamental na estratégia da CALB para criar bases industriais na Europa". Numa primeira fase, a fábrica poderá representar perto de 1% do PIB português (com possibilidade de subir para 4% quando entrar em pleno funcionamento), uma vez que todas as suas vendas serão exportações para o mercado europeu.

Na sequência do memorando de entendimento, assinado entre a CALB, cotada na bolsa de Hong Kong, e o Estado português, a 3 de novembro de 2022, o objetivo é que a fábrica comece a operar em 2025 para que, no ano seguinte, as baterias possam estar a "sair de Sines para a Europa para acomodar a carteira de encomendas que [a empresa] já tem até ao final do primeiro trimestre de 2026". A construção do projeto será feita por fases e o valor de investimento não foi ainda revelado.
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